• As peregrinações de um aposentado

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  • 10/06/2016 11:52

    Depois que narrarei aqui a odisseia de um aposentado para pagar uma conta de água, passei a ouvir histórias que revelam um total desrespeito por quem, no anonimato e de forma honrosa, contribui para o engrandecimento deste País, mesmo dentro dos limites em que vive. No entanto, é visto apenas como quem está fora do mercado de trabalho e tornou-se um peso para o segmento previdenciário.

    A decisão do Governo do Estado de não pagar, no devido prazo, os aposentados e pensionistas que recebem líquidos mais de dois mil reais, mexeu com a vida de muitas pessoas. Fato este que exigiu a intervenção da Justiça. Acho que subestimaram o poder de sensibilização social e de mobilização deles. E o desgaste político foi muito grande. Isso que fizeram com eles terá reflexo nas próximas eleições. Lembro-me de uma frase pronunciada por um político que até hoje não conseguiu livrar-se das repercussões do que falou na década de noventa:

    "Fiz a reforma da Previdência para que aqueles que se locupletam da Previdência não se locupletem mais, não se aposentem com menos de 50 anos, não sejam vagabundos em um país de pobres e miseráveis".

     Por essa frase, ele ficou, na boca do povo, como o ex-presidente que chamou os aposentados de “vagamundo”. É preciso pensar no que se faz e principalmente no que se fala. É o próprio povo que propaga: "Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida."  

    Um colega me falou que um amigo dele, aposentado, vendo as contas vencidas e sem dinheiro para comprar os remédios de que necessita, peregrinou pelas financeiras que vivem assediando servidor público, aposentados e pensionistas. Ele entrou em uma que diz que faz empréstimo para “negativados”. Ao ouvir a proposta, a aflição aumentou. 

    Como se tratava de um “cliente novo”, ele só poderia pegar um empréstimo no valor máximo de R$ 5.000,00. E, para saber a margem de juros que iria pagar, pediu para fazer uma simulação. A simpática moça que o atendeu, escreveu no panfleto e explicou: “o senhor receberá R$ 4.820,76 e pagará 12 parcelas de R$ 1.185,17. Ele pegou o celular e fez as contas. Somou as 12 parcelas: R$ 14.222,04”.

    – Ele não fez esse empréstimo?! – Perguntei espantado. 

    – Claro que não! Como já tinha estourado o limite dos empréstimos consignados, apelou para as financeiras, mas se arrependeu. O pagamento desse empréstimo não seria abatido na folha de pagamento, mas quando o dinheiro entrasse na conta dele, o banco já descontaria esse valor automaticamente. E, com mais esse desconto, ele não teria nem com o que viver. Não teria como pagar as contas. A aposentadoria dele já está toda comprometida. E ainda sem receber, entrou em pânico…

    Esse momento vivido por aposentados e pensionistas ficará marcado na lembrança deles. Tenho vários amigos aposentados que sustentam a família com o que recebem e ainda ajudam no pagamento da escola dos netos. São muitos os filhos casados que recorrem aos pais para completar as despesas das famílias que construíram. O avô e a avó são sempre mais lembrados nessas horas…

    É preciso que se diga que existe uma agiotagem oficializada, amparada por lei, com propaganda enganosa nos meios de comunicação de massa, cobrando juros exorbitantes com o aval de um sistema selvagem que não presa nem reconhece quem lhe presta relevantes serviços. 

    – É triste! No período em que se espera ter um descanso na vida, passar por essas explorações: – que sistema é esse?

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