• Até a linguagem tem seus vícios

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  • 18/12/2019 18:00

    A sociedade do século XXI está impregnada de hábitos que aos poucos foram se tornando vícios. Falar errado é um deles. Lecionando sobre variedades linguísticas (modos de uso da língua e de falar) em um curso de enfermagem na cidade, alguns alunos logo quiseram saber o porquê de falarmos tão errado. As razões são múltiplas. Falarei de duas que considero as mais importantes.

    Comecemos pelas brincadeiras. Desde a minha infância, filmes, programas de rádio e de TV, revistas em quadrinhos imitavam a fala de pessoas com pouco estudo ou de regiões distantes das grandes capitais do Brasil. Vale lembrar que, na década de 1960, não havia escola suficiente para todos os brasileiros estudarem, principalmente, fora dos grandes centros urbanos. As crianças das capitais e das cidades maiores brincavam de imitar o modo peculiar e tão diferente de pessoas de outras regiões do Brasil falarem.

    Isso ainda acontece. Um dos pioneiros em retratar essa linguagem simples foi Mazzaropi, com a personagem Jeca Tatu. Depois dele vieram os Trapalhões, o Seu Creysson, personagens de novelas e tantos outros. A brincadeira de falar errado virou mania nacional e muitas pessoas não sabem mais qual é o certo.

    Por que isso acontece? O que diz a ciência? Vamos investigar! Para a neurolinguística, nosso cérebro possui neurônios com diferentes funções. Uma dessas funções é copiar o que o outro faz ou diz. Você, provavelmente, quando criança pequenina, brigou com outra criança por pensar que ela estivesse lhe imitando. A culpa foi dos neurônios. A mesma circunstância de imitação inconsciente ocorre com a linguagem: de tanto ouvirmos coisas erradas, acabamos falando errado também.

    Alguns erros ou vícios de linguagem nos constrangem diante das pessoas, em especial, em uma entrevista de emprego. Dos vícios mais comuns, vou citar apenas três: 1) trocar ‘vir’ por ‘vim’ – “Você pode vim aqui amanhã?” – isso está errado, pois ‘vim’ é ideia de passado, algo que já aconteceu. O certo é dizer: “Você pode vir aqui amanhã?”; 2) tem gente que usa uma palavra que não existe: ‘menas’. O contrário de ‘mais’ é ‘menos’; 3) ouço muito o “mim” sendo usado de modo inadequado. É um tal de ‘mim’ fazer isso, ‘mim’ querer aquilo, ‘mim’ cometer absurdos… e volto às brincadeiras: “mim Tarzan”. Já perceberam que ‘mim’ não pode fazer nada? EU posso! São muitos os nossos vícios de linguagem. Eu espero, sinceramente, que vocês fiquem atentos e não sejam traídos pelos neurônios imitadores.

    Mandem sugestões para mim (agora no uso correto). rosinabezerrademello@gmail.com

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