• Convidados para o Banquete

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  • 11/10/2020 12:00

    Homilia do Mons. José Maria – XXVIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

    A Liturgia deste Domingo apresenta a salvação sob a imagem de um banquete, preparado por Deus, para todos os homens. Um grande anúncio de esperança e de alegria perpassa, do início ao fim, a Palavra de Deus. O texto do Profeta Isaías ( Is 25,6 – 10 ) fala do Banquete de Deus. É uma imagem usada com frequência nas Escrituras para indicar a alegria na comunhão e na abundância dos dons do Senhor, e deixa intuir algo da Festa de Deus com a humanidade, como descreve Isaías: “O Senhor dos Exércitos prepara para todos os povos sobre este monte um banquete de manjares suculentos, um festim de vinhos velhos… de vinhos velhos purificados” ( Is 25, 6 ). O profeta acrescenta que a intenção de Deus é por fim à tristeza e à vergonha; quer que todos os homens vivam felizes no amor para com Ele e na comunhão recíproca; o seu projeto é, então, eliminar a morte para sempre, enxugar as lágrimas de cada rosto, fazer desaparecer a condição de desonra do seu povo, como ouvimos ( cf. Is 25, 7-8 ). Tudo isto suscita profunda gratidão e esperança: “Eis o nosso Deus, de quem esperávamos a salvação” (Is 25, 9 ).

    Tanto no Antigo como no Novo Testamento, o banquete é símbolo da abundância, da vida, da felicidade.

    No Evangelho ( Mt 22, 1-14 ) Jesus fala-nos da resposta que é dada ao convite de Deus – representado por um rei – a participar neste seu banquete. Os convidados são muitos, mas algo de inesperado se verifica: recusam-se a participar na festa, têm outras coisas a fazer; aliás, alguns mostram desprezo pelo convite. Deus é generoso para conosco, oferece-nos a sua amizade, os seus dons, a sua alegria, mas muitas vezes nós não aceitamos as suas palavras, mostramos mais interesse por outras coisas, pomos no primeiro lugar as nossas preocupações materiais, os nossos interesses. O convite do rei encontra, inclusive, reações hostis, agressivas. Mas isto não faz diminuir a sua generosidade. Ele não desanima, e envia os seus servos a convidar muitas outras pessoas. A recusa dos primeiros convidados tem como efeito a extensão do convite a todos, até aos mais pobres, abandonados e deserdados. Os servos reúnem todos os que encontram, e a sala enche-se: a bondade do rei não tem confins e a todos é dada a possibilidade de responder à sua chamada. Mas há uma condição para permanecer neste banquete de núpcias: vestir o hábito nupcial. E, ao entrar na sala, o rei distingue alguém que não o quis vestir e, por esse motivo, é excluído da festa. Gostaria de meditar um momento sobre este aspecto com uma pergunta: como é que este comensal aceitou o convite do rei, entrou na sala do banquete, lhe foi aberta a porta, mas não vestiu o hábito nupcial? O que é este hábito nupcial? Passo a palavra para São Gregório Magno que fará o comentário a esta parábola. Ele explica que aquele hóspede respondeu ao convite do Senhor para participar no seu Banquete, de certa forma, tem a fé que lhe abriu a porta da sala, mas falta-lhe algo essencial: a veste nupcial, que é a caridade, o amor. E São Gregório acrescenta: “Portanto, cada um de vós que na Igreja tem fé em Deus já participou no banquete das núpcias, mas não pode dizer que vestiu o hábito nupcial se não conserva a Graça da Caridade” (Homilia 38,9 ). E este hábito está ligado simbolicamente por dois madeiros, um em cima e o outro em baixo: o amor a Deus e o amor ao próximo. Todos nós somos convidados a ser comensais do Senhor, a entrar com a fé no seu banquete, mas devemos vestir e guardar o hábito nupcial, a caridade, viver em profundo amor a Deus e ao próximo.

    Jesus é o nosso Pastor e convida-nos de mil maneiras a segui-Lo, mas não quer obrigar-nos a acompanhá-Lo contra a nossa vontade. Nisto consiste o mistério do mal: os homens podem recusar esse convite. É o que Jesus nos mostra em Mt 22,1-14.

    O Reino de Deus é comparado ao Banquete para uma festa de casamento. O Rei é Deus que organiza a festa de núpcias de seu Filho (Jesus). Todas as promessas de Deus encontraram seu cumprimento com a vinda de Jesus Cristo. Ele, dirá São Paulo, é o “Sim” de Deus a todas as suas promessas (2Cor 1, 19 – 20). Ele é o “Amém” por excelência ( Ap3, 14).

