• Consultório de rua há um ano sem médico

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  • 17/03/2020 08:54

    No carrinho de supermercado estão guardadas as roupas, o cobertor, alguns poucos itens pessoais e também uma bíblia, onde o Valmir Tesch Júnior guarda com cuidado o cartão que consta o número do boletim de ocorrência feito no ano passado após perder seus documentos. Embora sua moradia seja a calçada em frente ao Centro da Cidadania em Itaipava, em um ano, Valmir não conseguiu tirar a segunda via dos seus documentos. Na sua mão esquerda, uma queimadura mal cicatrizada transparece a carência no atendimento a saúde, que segundo ele, não recebe há meses. 

    Desde o ano passado, o Consultório na rua, que dá assistência à saúde da população em situação de rua, está sem profissional médico. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e urgências o atendimento é universal, mas, na prática, a população de rua tem pouco ou nenhum acesso. Valmir queimou a mão há algumas semanas, quando usava álcool para acender uma pequena fogueira para cozinhar. Ele conta que buscou atendimento na UBS em Itaipava, mas não tinha material para curativos. 

    Ainda que ao lado da nova UPA – Itaipava, Valmir só conseguiu uma gaze doada em uma farmácia próxima. Sem médico, a Prefeitura disse que o atendimento está sendo feito momentaneamente nas UBS e urgência. O atendimento nas unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) que é permanente para toda a população, para a parcela que vive nas ruas é muitas vezes restrito. A discriminação e a marginalização da população em situação de rua fecha a porta de acesso a direitos básicos de todo cidadão. 

    Em agosto do ano passado, a Tribuna conversou com Valmir. Na ocasião, ele morava sob uma passarela que dá acesso à estrada, também em Itaipava. Valmir estava na companhia de um casal e da sua cadela Nina. “Minha cadelinha infartou, ela morreu nos meus braços. Ainda sinto muito porque ela era minha companhia, salvei ela do lixo, salvei ela da estrada”, lamentou Valmir. Ele e um casal que vivia debaixo desse viaduto foram retirados, segundo seu relato, por agentes da Concer e a Guarda Civil.

    No centro da região de Itaipava, vivem várias pessoas em situação de rua. Pessoas que tem moradia, mas que pelo desemprego e situações adversas perambulam a maior parte do dia nas ruas. Dormir no NIS (Núcleo de Integração Social) é inviável para Valmir por causa da distância. No local onde mora, já é conhecido dos comerciantes do entorno do Terminal Itaipava e sempre que possível consegue um bico. “Aqui todo mundo me conhece e me ajuda. Eu tenho uma proposta de emprego, mas dependo dos documentos. O senhor disse que se eu tiver o documento ele me dá o trabalho”, contou. 

    No ano passado, a Prefeitura estimava que em Petrópolis tinham cerca de 200 pessoas vivendo em situação de rua. Hoje esse número gira em torno de 140. Segundo a Prefeitura, os números variam por haver grande migração de pessoas do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense. 

    A Tribuna entrou em contato com a Prefeitura por meio da Assessoria de Comunicação e informou o que as pessoas em situação de rua que residem em Itaipava relataram na reportagem, a Prefeitura disse que todos os moradores de rua vêm sendo atendidos normalmente em todo o município. E embora Valmir tenha afirmado que não é assistido há meses, a Prefeitura garante que a Secretaria de Assistência Social (SAS) tem equipes de domingo a domingo, das 9h às 21h, atendendo necessitados. E disse que o centro POP também está de portas abertas fornecendo banho, alimentação e atividades. O Centro POP é localizado na Rua Visconde de Bom Retiro, no Centro. A Prefeitura não informou como é o atendimento à população de rua que vive nos distritos. 

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