• Campanha estimula diálogo sobre o suicídio

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  • 26/09/2016 16:02

    Você já ouviu falar no Setembro Amarelo? A Campanha, que no país é encabeçada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina visa chamar a atenção para a necessidade de se levar a depressão à sério e prevenir o suicídio, mostrando que é possível evitar a prática. No Brasil, o índice de suicídios na faixa dos 15 a 29 anos é de 6,9 casos para cada 100 mil habitantes, uma taxa relativamente baixa se comparada aos países que lideram o ranking – Índia, Zimbábue e Cazaquistão, por exemplo, têm mais de 30 casos. O país é o 12º na lista de países latino-americanos com mais mortes neste segmento.

    De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. E para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas. Para a faixa etária de 15 a 29 anos, apenas acidentes de trânsito matam mais. Analisando as diferenças de gênero, o suicídio é a causa primária de mortes para mulheres neste grupo.

    O Brasil, neste ponto, passa pelo fenômeno oposto: índice de suicídios nesta faixa etária para mulheres é de 2,6 por 100 mil pessoas, mas a taxa salta para de 10,7 entre a população masculina. Mas, entre 2010 e 2012, o mais recente período de análise de dados da OMS, o índice feminino cresceu quase 18%.

    Em termos globais, uma variação chama atenção: 75% dos suicídios ocorrem em países de média e baixa renda. E as diferenças socioeconômicas parecem ter impacto mais forte entre adolescentes. 

    A motivação unânime para o suicídio é a doença psiquiátrica. Dentre as pessoas que tentaram suicídio, 90% eram portadoras de transtornos psiquiátricos e, destas, 35% sofriam de depressão. A Associação Brasileira de Psiquiatria trabalha intensamente para quebrar os tabus que cercam a doença e alertar pacientes e, principalmente, familiares para a importância da questão e a necessidade de estar alerta para os sintomas. “O importante é quebrar o tabu e não ter medo de falar sobre o que está acontecendo. A família precisa estar atenta para a pessoa que muda repentinamente de comportamento e deve ter coragem de perguntar o que está acontecendo. Falar sobre o suicídio não estimula a prática. Muito pelo contrário. Ajuda a evitar”, explica o psiquiatra e membro da ABP, Eduardo Birman.

    O grande desafio para alguns pacientes é perceber os sintomas. Muitas vezes ele sabe que há algo errado, mas não consegue entender o que é. “Para mim ela veio depois de um trauma. Eu tinha 26 anos de idade. Ela começou com uma dor no peito e um medo sem razão. Eu tinha horror, principalmente, da noite. Quando começava a anoitecer eu já ficava inquieta. Apesar disso, eu não tinha noção de que havia algo errado. Os sintomas foram progredindo e eu passei a não conseguir tomar banho e nem dormir sozinha. Só tomava banho com a minha mãe sentada dentro do banheiro. Só dormia com ela do meu lado. Minha cabeça pensava tanto que eu ficava exausta. Cheguei a passar uma semana inteira sem dormir. Andava como um zumbi. Lembro que eu costumava dizer que minha cabeça pensava tanto que eu tinha vontade de batê-la contra a parede”, conta uma paciente que prefere não ser identificada.

    No caso dela, quem percebeu que havia algo errado foi a mãe. Ela buscou uma psicóloga que explicou que a filha sofria de transtorno de ansiedade e depressão. “Eu fui à psicóloga a pedido da minha mãe e foi ela que me explicou que eu precisaria de um suporte psiquiátrico. Levei um tempo para aceitar. Era um tabu”, completa a paciente, que hoje tem 38 anos de idade.

    Com terapia e medicação correta ela conseguiu passar a levar uma vida normal. Hoje sabe que terá que tomar a medicação para o resto da vida, mas compreende que o remédio lhe dá qualidade de vida. “Já tentei retirá-lo, só que sem ele eu não consigo sequer sair da cama. Com o tempo eu entendi que o remédio me dá qualidade de vida. Eu preciso dele para ter uma vida normal e não tenho qualquer preconceito. Hoje trabalho, me divirto, cuido da minha vida e ainda ajudo a alertar outras pessoas sobre a importância de tratar a depressão. Minha vida é completamente normal e eu sei que tenho uma doença crônica como qualquer outra”, diz.

    Depressão pode ser causada por desequilíbrio bioquímico no cérebro

    Há muitas formas de se enxergar a depressão mas, todas elas convergem para um só ponto: trata-se de uma questão médica e que requer um tratamento adequado. A causa é multifuncional e inclui questões genéticas, neuroquímicas e fatores extressores. “A depressão é uma síndrome psiquiátrica que se caracteriza pela falta de energia, perda de interesse em atividades, perda do prazer pelas coisas da vida, aumento ou diminuição no apetite, alterações de sono”, explica Birman.

    Dr. Eduardo concorda que ainda há muito preconceito sobre a doença. “O paciente percebe que está com o humor deprimido, mas por falta de informações e, até mesmo por preconceito, evita buscar ajuda. No caso do suicídio ele não quer dar fim à vida, mas sim terminar com o sofrimento que está sentindo. Conversar e tratar adequadamente ajuda”, explica. O psiquiatra também esclarece que a depressão tem sintomas físicos, como dores crônicas sem causa aparente e um mal-estar físico. “Literalmente, a depressão dói, e essa dor não é apenas psíquica”, completa.

    Para o professor, a ajuda da família e de amigos é fundamental para ajudar a identificar o problema. Segundo ele, há mudanças de comportamento que devem ser observadas, como o isolamento ou a perda de interesse por atividades que, antes, a pessoa gostava. “Uma pessoa que gostava de conversar, de repente, começa a preferir ficar no quarto. Isso já é um sinal de alerta”.

    O tratamento deve ser feito por meio de medicação e psicoterapia. O paciente pode ter apenas um episódio de depressão ao longo da vida e se curar ou apresentar um segundo episódio. Esse é um alerta para a cronificação da síndrome e, neste caso, o tratamento pode precisar ser feito por toda a vida do paciente. “Nestes casos o paciente vai tratar da depressão como qualquer outra doença crônica. O importante é quebrar o preconceito e falar”, completa.


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