• Beleza de um lado, abandono do outro

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  • 26/11/2017 07:00

    Conhecida nacionalmente como um dos 65 destinos indutores do turismo regional, Petrópolis se destaca pelas suas belezas naturais e arquitetônicas. O casario do Centro Histórico chama a atenção, infelizmente não apenas pelos seus encantos, mas pela falta de conservação de alguns imóveis. Quem anda pelas principais ruas do centro ainda se depara com imóveis em péssimo estado de preservação. O cenário revela a falta de compromisso dos proprietários e a ausência de medidas mais enérgicas do governo municipal e dos órgãos de preservação.

    "O turista vem a Petrópolis por causa dos seus encantos, para apreciar a sua beleza. Poucas cidades ainda conservam seus casarões e é este o nosso diferencial. Existem mecanismos para incentivar e obrigar os proprietários a cuidarem dos seus imóveis, eles precisam ser colocados em prática", comentou o arquiteto e coordenadora do curso de arquitetura da Universidade Estácio de Sá, Adriano Gomes.

    O arquiteto cita dois imóveis como os casos mais emblemáticos de abandono e falta de preservação: antiga agência do Banco do Brasil (esquina das ruas do Imperador e Alencar Lima) e casarão Franklin Sampaio (na Praça da Liberdade). “O casarão pertence a um banco, que teria totais condições de fazer a manutenção do imóvel”, ressaltou o arquiteto.

    O imóvel está fechado há cinco anos, depois que a agência fechou as portas. Após rebocos caíram na calçada, o Banco do Brasil instalou tapumes de madeira, mas a recuperação do casarão construído em 1926, nunca aconteceu. O imóvel é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) que em nota afirmou que "está tomando todas as medidas cabíveis para a restauração do mesmo". Ainda de acordo com o Inepac, foi dado um prazo de 30 dias para que o banco inicie as obras, e no caso de descumprimento, haverá ajuizamento pelo estado de ação judicial". O Banco do Brasil não respondeu sobre o início das obras.

    O outro imóvel citado pelo arquiteto é o casarão da família Franklin Sampaio, localizada na Praça da Liberdade, área nobre da cidade. Construído em 1874, o abandono no local é visível. Janelas e portas já foram roubadas, e o telhado está em ruínas. "Há cerca de 10 anos fiz um levantamento desse imóvel, que pra mim deve ter sido um dos mais luxuosos  da cidade. Naquela época, a casa ainda contava com mobiliário, tapetes, cortinas, louças, quadros, lustres. Até um Cadilac e uma carruagem estavam na garagem", contou o arquiteto.

    Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o casarão está fechado há décadas e conta com uma dívida de IPTU superior a R$ 72 mil, além de inúmeros processos movidos pelo Ministério Público Federal (MPF). O imóvel, que foi sede do governo do Estado entre 1894 e 1897, há um século chegou às mãos da família Sampaio e ainda não tem perspectiva de ser recuperado. 

    Em nota o Iphan respondeu que um projeto de restauração foi apresentado por um empreendedor (cujo nome não foi revelado) e está sendo avaliado pelo órgão. Além disso, segundo o instituto, este empreendedor estaria "em busca de patrocínio para a restauração do imóvel".

    "Nossa cidade é única, onde natureza e arquitetura se aliam. Tem que haver essa preservação. As leis de tombamento são importante para manter a história viva, se não fossem elas toda essa área onde fica a Casa Franklin Sampaio já estaria tomada por prédios. Mas só o tombamento não adianta é preciso estimular a preservação e acima de tudo, fiscalizar. Esses imóveis tem uma função social, não podem apenas ficar fechados", enfatizou o arquiteto.

    Adriano lembrou de um imóvel na Estrada União e Indústria, em Corrêas. Conhecido como Casa do Barão de Saavedra, foi projetada entre 1942 e 1944, pelo arquiteto Lúcio Costa, personagem central do movimento moderno no Brasil e um dos mentores da preservação do patrimônio histórico e artístico nacional. Tombada pelo Inepac, o imóvel está a venda. "Essa casa é uma joia da arquitetura modernista e tem inclusive um painel do Portinari. São essas peculiaridades que tornam Petrópolis única e atrativa para o turismo", disse o arquiteto.

    O proprietário do imóvel, que preferiu não se identificar, disse que ainda não há interessados pela compra do casarão. Ele também não revelou qual o valor que está pedindo pela propriedade de 50 mil metros quadrados (casa e terreno). "Manter um imóvel tombado é muito complicado e vendê-lo é ainda mais, pois há uma série de restrições. Temos um projeto aprovado pelo Inepac, mas há uma enorme dificuldade", lamentou o proprietário.

    O jardim da propriedade, que foi projeto por Burle Marx, é tratado conforme os conceitos do paisagismo moderno, conta com pomar, horta, gramado, piscina e estacionamento. O tombamento, que data de 1992, inclui os jardins, a residência principal com pintura mural de Cândido Portinari, porteira, pavilhão de piscina e anexos de serviço e cocheira.

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