• A visita do cardeal Ravasi

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  • 15/06/2016 10:00

    É notável a mobilidade do papa Francisco em seus desígnios. Enquanto no Vaticano lança a exortação apostólica “Amoris Laetitia” (Alegria do Amor), propondo uma Igreja mais aberta e acolhedora, alcança divorciados e  pessoas que se casaram mais de uma vez. É uma ideia mais tolerante. No Brasil, o seu enviado, cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho de Cultura, abordou com muita propriedade temas como A Ética e o papel das lideranças. O diálogo foi na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro e no segundo momento no Teatro Municipal, onde estiveram cerca de duas mil pessoas.

    O cardeal Ravasi, homem culto e de expressão extremamente agradável, defensor de duetos  e não duelos, confessou ter vindo ao nosso país em busca da verdade entre irmãos brasileiros, respeitando posições antagônicas, mas visando ao consenso. Encontrou no cardeal  D. Orani João Tempesta apoio incondicional, com palavras também bastante oportunas.

    A conquista do nosso público se fez de modo quase instantâneo, quando o cardeal italiano confessou sua admiração pelo Brasil e focalizou o papel da literatura em nosso processo de crescimento. Citou Guimarães Rosa, com o clássico “O grande sertão veredas” e o personagem Riobaldo, falou também em Jorge Amado e Mário de Andrade, com seus temas imensos.

    Na hora do debate, o acadêmico Candido Mendes lembrou que Machado de Assis, patrono da Academia Brasileira de Letras, poderia também merecer uma referência. No dia seguinte, a acadêmica Nélida Piñon levou uma coleção de livros do “Bruxo do Cosme Velho” para que o cardeal Ravasi pudesse ler, no seu regresso à Itália. Sem dúvida, um belo presente.

    Homem de coragem, de grande intimidade com a cultura hebraica, o nosso visitante falou do combate à corrupção e mostrou, com argumentos sólidos, que a economia depende da filosofia moral.  Tocou ainda no esporte: “Como o esperanto, é uma linguagem  universal.”  Foi bastante enfático quando postulou a necessidade de se construir uma base comum em favor  da ética.  Chegou ao ponto mais forte do seu discurso. Lembrou Albert Einstein: “Esqueçam o que sabem de técnica, mas não esqueçam a humanidade”. E procurou mostrar a importância da sociologia, para ele irmã da economia, com o seu grande interesse pela pobreza que nos incumbe combater.

    Foi  nossa a pergunta seguinte: “Qual a sua expectativa no encontro com as crianças brasileiras?” Na resposta, o cardeal Ravasi demonstrou estar rigorosamente antenado com as necessidades do público mais jovem: “Preocupo-me muito com o uso excessivo das redes sociais”. Ele deixou claro que o uso de computadores pode prejudicar a natureza do processo educacional. Os pais não podem abdicar das suas responsabilidades, e aí lembramos um trecho do Concílio Ecumênico Vaticano II, quando se afirma que “a educação deve ser dada no lar e na escola”. Isso também consta da lei brasileira de educação. Foi muito bom ter ouvido esse cuidado do representante de Sua Santidade.


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