• Consumo abusivo de álcool na quarentena preocupa especialistas

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  • 24/05/2020 10:57

    Neste período de distanciamento social muito hábitos que ficavam na rua foram para dentro das casas. O beber socialmente se tornou comum nos lares. E aí que está o perigo, o que era um hábito social pode se transformar em dependência. Em Petrópolis, que já tem um alto índice de jovens e adolescentes com histórico de abuso de álcool e drogas, enfrentar os desafios da dependência química neste período é uma luta diária para as famílias. 

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidas (ONU) vem alertando os governantes sobre o aumento do consumo de bebidas alcoólicas durante esse período, como tem sido visto e incentivado em muitas transmissões pelas redes sociais. “Alguns indivíduos que já faziam uso problemático ou dependentes do álcool e que estavam abstêmios voltaram a beber. Outros que não bebiam bebidas alcoólicas começaram a beber. Aqueles que só faziam uso aos fins de semana estão bebendo todos os dias e outras que têm a dependência de substâncias ilegais aumentaram o consumo de bebidas alcoólicas por conta da dificuldade em adquirir maconha, cocaína, sintéticos e outros”, explica Leandra Iglesias, psicóloga especialista em Dependência Química e Coordenadora Municipal de Políticas sobre Drogas.

    As famílias que tem membros que sofrem com o abuso de álcool e drogas relatam as dificuldades da convivência familiar nesse período. O filho da Vanessa (nome fictício) que hoje tem 16 anos, enfrenta desde os 14 o abuso de álcool e drogas. Há cerca um ano após uma internação no CAPS AD III, ele abandonou o tratamento. O que tornou a convivência familiar ainda mais difícil. Ainda assim, Vanessa deu prosseguimento ao acompanhamento familiar, e na avaliação dela, foi fundamental para que ela aprendesse a lidar com o cotidiano e a dependência do filho. 

    “O Caps foi um marco, antes e depois a lidar com os filhos. Não é o filho que fica doente, é a família inteira. Desenvolvi diabetes emocional por causa disso. Muitas coisas aconteceram com a minha saúde em função do que estava acontecendo com meu filho”, contou Vanessa. Nesse período de distanciamento social, as atividades presenciais no Caps foram suspensas, mas Vanessa mantém contato com os profissionais. 

    Longe do tratamento o comportamento do filho ficou mais disperso e distante da família. “Ele não fica em casa de jeito nenhum. Pedimos pra ficar em casa e não fica, chega com a roupa fedendo a cigarro, não usa máscara. É muito difícil”, disse Vanessa. Ainda que seja menor, a mãe conta que é impossível obrigá-lo a fazer as coisas, e que a convivência tem sido cultivada um dia de cada vez. 

    Leandra Iglesias explica que nesse período a atenção básica a saúde mental deve estar voltada com mais atenção para pacientes e seus familiares. “Em relação aos transtornos mentais, temos nos deparado com um cenário bastante evidente de que as pessoas estão apresentando vários sentimentos, pensamentos e comportamentos fora do controle, seja pelo medo da morte, a ansiedade do hoje e do amanhã, a depressão do isolamento familiar e social, o pânico da contaminação, o enlutamento de famílias que não podem seguir os rituais de despedida e, minimamente, o Estresse Pós Traumático que atingirá, principalmente, os profissionais de saúde”, disse.

    Durante o distanciamento social a assistência tem sido feita remotamente, com pacientes e familiares que precisam dar continuidade aos tratamentos. A Coordenadoria Municipal de Políticas sobre Drogas- CMPAD elaborou uma Cartilha para o Manejo do uso de Álcool e outras Drogas em Tempos de Pandemia. 

    A cartilha aborda os tipos e efeitos das substâncias legais e ilegais, apresenta os sintomas dos transtornos da depressão, ansiedade, medo, suicídio, estresse e sugere algumas “dicas” para lidar com esses transtornos. 

    Como buscar os serviços de saúde mental no município:

    Em relação aos serviços de saúde mental, as atividades em grupo estão suspensas. Mas alguns atendimentos voltados para a atenção à crise estão sendo feitos remotamente pelos técnicos das unidades: CAPS Nise da Silveira (adulto), CAPSi Silvia Orthof (criança e adolescente), CAPS Itaipava, Ambulatório de Saúde Mental, HMNSE (urgência e emergência) e CAPS AD III (álcool e outras drogas). Os agendamentos e informações podem ser obtidos pelo telefone (24) 2246-9198.

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