• Casa Schanuel: onde o pedalar fez lugar

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  • 07/10/2019 15:25

    Destemido e decidido, não demorou a perceber que, em cima da bicicleta, para estar em constante movimento é preciso manter o equilíbrio. No começo sem saber onde frear ou quando acelerar, se lançou à ciclovia. Aos 20 anos assumiu a Casa Schanuel e, no próprio ritmo, entendeu que pedalar não é apostar corrida.

    Ainda jovem ‘Carlinhos’ teve que começar a andar e a amadurecer por conta própria. Sem experiência prévia, assumiu o guidão e passou a gerenciar a Casa Schanuel dias após a morte do pai. Diante de um dos maiores obstáculos que poderia prever, Carlos Alberto Schanuel, de 75 anos, conta como encontrou as rodinhas auxiliares de que precisava.

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    “Até hoje digo que não fui eu que fiz, e sim o velho lá em cima. Acho que foi ele que me guiou. Faço aniversário no dia 2 de julho. Meu pai faleceu no dia 23 do mesmo mês e tive que assumir a Casa no dia 25. Meu irmão, Luiz Alberto, tinha 13 anos e tive que assumir tudo sozinho. Por sorte os funcionários me apoiaram muito”.

    Entre quedas e arranhões, ‘Carlinhos’ descobriu ainda cedo que quando a queda é inevitável, o melhor a ser feito é saber como cair para se machucar menos. E, assim, antes que se desse conta já pedalava com tranquilidade. Não se via preso ao guidão, mas como extensão dele e do negócio fundado pelo pai.

    “No começo apanhei muito, mas devagarinho fui chegando no lugar. A Casa começou com o conserto e a importação de bicicletas. Naquela época tinha muita entrega de açougue e armazém feita de bicicleta, então essa turma toda ia lá fazer o conserto. Mais tarde passamos a comercializar também tintas, pelo que acabamos nos tornando conhecidos”.

    Bem sucedida, a atuação do hoje aposentado no ramo foi tamanha que resultou na inauguração de outras seis lojas especializadas em tintas no Centro de Petrópolis, em Itaipava e Teresópolis. E ainda que a Casa Schanuel tenha interrompido as atividades em 1992, as histórias da qual foi pano de fundo continuam a ser escritas.

    “Comprei muito material na Schanuel para reformar a casa em que eu morava no Valparaíso e que hoje pertence à minha filha. Já são quase 50 anos de amizade com o Carlinhos. Ele como meu cliente no Banco Nacional, onde fui gerente, e eu como cliente dele na loja. Carlinhos sempre foi companheiro, honesto e trabalhador”. 

    Tendo cativado o diretor-financeiro Oldemar Villas Bôas, de 81 anos, foi o aposentado Carlos Alberto o também responsável por levar cor aos dias de Pedro Henrique de Oliveira Carvalho, de 72 anos. Isso quando Pedro ainda não sonhava em comprar tintas e era cliente, simplesmente, das caronas do colégio para casa dadas por Carlinhos.

    “Fizemos o ginásio todo juntos. Eu morava no São Sebastião e ele no Siméria, então sempre me dava uma carona num belo Fairlane 500. Já adulto comprei durante muitos anos com eles. Era uma loja fantástica, de atendimento maravilhoso. Eu gostava muito de lá. Ainda me lembro do mostruário, de tudo separado por marca”.

    Atual fachada da antiga Casa Schanuel. Foto: Alexandre Carius

     

    Sem ré nem piedade

    Pioneira no ramo das tintas e no setor automotivo, a Casa Schanuel mantinha as engrenagens funcionando. No caso do aposentado Paulo Roberto Pereira Vasconcellos, de 66 anos, era seu sustento a máquina mantida em movimento a partir da compra do material de trabalho no estabelecimento. 

    “Naquele tempo a Schanuel era uma das lojas mais importantes na área. Meu pai, Sebastião, era pintor de imóveis e, depois, passou a pintar também automóveis. Eu, como filho dele, acabei aprendendo e montando uma oficina no Bingen, onde trabalhava como lanterneiro e pintor. Durante muitos anos fui freguês da Casa Schanuel”.

    Semelhante ao que aconteceu com Paulo Roberto, pode-se dizer que foi guiado pelo pai que Carlos Alberto deu suas primeiras pedaladas rumo à trajetória profissional. Sua prima, a petropolitana Suelena Ratto, de 63 anos, relembra a forma como o prazer de estar na condução sempre superou qualquer medo da instabilidade que ‘Carlinhos’ viesse a ter.

    “Ele ainda era um menino. Um menino que não foi acostumado a ter a responsabilidade de estar a frente do negócio e, que de repente, teve que se virar. Para ele foi bastante complicado, mas a gente viu o esforço dele ser recompensado. Era um ponto de referência. Todo mundo comprava na Schanuel”.

    E ainda que não fosse comprador da loja, a Casa dava seu jeitinho de chamar a atenção de quem por ela passava. Para o jornalista Demétrio do Carmo, de 45 anos, o chamariz era o robô feito de latas posicionado estrategicamente na porta do empreendimento. “A loja ficava no meu caminho para a escola. Eu tinha meus oito anos, por aí. A meninada adorava”.

    Tal qual a bicicleta, a Casa Schanuel não tinha ré, mas ainda assim oferecia a possibilidade de pedalar e, em seu próprio ritmo, saber onde frear e quando acelerar.

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