• Atrasos em repasses do Estado podem ameaçar tratamento de câncer na cidade

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  • 31/08/2016 10:05

    Os cerca de dois mil pacientes de câncer de Petrópolis e cidades vizinhas que são atendidos em clínicas petropolitanas correm o risco de ter o tratamento interrompido em razão da grave crise do setor, que não recebe do Governo do Estado, por serviços prestados, desde meados do ano passado. A falta de recursos já está influenciando na manutenção de equipamentos.

    O tratamento de radioterapia feito no Centro Regional de Radioterapia (RadioSerra), por exemplo, que atende a 90 pacientes por dia, foi interrompido da última quinta-feira até ontem. O equipamento teve uma placa danificada e só voltou a funcionar porque a RadioSerra conseguiu comprar a peça, avaliada em 15 mil dólares, o equivalente à cerca de R$ 52 mil, com prazo especial oferecido pela fornecedora. Sem receber o que lhe é devido, a instituição informa que não sabe como vai fazer o pagamento da peça.

    “Estamos cumprindo com a nossa obrigação, que é a de consertar a máquina e não deixar de atender. Os pacientes não podem ficar sem o tratamento, porque os tumores não param de crescer. Estamos no limite das nossas despesas e, felizmente, a empresa deu um prazo maior para pagarmos a peça. Mas, precisamos que a verba proveniente da Secretaria Estadual de Saúde volte a ser repassada”, disse o médico Carlos Eduardo Veloso.

    Fundamental para os pacientes que estão passando pelo tratamento do câncer, a radioterapia utiliza a radiação ionizante para prevenir ou tratar o aparecimento de tumores em determinadas áreas do corpo.

    A RadioSerra, que funciona no Centro de Terapia Oncológica (CTO), possui duas máquinas de radioterapia. A placa de um dos equipamentos foi danificada durante uma sessão de radioterapia. "Um dos pacientes urinou durante o procedimento e a urina acabou chegando na placa.


    Meses de atraso 

    Na última semana, a Secretaria Municipal de Saúde denunciou, na reunião do Conselho Municipal de Saúde, que o governo do estado está devendo a Petrópolis cerca de R$ 2,2 milhões relativos à parte da manutenção dos serviços de tratamento de câncer, de sua responsabilidade, na cidade. O teto mensal com o serviço de quimioterapia e radioterapia que deveria ser repassado a Petrópolis é de R$ 407.534,95 mil, além do extrateto, cujo valor é variável, conforme o atendimento.

    Questionada, a Secretaria estadual de Saúde não se pronunciou.

    Durante a reunião do Conselho Municipal de Saúde, o secretário de Saúde, Marcos Curvello, esclareceu que, desde o ano passado, a secretaria de Saúde do município tem se comunicado com a Secretaria Estadual de Saúde, cobrando o repasse dos recursos e que agora, com o agravamento da situação, pediu apoio do Conselho. Os conselheiros aprovaram um documento de repúdio ao governo do Estado e estão encaminhando ofícios para diversos órgãos, cobrando o pagamento imediato da dívida. Além disso, a secretaria já encaminhou documento ao Ministério Público Estadual, pedindo intervenção. 


    Pausa pequena no atendimento da radioterapia não prejudica pacientes

    Apesar de a máquina ter ficado parada por três dias, a pausa no tratamento dos pacientes não os prejudicará, segundo o médico Carlos Eduardo Veloso. “Não faz diferença no tratamento, porque a pessoa já fica no sábado e domingo sem passar pelo procedimento. Essa pausa faz parte do tratamento e a radiologia já leva em consideração esse tempo. Por isso, os pacientes não foram remanejados para a outra máquina. Todas as secretarias de Saúde dos outros municípios foram avisadas e os pacientes de fora de Petrópolis voltarão a ser atendidos normalmente a partir de hoje. É lógico que, se o conserto da máquina demorasse muito, mudaríamos o esquema de atendimento para não prejudicar nenhum paciente”, explicou.

    A pausa no atendimento preocupou Wellington Rodrigues dos Santos. A mãe dele, Zelita Rodrigues da Costa, iniciou o tratamento de radioterapia há duas semanas por causa de um câncer na face. “Na quinta, quando chegamos para a sessão e nos disseram que a máquina tinha sido danificada, ficamos muito preocupados. O medo é que a interrupção no tratamento piorasse a condição dela. Ela ficou nervosa”, contou.

    A RadioSerra atende, além dos pacientes do SUS, a convênios e planos médicos. Os pacientes são da Região Serrana e de Duque de Caxias. “Nós conseguimos nos manter graças a grande esforço e sacrifício. Por não termos como pagar a prestação de uma máquina, tivemos que recorrer a um empréstimo bancário”, contou Ana Cristina Mattos, gerente administrativa e financeira da RadioSerra.


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