• Abandono e isolamento: ruas precárias impedem o direito de ir e vir e causam inúmeros transtornos

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 10/06/2019 11:08

    Os desafios de acessibilidade para o jovem Felipe Mattos, de 36 anos, começam já no portão de casa. Ele mora na Rua Joaquim Cesário da Costa, no Valparaíso, onde mais de 1 km de extensão não tem calçamento. Com a rua desnivelada, é impossível passar com a cadeira de rodas de que faz uso. Por isso, o principal meio de transporte que utiliza é o carro. Porém, desde a última segunda-feira, Felipe não sai de casa. Com a chuva, um trecho da rua cedeu e agora só há passagem para pedestres, sem qualquer possibilidade de acesso com a cadeira de rodas. 

    Na Rua Joaquim Cesário da Costa, no Valparaíso, um trecho cedeu, por causa da chuva, piorando a situação para os moradores. Foto: Bruno Avellar / Tribuna de Petrópolis.

    Cerca de 15 famílias que moram nesta rua estão com acesso limitado. Sem calçamento, no decorrer dos anos, os moradores foram improvisando melhorias nos trechos mais críticos. Mas agora, a situação se agravou a tal ponto que os moradores temem ficar ilhados. 

    “O calçamento começou a ser feito em 2006, mas pararam na metade. Corri atrás depois disso, mas disseram que não tinham verba para terminar. Só que agora, se não tiver um engenheiro, uma máquina que venha fazer o reparo da rua, nós não vamos conseguir nem sair de casa”, lamentou o morador Sancler Marcos Nascimento.

    A via precária impossibilita o acesso até do socorro. Os moradores contaram que há algumas semanas uma vizinha caiu e fraturou a perna. Sem acesso para a ambulância, a equipe de socorro do Corpo de Bombeiros teve que ir a pé, carregando a maca até o endereço. 

    “Pessoas acamadas, com limitações temporárias ou permanentes como a minha, não conseguem se locomover na rua. Eu não posso me arriscar, se eu saio com o carro e depois chove, não consigo mais voltar para casa”, disse Felipe. 

    O direito básico de ir e vir de qualquer cidadão, por repetidas vezes, tem sido negligenciado em Petrópolis. Esperando que as promessas de inclusão no cronograma de asfaltamento da prefeitura sejam cumpridas, os moradores de diferentes localidades têm se desdobrado para conseguir o mínimo: sair e voltar para casa.

    Na Rua Galdino Pimentel, no Bingen, a situação é parecida. A via sem calçamento, de barro batido, quando chove se transforma em um mar de lama. Impossibilitando a passagem de pedestres e veículos. Em abril, a equipe de reportagem da Tribuna esteve no local e relatou as denúncias de descaso feitas pelos moradores. Na ocasião, a prefeitura afirmou que a via recebeu, naquela mesma semana, o programa Mais Asfalto. Informação que, nesta semana, foi mais uma vez negada pelos moradores.

    “A prefeitura nunca apareceu aqui. Nem mesmo depois que reclamamos. A situação da via prejudica não só a mim, mas a todos os moradores. Quando não temos acesso pela Galdino Pimentel, temos que dar a volta lá no Contorno, o que leva o dobro de tempo e distância. Não tenho carro e o ônibus não passa próximo, nós ficamos sem saber o que fazer”, disse a auxiliar de escritório Adriele Pinheiro. 

    Prefeitura afirma que o Programa Mais Asfalto já atendeu 172 ruas neste ano

    Segundo moradores, a prefeitura garante que a Rua Galdino Pimentel (foto) já foi asfaltada. Foto: Bruno Avellar / Tribuna de Petrópolis

    Assim como a Rua Galdino Pimentel, no Valparaíso, a prefeitura também garante que a Rua Manoel Francisco de Paula, no Siméria, recebeu o programa Mais Asfalto. Nesta semana, a Tribuna noticiou o descaso com a via, que não tem calçamento. Por causa das chuvas da última semana, a lama restringiu o acesso a veículos. Segundo os moradores, quando solicitam calçamento para a rua à prefeitura, são informados de que a via já foi pavimentada. 

    O programa Mais Asfalto opera nos locais fazendo a manutenção viária e o tapa-buracos nos locais mais críticos. Em coro, os moradores de locais por onde o programa já passou dizem que em um mês os buracos voltam a surgir; às vezes, até em pior estado do que antes do programa atender o local.

    A prefeitura afirma que, desde 2017, o serviço de manutenção viária é feito com recursos próprios do município. Até agora, 624 ruas foram atendidas. No primeiro ano da gestão do prefeito Bernardo Rossi, foram mais de 250 ruas, e em 2018 cerca de 230 tiveram a atuação do programa. 

