• Aplicativo de hospedagem preocupa rede hoteleira de Petrópolis

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  • 29/04/2019 10:07

    Conhecida por seus belos pontos turísticos e por uma vasta história, Petrópolis atrai, todos os anos, milhares de turistas que procuram por tranquilidade e maior qualidade de vida. Diante desse cenário, muitos petropolitanos aderiram à tendência mundial do compartilhamento. Não apenas com automóveis por meio de aplicativo, há também os que dividem a própria casa com viajantes desconhecidos, através das plataformas online.

    Ainda sem uma regulamentação no município, no Airbnb, por exemplo, qualquer pessoa física pode disponibilizar algum quarto ou até mesmo toda a casa para hospedagem, através do aluguel por temporada. Embora o serviço seja avaliado de forma positiva por muitos, o baixo preço e a facilidade na locação pode colocar em risco o setor hoteleiro.

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    Os hotéis e pousadas pagam altos impostos para manter seu funcionamento. Entretanto, os baixos custos praticados pelas plataformas digitais retiram a possibilidade de uma concorrência justa entre os mesmos serviços, que são expostos de maneira diferenciada no mercado, gerando insegurança para o setor.

    “Ainda não sentimos o impacto negativo, pois temos um público muito específico. Porém, outros amigos que atuam no ramo já encaram o Airbnb como um problema, visto que não são cobradas taxas específicas pelo serviço. Com isso, é necessário que regras sejam impostas, para que ninguém saia perdendo nesse contexto”, disse Emanuel Freitas, gerente de uma pousada em Itaipava.

    Sem regras específicas, os proprietários das casas ou apartamentos utilizados para o Airbnb não pagam taxas ao município e não seguem as mesmas exigências dos hotéis, como a apresentação de alvará de funcionamento, verificação dos bombeiros, contas comerciais de água e energia, entre outros. Para que o serviço seja efetuado, basta apenas que os usuários criem uma conta gratuita para anunciar seus espaços ou reservar suas acomodações.

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    Há alguns meses alugando duas suítes com capacidade para duas e três pessoas, o analista Henrique Pereira Riggo já recebeu cerca de 10 famílias em sua residência. Com diárias que variam entre R$150 e R$350, o jovem avalia os prováveis hóspedes para, em seguida, fechar o acordo.

    “Moro com os meus pais e meu irmão. Quando alugamos por Airbnb, gostamos de hospedar casais com pelo menos 30 anos, de preferência com filhos, pois o receio acaba sendo menor. Para receber os turistas, fazemos aperitivos e conversamos com eles, conseguindo assim quebrar o gelo. Geralmente incluímos na diária o café da manhã”, contou.

    Ainda de acordo com ele, as famílias recebidas ficam, em média, por três dias. Já o valor é definido mediante a época do ano na cidade. “O período em que a procura aumenta é durante a Bauernfest, pois todos os hotéis da cidade ficam lotados. Nesse momento, entra o Airbnb, que se torna uma alternativa para as pessoas que não conseguiram uma vaga em um desses estabelecimentos. Além de darmos o suporte a essas famílias, também sou escoteiro e conheço boa parte das trilhas do município. Então, acabo oferecendo um diferencial, levando, em alguns momentos, os hóspedes que desejam subir alguma montanha”, disse Henrique.

    Enquanto uns visitam Petrópolis, outros tentam a sorte por meio do Airbnb em outra cidade. Juliane de Oliveira Souza, de 28 anos, programou uma viagem para Florianópolis, no mês de janeiro. Entretanto, quando fez um levantamento sobre o preço da estadia em hotéis e pousadas na cidade, optou por arriscar no aluguel de uma casa por meio da plataforma online.

    “Entramos em contato com a rede hoteleira da cidade, mas só encontramos preços exorbitantes. Estava em um grupo com quatro amigos e o preço da diária por pessoa era de aproximadamente R$ 300. Ficamos cinco dias. Se fôssemos pagar algum hotel, sairia pelo preço de R$ 6 mil ao todo. Porém, pelo Airbnb, pagamos o valor total de apenas R$ 500. A casa ficava a poucos metros da praia e seus proprietários foram atenciosos com o nosso grupo”, contou a assistente social.

    De acordo com ela, foi a primeira vez que tentou utilizar a maneira diferenciada de alugar um espaço para se hospedar. “Antes de qualquer coisa, pesquisamos muito sobre o local, vimos os comentários e recomendações de quem já teria passado pela casa. No princípio tivemos medo, mas depois sentimos segurança. Arriscamos de forma positiva”, comemorou.

    Regulamentação

    Para o presidente do Convention & Visitors Bureau, Samir El Ghaoui, em alguns períodos do ano, o aumento por buscas de aluguéis de casas e apartamentos alternativos chega a se aproximar dos 118 meios convencionais de hospedagem, gerando preocupação.

    “É importante entender que não somos contra a nova tendência. Entretanto, é necessário que aconteça uma regulamentação, como a instalação de critérios para aluguel por meio de sites. Caso contrário, haverá uma competição desleal, pois assumimos uma série de obrigações que elevam os nossos gastos e somos fiscalizados por tudo isso”.

    Segundo o empresário, a questão da regulamentação foi assunto levado para a Câmara Municipal, que encaminhou a questão para a comissão de turismo. “Qualquer serviço oferecido precisa de regras para seu funcionamento. Agora, esperamos que critérios sejam estabelecidos e cheguem o quantos antes na cidade”, concluiu.

    A prefeitura confirmou em nota que não cobra taxa para aluguel de imóveis por temporada disponibilizados pela internet, uma vez que não existe legislação específica que regulamente a cobrança para este tipo de atividade. No entanto, a Secretaria de Fazenda estuda medidas que possam viabilizar ao município obter informações e controle sobre a atividade. 

    O governo lembrou que o município conta com a Lei 6861/11, que institui a atividade denominada “Cama e Café”, que estabelece cobrança de ISSQN aos meios de hospedagem oferecidos em residências. 

    Para o secretário da Turispetro, Marcelo Valente, a saída é que os hotéis busquem oferecer novos serviços: “É um novo mercado para os visitantes e turistas que não querem se hospedar em hotéis, pousadas ou hostels. Não há ilegalidade nesse serviço, apesar de os hoteleiros não concordarem com essa concorrência, já que não há necessidade de retiradas de alvarás, impostos, entre outras obrigações exigidas para a rede hoteleira. É uma realidade presente no mundo inteiro, logo os hotéis vão precisar buscar novos serviços e novas tendências para atrair essa ocupação perdida”.


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