• Bullying: a melhor forma de prevenção é a informação

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  • 22/09/2018 06:00

    Sob o disfarce de uma brincadeira, o bullying pode causar muita tristeza, angústia e isolamento para a criança ou o adolescente que são vítimas. A cada dia mais, pais e educadores têm tentado estar atentos a atitudes e comportamentos que podem sinalizar que alguma coisa não anda bem. Nessa hora, o diálogo empático pode ser a chave para frear uma conduta violenta ou, melhor, prevenir situações que geram o bullying.

    Caio Fernandes, de 33 anos, conheceu o bullying antes mesmo de saber que esse era o nome dado aos apelidos pejorativos que recebeu na escola, desde o ensino fundamental. A primeira vez que foi chamado de “bichinha” devia ter uns 14 anos. Por ser mais tímido e não se envolver muito nos esportes, como os outros garotos da mesma idade da sua classe, foi rotulado como homossexual. 

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    “Na época eu nem pensava nisso. Era uma coisa que me chateava, porque me deixava envergonhado. Mas eu não levava isso como bullying. Me afastei de muita gente por causa desses apelidos e acabei fazendo amizades que me ajudaram, na época, a tentar não me importar com aquilo”, contou.

    O primeiro apoio: a empatia. Na escola, Caio fez novos amigos que foram como uma rede de apoio para que os apelidos pejorativos sobre sua sexualidade não o machucassem. “Como nem eu sabia nomear aquela implicância comigo, acho que meus professores poderiam até notar as brincadeiras, mas eles também não estavam preparados para intervir”. 

    “O bullying começa quando você pega uma característica da criança e potencializa ela. Faz com que a criança fique reduzida só àquela característica. Isso normalmente ocorre com pessoas que têm características de uma minoria”, destacou a psicóloga Flávia Teixeira. 

    A tal implicância durou até o fim do ensino médio. Em casa, ninguém notou também. “Nunca falei disso em casa porque não tinha assumido minha homossexualidade. Então aguentava quieto as perseguições. Não vou dizer que foi saudável passar por aquilo, embora eu conheça muita gente que fala que o bullying faz parte da infância na escola. Pra mim foi vergonhoso, e hoje entendo o que foi que passei, tenho mais consciência”.

    A escola não é o único lugar onde acontece o bullying, mas, infelizmente, é o local que acaba concentrando a maior parte dos casos. “Tratar do assunto nas salas de aula e promover rodas de conversa: tudo isso contribui para que haja uma mudança de atitude. Muitas dessas crianças e adolescentes vivem em contextos violentos, têm atitudes reprimidas em casa, e na escola acabam reagindo”, disse a pedagoga Bianca Caetano.

    Além do viés pedagógico, o bullying também passa pelo psicológico. Devido à vulnerabilidade da criança, é mais comum que os comentários negativos a afetem com mais facilidade do que quando ocorre com um adulto, explicou a psicóloga. 

    “Tudo o que a criança vive na infância a está marcando de alguma forma. Se durante sua infância escuta palavras que encorajaram, mostraram as potencialidades, a probabilidade de se tornar um adulto mais confiante, conseguir se colocar melhor no mundo e estabelecer relações pessoais saudáveis é maior. Mas se a criança passa a vida inteira escutando que é burra, incapaz, pode ser que  acredite naquilo e quando adulto desenvolva algum quadro psicológico como consequência”, destacou. 

    O acolhimento tanto dos docentes quanto dos outros alunos é uma forma de prevenção ao bullying. Para a pedagoga Bianca, a melhor ferramenta é a informação, o diálogo. “O trabalho de prevenção deve começar na comunidade. No pedir desculpas por ter feito alguma atitude que prejudicou o outro, entre outros. As escolas não estão fechadas para o tema, mas é importante  refletir junto com as equipes nas escolas para atuar juntos”. 

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    Em 2015, a Lei Federal nº 13.185, instituiu o Programa de Combate ao Bullying, ou Programa de Combate à Intimidação Sistemática, como é chamado na legislação. No texto, o bullying é definido como todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

    Já neste ano, a Lei 13. 663/2018 acrescentou dois incisos ao artigo 12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Eles determinam a promoção de medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente o bullying, assim como estabelecer ações destinadas a promover a cultura da paz nas escolas. 

    “É necessário tratar dessa temática nas escolas usando recursos que criem interação entre os estudantes, como apresentação de filmes, músicas – a partir de gêneros musicais como o rap – e literatura. O mais importante é nomear as situações. Brigas, discussões, isso nem sempre é bullying, mas se esse comportamento é repetitivo, aí sim tem que ser observado”, completou a pedagoga. 

    Rede municipal de ensino mantém ações de prevenção ao bullying

    Segundo a prefeitura de Petrópolis, as escolas da rede municipal promovem atividades constantes com os alunos sobre o bullying, principalmente nas turmas do ensino fundamental. A Secretaria de Educação implantou, em 2017, o projeto “Minha escola tem bullying?”, pais e alunos receberam informações sobre a prevenção e as consequências psicológicas e jurídicas do bullying no ambiente escolar. Também mantém, desde o ano passado, o Programa Municipal de Pacificação Restaurativa – Petrópolis da Paz – com base na Lei Federal 13.140/2015. 

    O programa desenvolve o Projeto de Mediação Escolar, junto com o Projeto de Mediação Comunitária, tem o objetivo de atenuar as relações conflituosas nas escolas da rede municipal como política pública indispensável para a implementação e manutenção efetiva da cultura da paz. O Liceu Carlos Chagas é um dos polos onde o programa atua diretamente – através da mediação de conflitos entre os alunos. 

    Nesta semana, durante a 1° Semana da Mediação – na terça-feira será realizado o seminário “Mediação Escolar” na Universidade Católica de Petrópolis, campus BC, das 9h às 13h, onde o tema também será abordado. Professores, orientadores e diretores podem se inscrever no seminário.

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