• Aplicativo de celular pode ajudar a melhorar o trânsito

  • 29/12/2019 11:40

    Em várias áreas, a tecnologia, especialmente a disponível na palma da mão, através dos smartphones, tem se mostrado uma aliada em vários sentidos – mesmo nos menos óbvios. Como uma rede social criada inicialmente para incentivar a vida saudável e que de repente se transformou em uma poderosa ferramenta para fornecer dados que podem ajudar a pautar políticas públicas, em relação à mobilidade urbana, em cidades de 195 países do mundo.

    “Eu pedalo quase todos os dias. E toda vez que saio de casa ligo o celular para registrar o meu passeio ou treino”, relata o comerciante José Henrique Dias, que até hoje, não tinha se dado conta de que o hábito de compartilhar a vida saudável, pode ajudar a melhorar o trânsito de Petrópolis.

    No celular, ele e mais de 48 milhões de usuários no planeta – seis milhões deles (12,5%) no Brasil, levam um aplicativo da rede social Strava – empresa norte americana, criada em 2009 por Mark Gainey e Michael Horvath, em São Francisco, no estado da Califórnia. O objetivo inicial era ajudar esportistas (corredores e ciclistas) a mapear (por GPS) os trajetos e o tempo de deslocamento. No entanto, desde 2012, a ferramenta assumiu também outro papel importante. Por meio do Strava Metro, a empresa decidiu divulgar o que chama de “maior conjunto de dados anônimos e agregados sobre transporte ativo do mundo”. A ideia passou a ser também a de ajudar a “desenvolver produtos que permitem que urbanistas, governos municipais, ativistas de infraestrutura seguras e acadêmicos entendam os padrões de mobilidade, identifiquem oportunidades de investimento e avaliem o impacto das mudanças na infraestrutura”.

    “O que se nota ao redor do mundo é que os investimentos em infraestrutura não conseguem acompanhar as mudanças de comportamento das pessoas. Aqui no Brasil ou em grandes cidades da Europa e dos EUA, congestionamentos no trânsito são cada vez mais frequentes. Em paralelo, há um aumento de pessoas se deslocando de bicicleta ou a pé, pelas mais diferentes razões. Com o crescimento desses deslocamentos, a importância de um serviço como o Strava Metro cresce exponencialmente”, comenta (em material divulgado pela empresa) Rosana Fortes, Country Manager do Strava no Brasil.

    Do total de usuários, 67% são ciclistas. Em 2019, segundo relatório publicado recentemente pela empresa, mais de 37 milhões de quilômetros foram percorridos no Brasil (do total de 507 milhões registrado em todos os países). Comparado aos EUA, ainda estamos atrás. Os usuários do Strava por lá percorreram 71 milhões de quilômetros. O líder do ranking é o Reino Unido, que soma 112 milhões de quilômetros. Porém, estamos à frente da Alemanha (28 milhões), França (19 milhões) e Espanha (7,8 milhões).

    Tanto deslocamento gera o que a empresa chama de Heat Map – ou mapa de calor. Quanto mais pessoas passam por uma rua, “mais quente” é o trajeto e mais claro ele fica no mapa (fletindo as nuances das cores do fogo). Quando se analisa o heat map em Petrópolis, é fácil perceber que as principais vias de acesso ao Centro Histórico – como a Avenida Barão do Rio Branco (onde existe a única estrutura cicloviária da cidade), a Rua Bingen, a Avenida Piabanha, a Rua Coronel Veiga e a Rua Washington Luiz, por exemplo, são as mais utilizadas pelos ciclistas.

    Para a presidente da Associação dos Ciclistas de Petrópolis – Acipe, Isabella Guedes, “ferramentas como essa são importantes para o poder público compreender melhor o padrão de deslocamento dos cidadãos. Quais vias, por exemplo, são mais utilizadas pelos ciclistas em seus deslocamentos diários e como isso pode sugerir as regiões que demandam mais investimentos, seja em sinalização, recuperação viária e até mesmo a necessidade de implantação de infraestrutura dedicada como ciclofaixas e ciclovias”. Ela ainda destaca que “projetar e implementar soluções em mobilidade urbana sem o uso de tecnologias avançadas, já utilizadas por diversas cidades do Brasil e de outros países, pode levar a decisões que muitas vezes não correspondem à realidade e geram custo maior para os cofres públicos”.

    No caso da Avenida Barão do Rio Branco, os dados fornecidos pelo aplicativo, indicam que 1.845 pessoas diferentes já registraram, ao longo dos últimos anos, a passagem pela pista sentido bairros – em um total de 30.307 vezes. Na pista de retorno, onde há interesse do poder público na desativação da ciclofaixa, 1.602 pessoas registraram 26.241 passagens. “Os dados coletados mostram que o número de ciclistas que usam as duas pistas é bem similar. Negligenciar o deslocamento por bicicletas no sentido Centro é negligenciar também as pessoas que moram nos bairros/distritos da região e frequentam o Centro da cidade de bicicleta. Desativar a ciclofaixa com a justificativa de que a pista é estreita e perigosa, sem implementar nenhuma solução viável e imediata é, na verdade, um contrassenso”, destaca a presidente da Acipe.

    O perfil de ciclista que utiliza o aplicativo, no entanto, corresponde a uma parcela bem pequena dos usuários de transporte ativo em Petrópolis. Segundo a estimativa da Acipe, menos de 10% dos ciclistas da cidade tem o perfil de utilizar a bicicleta para o lazer. Isso significa dizer que nove em cada dez ciclistas não usam o aplicativo. “É possível projetar que esse número de deslocamento na Avenida Barão do Rio Branco e nas demais vias pode ser até dez vezes maior do que o que mostra o aplicativo”, avalia Isabella.  

    Os dados que já estão disponíveis para serem acessados pelo poder público em Petrópolis, vem sendo utilizados, segundo a empresa, em mais de 300 cidades ao redor do mundo para melhorar a infraestrutura para pedestres e ciclistas. Ainda de acordo com a empresa, as atividades dos membros do Strava mostradas na plataforma Metro são agregadas e anônimas, de acordo com os padrões do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados da União Europeia e da Lei de Privacidade do Consumidor da Califórnia.

     

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