    Por que é chamado banquete de núpcias? Porque o banquete nupcial é o sinal por excelência da alegria, e a redenção operada por Cristo é “a grande alegria para todo o povo”.  Banquete de casamento, sobretudo, porque Jesus Cristo veio ao mundo para unir a si a humanidade numa maneira tão nova, tão íntima, a ponto de se poder falar de um matrimônio entre Ele e a Igreja (Ef 5,25ss). Muitas vezes Jesus se comparou com um esposo. Ele chama a seus apóstolos “os amigos do esposo”, fala das almas fiéis como se fossem virgens que vão ao encontro do esposo; João, enfim, chama à Igreja “a Esposa do Cordeiro” (Apocalipse) e Paulo chega a afirmar que o matrimônio dos cristãos é um grande mistério, uma realidade linda e profunda, exatamente porque tem por modelo o relacionamento esponsal que existe entre Cristo e sua Igreja (Ef 5, 32s).

    A Esposa é a humanidade inteira… a própria Igreja…

    O Banquete representa a felicidade dos tempos messiânicos. Quem acolhe o convite experimenta profunda alegria… os Servos representam os profetas… os Apóstolos … e todos nós… os Convidados ao longo do caminho…  são os homens do mundo inteiro.

    Os Primeiros convidados não entram na festa: representam os líderes de Israel, preferem seus interesses. Eles, que eram os primeiros, passarão a ser os últimos; outros, os pagãos, tomarão seu lugar.

    Entre os novos convidados havia um que não estava trajado a rigor; um que se encontrava aí por acaso, cujos coração e sentimentos estavam longe: um oportunista, diríamos hoje, ou um parasita.

    Amigo, como entraste aqui? Esta pergunta é dirigida a cada um de nós que nos encontramos na grande sala nupcial que é a Igreja, para o Banquete que é a Eucaristia. Obriga – nos a entrar em nós mesmos e a nos perguntar se não estamos também nós aqui sem a veste nupcial, se não estamos também nós com o coração ausente e a mente perdida atrás dos próprios trabalhos e negócios.

    São Paulo dizia aos primeiros cristãos: Que cada um se examine a si mesmo e, assim, coma desse pão e beba desse cálice (1Cor11, 28).

    A imagem do Banquete é considerada em outros lugares da Sagrada Escritura como símbolo de intimidade e de salvação. “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo”. (Ap. 3,20). Como é a nossa correspondência às mil chamadas que o Senhor nos faz chegar? Como é a nossa oração, que nos garante a intimidade com Deus?

    Rejeitar o convite de Deus é algo muito grave! Perante a salvação, bem absoluto, não há nenhuma desculpa que seja razoável: nem campos, nem negócios, nem saúde, nem bem-estar.

    O Senhor quer que a sua casa fique cheia; a sua atitude é sempre salvadora: “Ide até as encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes. Então os empregados saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons” (Mt 22 , 10). Ninguém é excluído da intimidade divina. Só fica de fora aquele que resiste ao amável convite do Senhor, insistentemente repetido.

    “Ide às encruzilhadas e convidai para a festa todos os que encontrardes”. São palavras dirigidas a nós, a todos os cristãos, pois a vontade salvífica de Deus é universal; abarca todos os homens de todas as épocas. Cristo, no seu amor pelos homens, procura com paciência infinita a conversão de cada alma, chegando ao extremo de morrer na Cruz. Cada homem pode dizer de Jesus: “Ele me amou e se entregou por mim” (Gl. 2,20).

    Desta atitude salvadora do Mestre participamos todos os que desejamos ser seus discípulos. Os empregados saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram… Devemos empenhar-nos, com Cristo, na salvação de todas as almas. Não podemos desinteressar-nos de ninguém.

    Temos de sentir toda a urgência de levar as almas, uma a uma, até o Senhor. A mesma solicitude com que Cristo nos anima e conforta é a que devemos ter em relação àqueles com quem convivemos diariamente, seguindo o conselho de Santo Inácio de Antioquia:  “Leva a todos sobre ti, como a ti te leva o Senhor”.

    Ninguém deve passar ao nosso lado sem que as nossas obras lhe falem de Deus.

    Que Maria Santíssima, invocada, nesse mês, com os títulos de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora Aparecida, interceda por todos nós!



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