• Colonização alemã completa 172 anos e tradição germânica é preservada em Petrópolis

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  • 25/06/2017 06:50

    Há 172 anos começavam a chegar ao Rio de Janeiro os 13 navios que trariam 361 famílias germânicas para Petrópolis. Mal sabiam esses imigrantes que sua vinda traria parte da Alemanha para a cidade que, anos depois, teria sua história marcada pela presença dos colonos. Graças a hábitos perpetuados por eles, Petrópolis é hoje reconhecida enquanto pólo cervejeiro no Brasil e no mundo e por suas atividades que buscam resgatar e fortalecer tradições deixadas pelos alemães.

    A colonização germânica na cidade se deu a partir do dia 29 de junho de 1845 e, de acordo com o historiador Joaquim Eloy, só se tornou possível devido a três grandes nomes: Dom Pedro, que detinha as terras; Júlio Frederico Koeler, engenheiro da província que sugeriu que os alemães fossem trazidos para Petrópolis para fazer parte da colônia e Paulo Barbosa, conselheiro político de Dom Pedro que aprovou a ideia de Koeler.

    “No projeto de ocupação das terras ficou definido que no Centro a distribuição seria feita aos amigos do Imperador, pessoas da relação de Dom Pedro. Já os bairros, desenhados por Koeler, seriam dedicados aos colonos com os nomes dos locais em que eles viviam na Alemanha: Bingen, Mosela, Ingelheim, por exemplo. Somado a isso, havia o fato de que Petrópolis os lembrava de casa por também se tratar de uma região montanhosa. Esses fatores fizeram com que as famílias se sentissem acolhidas” explica Joaquim.

    Preocupados com sua sobrevivência, eles trabalharam para terceiros e estabeleceram atividades em ofícios variados. Por serem típicos artesãos, trabalharam principalmente enquanto carpinteiros e serventes de obras. Além disso, para recordar suas origens, criaram bandas de música e, aos poucos, fundaram entidades associativas para entretenimento no Centro e nos bairros.

    Em 1959, com o intuito de preservar essas tradições, foi fundado o Clube 29 de Junho, associação formada por descendentes de colonos alemães que, desde então, vem buscando enaltecer suas raízes, seja por meio da dança, da gastronomia ou da música. Anualmente são realizadas solenidades no dia 29 de junho em comemoração ao Dia do Colono e, além disso, no mesmo mês, acontece a tradicional Festa do Colono Alemão, a Bauernfest. O evento, que atrai milhares de turistas todos os anos, foi criado para homenagear os descendentes dos colonizadores.

    Emygdia Hoelz, atual presidente do Clube e idealizadora da festa, conta que nunca imaginou que a celebração pudesse tomar tamanha proporção. “Em uma de nossas reuniões sugeri que fosse feita uma quermesse. Em 1893 realizamos a primeira edição e, desde então, a realizamos todos os anos. Jamais pensei que, anos depois, se tornaria a segunda maior festa do país no gênero”.

    Uma das preocupações de Emygdia é preservar a festa para que ela não se descaracterize e perca sua essência. “A cidade foi colonizada pelos alemães então acho que é uma história que não pode morrer. Temos que lutar para preservar a cultura alemã. Afinal, é uma cultura muito bonita. Eu e o Clube buscamos preservar o evento para que ele não perca seu cunho cultural. Nós lutamos para que ele permaneça no Palácio de Cristal. Lá eram feitas pequenas celebrações aos fins de semana pelos colonos. Eles o viam como uma maneira de manter seus laços. Acho que nada mais justo do que a festa também acontecer lá”.

    A influência da colonização germânica no turismo da cidade

    Ainda hoje a cultura alemã tem seus traços preservados em Petrópolis e, como menciona a consultora em turismo e hospitalidade, Evany Noel, a Bauernfest atua enquanto agente impulsionador para que outras manifestações e produtos culturais surjam. Dentre eles destacam-se o canto coral; a gastronomia, presente em empresas tradicionais como a Casa do Alemão, a Willemsem e o Katz; além dos grupos folclóricos e do pólo cervejeiro, que a cada vez mais cresce na cidade.

    “Petrópolis é um destino turístico consagrado no mercado e que foi escolhido em 2007 pelo Ministério do Turismo como um dos 65 destinos indutores do turismo no Brasil. Apesar disso, a cidade tem buscado diversificar suas atrações. Afinal, a inovação é um importante fator de competição no mercado. A disponibilização de novos produtos motiva as pessoas a retornarem ao local ou a permanecerem nele por mais tempo” informa Evany.

    Tendo em vista esse espírito inovador, novas programações têm sido incluídas na agenda cultural local para que públicos diversificados se sintam motivados a conhecer a cidade e sua história. Exemplo disso é o “Café do Colono Alemão”, atividade que surgiu no ano passado e que busca contar a trajetória não só da colonização alemã em Petrópolis, mas também da Igreja Luterana fundada pelos colonos. Os turistas têm acesso à música e a alimentos típicos que são produzidos e disponibilizados pelos próprios descendentes alemães.

    Nos últimos anos, outra questão que vem sido reforçada é a importância de Petrópolis enquanto pólo cervejeiro. A cidade, sede da primeira cervejaria do país e que, inclusive, foi fundada por um alemão, abriga hoje dezoito marcas. De acordo com Rolf D´Ottenfels, presidente da ACERJ, Associação de Cervejas e Cervejeiros do Rio de Janeiro, algumas fábricas chegam a atingir uma produção de mais de dois milhões de litros de cerveja por dia. Somado ao rendimento das fábricas, está a Feira Deguste, que tem ajudado a fortalecer a economia por permitir a divulgação dos produtos por parte de seus produtores e também por fortalecer os laços entre os clientes e as empresas.

    Evany ressalta a ideia de que o turismo é uma cadeia produtiva em que a união entre determinados setores é essencial para que se atinja o sucesso: “A cultura germânica influencia o turismo local, mas para que aquela se torne um produto turístico é preciso que ela seja oferecida ao público, colocada no mercado. E para que isso ocorra é importante que haja um elo entre o setor público, a iniciativa privada e a comunidade”. 

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