• Aglomerações assassinas

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  • 08/07/2020 12:00

    Tenho sempre comigo um bichinho chamado indignação. Ele habita em meu cérebro e constantemente fustiga meus dedos, obrigando a que percorram o teclado e digitem sentenças amargas e de crítica. Nada detém o bichinho e lá vai ele bordando textos sequenciados onde não faltam amarguras nas argumentações na lídima preocupação pela sobrevivência de nossa sociedade humana.

    Em nossos amargos tempos vivemos no redemoinho dessa pandemia nefasta. 

    A tragédia e o perigo mortal agitam o bichinho e ele perturbado matuta se adiantarão alguma coisa tantas argumentações e pedidos dramáticos. Em verdade nada contribuem ou acrescentam para a melhoria do comportamento popular, insensato, insano, desprovido de razão:  

    “- Não tô nem aí!”

    “- Não é comigo, nada tenho a ver com a doença!”

    “- É coisa da política para ferrar a gente; tô fora!”

    “- Besteira a máscara! Não sou o zorro nem o homem aranha!”

    “- É exigência antidemocrática! Debilita a liberdade! É ofensa à democracia!”

    “- Bla, bla, bla.bla….”

    E por ai vai a burrice em descaso assassino. Claro que o meu bichinho da indignação compreende o risco que a população encontra em cada esquina dos aglomerados humanos e demonstra medo, como entende a necessidade dos trabalhadores  estarem obrigados às atividades profissionais presenciais e saindo para as ruas em conduções lotadas, vivendo em ambientes de saúde imprópria, expostos ao mal que esvoaça no entorno de cada indivíduo. Compreende o desespero dos empresários com suas indústrias e lojas de comércio fechadas e do desemprego que explode bem como a vida que se apresenta vazia por envolvida na quarentena da precaução.

    No bojo do problema, o noticiário comentando a expansão da doença e implorando sensatez às populações, não atinge a todos e nem sensibiliza a um percentual gigantesco de famílias em vivência miserável, sem qualquer aporte tecnológico, mínimo que seja.  

    E, no contraponto, desprezando a gente humilde e sofrida, de elevado padrão moral, vê-se a dança dos poderosos nas disputas dos espaços políticos, preocupados com eleições e sinecuras que lhes garantam poder, promovendo desfiles marciais, como na Rússia ou passeatas e concentrações de viés político insensatamente ridículas nas avenidas do mundo… E o que dizer de candidatos liderando convenções políticas para pedir votos e uma série de projetos e normas para garantir mais salários aos ocupantes de funções públicas e nenhum ganho maior aos trabalhadores; empregos aos afilhados e, aos desempregados, temporários abonos que acabam se transformando em sinecuras impublicáveis, com preciosos recursos públicos indo parar nas mochilas dos psicopatas trambiqueiros que rondam a tudo e a todos.

    E o meu bichinho indignação cora na vermelhidão da vergonha de ser social quando vê nos noticiários – ninguém esconde, vale tudo! – que recursos destinados ao combate da pandemia caem nos bolsos de políticos, alguns péssimos empresários e seus sequazes, que deixam sofrer e morrer nos hospitais os doentes enquanto eles embolsam a dinheirama pública na compra de sítios, mansões, amantes, viagens, patrimônios fantásticos e cala-bocas chamados lavagem de dinheiro,  

    São assassinos – sim! – todos aqueles que descumprem os dispositivos de segurança, roubam recursos destinados à saúde, desrespeitam a quarentena, lançam na rua da amargura os trabalhadores, enfim, na definição correta: homicida é aquele que mata, tira vidas, são todos -, sim, aqueles sem respeito à vida do semelhante, que “não estão nem ai” para seus irmãos humanos.

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