• Assédio sexual pode influenciar vítima a se tornar abusador? Saiba mais

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 04/02/2020 16:45

    Petrix Barbosa, que atualmente participa do BBB 20, está sendo acusado de assédio nas redes sociais após episódios envolvendo Bianca Andrade e Flayslane. A Polícia Civil do Rio de Janeiro chegou a abrir um procedimento para apurar os casos e intimou o atleta a depor na próxima sexta-feira, 7. O que chama atenção nessa história é que o próprio ginasta é uma das vítimas que acusam o ex-treinador Fernando de Carvalho Lopes de abuso sexual.

    Estaria Petrix reproduzindo um comportamento que sofreu no passado? É possível que uma pessoa vítima de assédio sexual na infância ou adolescência perpetue esse tipo de violência?

    Não é possível confirmar isso no caso do ginasta nem em qualquer outro, uma vez que os efeitos do abuso dependem de particularidades de cada vítima. Generalizações estão fora da discussão e o que estudos científicos e especialistas abordam são as consequências em determinadas situações.

    Uma meta-análise que reuniu 32 estudos comparou o histórico de abuso sexual entre pessoas que cometeram agressões sexuais e outras que praticaram outras formas de violência. Também foi examinada a prevalência de diferentes formas de abuso, comparando agressores sexuais contra adultos e contra crianças.

    Os resultados indicaram que agressores sexuais são mais propensos a terem sido abusados sexualmente no passado do que os agressores não sexuais. E quem praticava pedofilia também apresentava um histórico de abuso sexual mais prevalente. “Mas não dá para generalizar”, ressalta a infectologista Isabelle Nisida, médica assistente do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual (Navis) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

    “Na literatura [científica], a violência se torna um tema de preocupação em termos de saúde pública em torno de 2000. Na maioria dos trabalhos, encontra-se que a mulher é vítima de violência sexual. O reconhecimento do homem como vítima é mais tardio, as pesquisas começam em 2010”, destaca a especialista. Sem estudos suficientes, e com pesquisas que fazem enquetes com pessoas adultas sobre o passado delas, não se pode fazer afirmações gerais, é preciso individualizar os casos.

    O homem e a violência contra a mulher

    A atitude de Petrix Barbosa com Bianca Andrade durante uma festa no Big Brother Brasil, em que ele balança o corpo dela e toca na lateral dos seios da empresária pode ter sido vista como algo normal, sem intenções sexuais. No entanto, o assédio sexual vai desde um comentário com conotação sexual até o contato físico.

    Segundo Tales Furtado Mistura, coordenador do Grupo Reflexivo de Homens, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, a naturalização do assédio é quase automática para os homens. Além disso, eles têm uma visão dicotômica da situação: ou pode tudo ou pode nada.

    “A agressão como um todo contra a mulher é o fazer-se homem, é marcar a posição que eles têm do que é ser masculino, [visão] que está ultrapassada. É uma reafirmação de algo que foi aprendido”, diz Mistura. No grupo que ele coordena, as questões mais prevalentes é de violência doméstica, uma vez que a iniciativa recebe homens que foram autuados pela Lei Maria da Penha.

    As discussões do grupo envolvem o que é ser homem na cidade, paternidade, assédio e abuso sexual – esse último tópico é um tabu quando a vítima é o próprio homem. Assim, o debate fica no campo doméstico, dos papéis de gênero, estupro marital e relações com as próprias parceiras ou outras mulheres.

    Nesse contexto, Mistura também percebe que há homens que nunca sofreram ou viram práticas violentas dentro de casa e perpetuam o comportamento e os que reproduzem a vivência passada. “O que está em jogo é mais uma questão de algo aprendido há séculos, determinados papéis, diferenciados, do que é ser homem e mulher”, reflete.

     

    Últimas