    Uma licitação foi feita no ano passado para contratar uma empresa para prestar o serviço de recuperação e melhorias na estrutura de diversos logradouros do município. O contrato assinado em fevereiro com a empresa Petrovias Engenharia e Construções, por um valor de R$ 2,4 milhões, atendeu 172 ruas de 43 bairros até agora. 

    Sem asfalto e mais descaso

    Na Comunidade do Neylor as melhorias na via continuam sendo um sonho distante para os moradores. Há pelo menos quinze dias, o ônibus da Viação Cascatinha, que faz a linha 525 (Comunidade do Neylor) está concluindo o itinerário a 400 metros do ponto final. A Rua Ferreira Barcelos foi interditada pela Defesa Civil por conta de problemas viários. Onde há duas crateras, foram colocadas chapas de ferro, o que não garante a segurança dos motoristas que precisam passar pelo trecho.

    No dia 24 de maio, a equipe de reportagem da Tribuna esteve na comunidade e questionou a prefeitura sobre o problema. Em resposta, a prefeitura disse que a Secretaria de Obras iria vistoriar o trecho para verificar a situação e poder providenciar os reparos necessários. Enquanto isso, há moradores que precisam caminhar quase 1 km para chegar na Rua do Sítio, onde o ônibus está manobrando. 

    Sem expectativa para solução, moradores promovem mutirão de manutenção

    Cansados de esperar pela chegada do asfalto na Rua Alberto Pullig, no Itamarati, moradores arregaçaram as mangas e se uniram para pavimentar a rua. Fizeram um mutirão e compraram cimento, areia e começaram a obra. O pintor Renato Machado, que mora há 11 anos no local, contou que no tempo que reside ali a manutenção viária nunca chegou nem perto. 

    “Estou desacreditado com a política. [Eles] Só vêm aqui em época de eleição, vêm pedir voto e fazer promessas. Já tive experiências em outros lugares, como em Nogueira, que fiz várias reclamações para resolver um problema de esgoto e não fizeram nada. Aqui nós fizemos algumas melhorias para quebrar o galho, já não aguentávamos mais o carro quebrando”, contou. 

    O morador contou que, em outra ocasião, também tiveram que se mobilizar para remover uma barreira, porque não foi enviada máquina retroescavadeira para fazer a remoção. A equipe de reportagem da Tribuna esteve na Rua Alberto Pullig em abril e, na ocasião, a prefeitura informou que a via estava incluída na programação das equipes operacionais. Mas segundo os moradores, um mês depois ninguém apareceu. 

    Ruas do Centro Histórico precisam mais do que operações tapa-buracos

    Ondulações na Rua Monsenhor Bacelar são apontadas com causa de acidentes. Foto: Bruno Avellar / Tribuna de Petrópolis.

    Sem asfaltamento ou recapeamento há, pelo menos, três anos, a Rua Monsenhor Bacelar, no Centro, vem recebendo doses homeopáticas da operação tapa-buracos. A via por onde circulam, por dia, 24 mil veículos, sendo 1,8 mil ônibus, segundo a prefeitura, tem recebido manutenção viária para melhorar as condições de tráfego. E quem sofre com a solução paliativa são os motoristas. A subida é apontada por como um trecho de risco, principalmente, para motociclistas. Não é incomum o registro de quedas de moto no trecho por causa das ondulações da pista. 

    Uma licitação para a contratação de uma empresa para fazer o serviço de fornecimento, transporte e aplicação de asfalto na Avenida Barão do Amazonas e nas ruas Monsenhor Bacelar e Rocha Cardoso, foi realizada no ano passado, mas segundo a prefeitura, novamente precisou ser refeita para atender a uma exigência da Caixa Econômica federal, que solicitou que a concorrência fosse feita na modalidade de preço global. Os recursos, de R$ 710 mil, são provenientes de emenda parlamentar (Ministério das Cidades) e a CEF faz o acompanhamento da obra. 

    O edital foi novamente publicado neste ano. A nova concorrência está marcada para o próximo dia 19 de junho. De acordo com a prefeitura, o município busca recursos junto ao governo federal para que os serviços sejam ampliados. A prefeitura também diz que captou R$ 3,3 milhões, fruto de emendas parlamentares, para pavimentação em vias como a Av. Koeler, Cardoso Fontes, Vicenzo Rivetti e os circuitos formados por Caldas Viana, Floriano Peixoto, Alberto Torres, Av. Barão de Amazonas e Rocha Cardoso.






    Últimas