• Alvilar: onde o futuro se fez presente

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  • 02/05/2019 11:13

    Tal qual um disco gira em torno de um eixo, era com base na música que se circulava pela loja. Impressas, as ondas sonoras eram lidas, ouvidas e sentidas por quem, em ranhuras, fazia vibrar culturas e escrituras. Com mil e uma possibilidades, as novidades ecoavam e reafirmavam a Alvilar como aquela em que o futuro se fazia presente.

    Naquele tempo, o duelo entre o futuro que se queria e o que viria era ainda maior do que hoje, mas isso não impedia a clientela de, vez ou outra, “namorar” alguns dos produtos à venda. A cozinheira Magdalena de Carvalho, de 53 anos, relembra o aparelho de som “3 em 1” da Philips: um sonho de consumo com direito a toca discos, gravador e rádio.

    “Na época eu trabalhava no Rio, então, às vezes, quando subia para Petrópolis, passava lá. Me lembro que a loja chamava atenção. Era bem legal e moderna. Tinha uma sala repleta de aparelhos de som. Sempre sonhei em ter uma aparelhagem como aquela. A gente via muitas luzes dos sons ligados, aqueles com equalizador”, relata Magdalena.

    Tida como referência na cidade quando o assunto envolvia som e imagem, foi na Alvilar que muitos petropolitanos optaram por comprar seus primeiros, e pra lá de memoráveis, aparelhos. O gerente de loja Luis Antônio Machado de Assis, de 52 anos, relembra seu primeiro equipamento de som, adquirido em 1984.

    O prédio onde funcionou a Alvillar nos dias de hoje. Foto: Bruno Avellar / Tribuna de Petrópolis.

    “Isso faz 35 anos. Eu tinha 17 e estava começando a trabalhar. Principalmente para quem, como eu, vinha de comunidade carente, a loja chegava a assustar porque os vendedores nos tratavam muito bem e a gente não esperava por esse tratamento. Era uma coisa fora de série. Acabei virando frequentador assíduo e comprando lá meus aparelhos de CD e DVD”.

    Como aponta Luis Antônio, as vitrines da Alvilar, por si só, atraíam olhares curiosos da garotada que, fascinada, aproveitava para se atualizar nos grandes lançamentos do mundo da música. Era o começo do rock nacional e, no mostruário, não poderiam ficar de fora os primeiros LPs de grupos como os Paralamas do Sucesso e RPM.

    “Foi algo extraordinário porque a Alvilar expunha na vitrine todas aquelas capas bonitas. Éramos jovens, então íamos pra lá curtir aquilo. À noite, era nos bailes da cidade, no Coral Concórdia, Petropolitano e Magnólia, que a gente aproveitava aqueles sons. A loja marcou a vida da gente e deixou saudade”.

    A festa poderia até acontecer nos clubes, mas é seguro dizer que a diversão tinha início na loja. A aposentada Vivian Cross, de 59 anos, relembra a bancada de LPs da Alvilar e, principalmente, a sensação que era dar som aos sentimentos e receber uma palinha do que os discos ofereciam.

    “Era só pedir ao balconista que colocasse o disco na vitrola que ele pulava as faixas e a gente via se gostava ou não. Lembro que eu tinha uma coleção do grupo Supertramp e comprava tudo lá. O Alvinho Blanc, que era o dono, jogava tênis com meu pai, Hugo Cross, no Petropolitano. Como eles já se conheciam, a gente dava preferência à loja”.

    Trilhas à altura de momentos memoráveis

    Se com os discos de vinil o comprador tinha a oportunidade de fazer quase que um test-drive nas mercadorias, no caso dos jogos os usuários já sabiam exatamente pelo que procurar. O aposentado Oscar Anselmo Rodrigues, de 61 anos, recorda seu primeiro videogame: um presente de Natal, sugerido por ele mesmo.

    “Meu primeiro videogame foi o telejogo, da Philco. Isso na década de 70. Eu e meu irmão tivemos partidas memoráveis. Naquela época houve uma oferta grande de equipamentos eletroeletrônicos. Me lembro que cheguei a comprar na Alvilar um toca discos portátil para a minha esposa. Era a loja em que mais tinham novidades e produtos modernos”.

    E por falar em novidades, o administrador Carlos Alberto Bohrer, de 66 anos, ainda se lembra de quando a antecessora da Alvilar, a então Petrolar, foi inaugurada. Afinal, foi naquele dia em que Carlos descobriu as canetinhas coloridas da Bic. O deslumbramento foi tanto que o tornou o primeiro freguês de compra à vista do estabelecimento.

    “Eu era pequeno e morava no Edifício Pio XII. Me marcou tanto ter visto aquelas canetinhas que no dia seguinte à inauguração esperei a loja abrir para comprar. Fui o 1º cliente de compra à vista e, no aniversário de um ano do negócio, ganhei um rádio de pilha do senhor Aphonso – pai do Alvinho – e do senhor Domingos, com direito a foto no jornal”.

    Memoráveis, as compras com a família Blanc culminaram em saudosos momentos e, em alguns casos, como o da aposentada Elisabeth Graebner, de 65 anos, laços para a vida. Afinal, foi lá que Elisabeth conheceu aquele a que se refere como “um anjo amigo e eterno confidente”, o ex-funcionário Fernando Henrichs.

    Elisabeth e Fernando se conheceram na Alvilar. Foto: Arquivo Pessoal/Elisabeth Graebner.

    “Em 1992, no aniversário da minha filha caçula, fui até a cidade em busca de um LP da Xuxa que ela havia me pedido. Sei que fui parar na Alvilar, onde fui atendida pelo Fernando, que conheci naquele dia. Acontece que ele também não tinha o LP que eu queria, mas de tão boa que era a sua lábia, me convenceu a comprar um outro produto”.

    Conversa vai, conversa vem, os dois descobriram alguns interesses em comum, como a dança. “Em determinado momento eu disse que tinha um grupo de dança folclórica alemã e que ensaiávamos no Palácio de Cristal. Ele disse que gostava bastante, passamos umas duas semanas sem nos ver e, num dos dias em que cheguei para ensaiar, ele estava lá”.

    Hoje Elisabeth considera que ela e Fernando são um eterno par. Foto: Arquivo Pessoal/Elisabeth Graebner.

    A presença de Fernando passou a se tornar frequente, não só nos ensaios, onde se tornou o par de Elisabeth, como também em sua vida. “Em 2018 nossa amizade completou 26 anos. Temos uma relação muito bonita, de irmãos mesmo. Até hoje somos um eterno par, se não na dança, na vida. Jamais imaginaria que, naquele dia quando saí para comprar o presente da minha filha, levaria pra casa um presente muito maior”. 

    De valor inestimável, as aquisições na Alvilar eram assim: presentes cujo valor não há preço capaz de precisar.

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