• Coordenador do CTI do HST relata a rotina de tensão e desafios com os pacientes de Covid

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  • 22/06/2020 13:42

    O Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Santa Teresa (HST) é referência no atendimento a traumas, principalmente das vítimas de trânsito em Petrópolis. Na pandemia, foi o hospital que recebeu o primeiro paciente com sintomas no novo coronavírus. A rotina da unidade mudou completamente. Além da doença desconhecida, todos os outros atendimentos de urgência e emergência não pararam. A Tribuna conversou com o médico Carlos Augusto dos Santos, coordenador médico do CTI do Santa Teresa, que relata os principais desafios que os profissionais do hospital têm enfrentado nesse período.

    O profissional de saúde que trabalha dentro do CTI lida com morte quase diariamente. Em geral, são mortes por doenças crônicas e traumas, mas com a covid o cenário é desafiador. “Um percentual expressivo dos pacientes com covid fica nos quartos, quando estão em risco de vida é que vão pra UTI, mediante piora do padrão respiratório. A morte ocorre na UTI. Infelizmente o profissional de saúde convive muito próximo com a morte, porque são doenças críticas. A morte pelo covid traz elementos novos: distanciamento da família e rapidez com que tudo ocorre. Paciente chega acordado, com esforço, e em poucas horas são entubados”, relatou o médico.

    O médico Carlos Augusto dos Santos trabalha há 27 anos no CTI do HTS. Foto: Divulgação

    Com o aumento da probabilidade da chegada do vírus Brasil, e consequentemente na cidade, o hospital organizou um comitê de crise. Há uma unidade a mais de UTIs, a carga de trabalho aumentou, e as equipes passaram por um treinamento. “Acompanhávamos com bastante apreensão de que chegaria aqui. Era questão de tempo enfrentar esse desafio. Tanto que o atendimento já tinha mudado, os pacientes já eram atendidos com EPI diferenciado. Não causou surpresa, mas alertou quando chegou o primeiro paciente”, disse. 

    O Santa Teresa atende os pacientes de trauma de toda a cidade e região, vítimas de trânsito que, em sua maioria, são jovens entre 18 e 29 anos. Entre os meses de março a abril deste ano, a Sala de Trauma do hospital recebeu 173 vítimas de acidentes de trânsito. Já os atendimentos por covid, até a segunda semana de junho, foram 184 pacientes internados. Os acidentes não escolhem a idade ou perfil das vítimas, assim como a covid. 

    “São dias mais difíceis porque recebemos mais pacientes, ou porque teve pacientes com instabilidade. E dias tristes porque perdemos pacientes. Tivemos a maior parte com comorbidades, mas também teve pacientes sem comorbidades. O jovem tem risco baixo, mas esse jovem não pode achar que é invencível. Tem percentual de pacientes jovens sem nenhum tipo de comorbidade que pode não vencer essa condição crítica”, disse o médico. 

    O paciente da UTI dificilmente fica acordado, em geral está lá pela necessidade da ventilação artificial. “Alguns poucos é que ficam acordados, é mais angustiante. Ficam completamente isolados. O que a gente tenta compensar é a presença mais humanizada. O hospital conta com equipe de psicólogos que dão muito apoio. Fazem vídeochamada para que os familiares possam ter a notícia técnica, mas fundamentalmente vejam os pacientes”, contou.

    Há 27 anos trabalhando no CTI do Santa Teresa, para o médico Carlos Augusto as pequenas vitórias são uma recompensa entre tantos desafios. Em todas as altas médicas, sejam as altas hospitalares, ou altas para os leitos em quartos, os pacientes passam por um corredor dos aplausos. Toda vitória é comemorada. “As pequenas vitórias são o que nos revigoram. Ali é a materialização de um esforço para vencer uma doença tão grave. Se tornou uma questão frequente essa salva de palmas, colocando o paciente como um vitorioso frente a uma doença grave. É motivo de sim batermos palmas”, conta o médico.

    A entrada e saída no CTI é um trabalho minucioso. São utilizados quase 10 equipamentos de EPI, entre máscaras, gorros, luvas, pijama, face shield, entre outros. A colocação tem um cuidado rigoroso e a retirada também. Todo cuidado é para garantir que tanto o profissional da saúde quanto o paciente não sejam contaminados. Até agora, o número de profissionais afastados com suspeita ou confirmação da Covid no Santa Teresa foi baixo, o que o médico credita ao bom treinamento dos profissionais à rotina de proteção com o EPI.

    “Percebo um esforço de toda comunidade dos profissionais de saúde, trabalho também no hospital de cardiologia em Laranjeiras, e no Pedro Hernesto e vejo isso. Na própria cidade os outros hospitais, com seus intensivistas, têm inúmeros colegas que coordenam outros CTI que asseguro estarem na mesma batalha que nós”, disse o médico.

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