A tortura diária de perder quatro horas dentro ônibus
Se alguém disser que perdeu um ano da própria vida só em transporte público você vai achar no mínimo estranho, certo? E com razão! Afinal, como seria possível deixar 365 dias da própria existência escaparem de uma forma tão… diferente! Na verdade, esse “diferente” não é tão incomum assim. Diariamente centenas de pessoas, de municípios vizinhos, saem de casa para exercer a profissão na Cidade Imperial. Entre essas pessoas está a jornalista Thaciana Ferrante, vulgo eu mesma. Moro em Areal, há pelo menos nove anos, e durante todo esse tempo, sempre tive mais de um emprego em Petrópolis.
Escolher trabalhar longe de casa todos os dias não foi uma decisão fácil, mas saber que só assim conseguiria fazer o que amo, e ao mesmo tempo ser provedora do lar, foram fatores determinantes na minha decisão. Afinal, todos nós buscamos realizar nossos sonhos, e ajudar quem amamos. Mas lidar com essa distância, e a falta de estrutura que enfrentamos ao longo do percurso é bem complicado. Isso porque chegar em Petrópolis, tem se tornado um desafio cada vez mais difícil de enfrentar.
Empresa de ônibus não cumpre horários
Os problemas começam na espera. Isso mesmo! A complexa e imprevisível chegada dos ônibus, que nem sempre marcam presença. Quando isso acontece, quem paga o preço somos nós, os próprios usuários, que ironicamente custeamos a viagem, mas não temos acesso a um serviço de qualidade. Para se ter uma ideia, quem vive em Areal, como eu, ou nos distritos da Posse e Pedro do Rio, por exemplo, paga R$ 8 em cada passagem pelo coletivo, e mesmo assim não tem certeza se ele virá.
Isso ocorre na maior parte das linhas que atendem aos distritos, e claro, cidades vizinhas. Mas em especial a linha executiva, Posse Gaby. Simplesmente, esperamos pelo ônibus que nem sempre vem. Eu, por exemplo, já cheguei a ficar sem transporte público no último horário de uma sexta-feira, e nos dois primeiros de sábado. Muito complicado! Sem contar, que não há nenhum tipo de aviso nos pontos, sobre quebra ou acidentes na Estrada União e Indústria, problema comum, e que claro, resulta no atraso das viagens. Essa falta de comprometimento e respeito com os usuários é o que mais frustra gente que, como eu, acorda todos os dias às 5h, para cumprir devidamente a carga horária de trabalho, e por muitas vezes não consegue por irresponsabilidade dessas empresas.
Empresa intermunicipal cobra mais barato e oferece serviço melhor
Como se não bastassem os problemas da empresa Turb, linha Posse Gaby, ainda nos deparamos com uma discrepância de preço e serviço com relação a empresa intermunicipal Progresso. Os coletivos dela também são muito utilizados por quem deseja chegar a Petrópolis. Mas tem algumas diferenças que chamam atenção. A primeira delas é o preço! A linha Areal da Progresso, por exemplo, custa R$6,15 contra os R$8 da Turb, e percorre um caminho maior que a linha Posse Gaby. Além disso, os ônibus oferecem mais conforto, e raramente atrasam ou quebram, e praticamente nunca deixam de fazer a viagem. Claro, que isso é um pequeno alento para quem assim como eu depende do transporte público. Ao menos um deles tem o mínimo de qualidade. Mas essa situação também provoca questionamentos da famosa conta que é feita para definir o valor da tarifa, que seria, entre outras coisas, para manter a qualidade do serviço. Ora, se é assim mesmo, porque a Turb cobra mais caro, percorre um caminho menor, e ainda está sempre com problemas? Novamente digo, falta fiscalização e boa vontade para oferecerão usuários o que é deles de direito! Afinal, paga-se uma tarifa para lá alta.
Abandono da Estrada União e Indústria atrapalha centenas de pessoas
Para chegar em Petrópolis é preciso acordar com os galos. Afinal, são necessárias cerca de duas horas, em um percurso nada fácil, para ir ao trabalho. Entre as dezenas de obstáculos estão o excesso de veículos nas ruas, os buracos que mais parecem crateras em alguns pontos da estrada, a falta de sinalização, iluminação, e comprometimento das empresas e do município, com os cidadãos. O cansaço provocado por essa viagem, de quase quatro horas diariamente não é novidade. Mas colocar esse tempo perdido na ponta do lápis foi frustrante. Afinal, o que não é possível fazer/produzir em 20 horas semanais? São muitas horas perdidas. Além disso, a saúde vai ficando ruim. Quem faz esse percurso sabe o que estou dizendo.
Cansaço e estresse minam a saúde
O sono muda, o estresse aumenta, a imunidade cai, e com isso vem às doenças semana após semana. Já perdi as contas de quantas vezes fiquei de cama, ou fui parar nas emergências dos hospitais apenas este ano. Muitos podem achar que é bobeira, ou drama, provavelmente quem não vive isso. Mas quatro horas ou mais todos os dias no trânsito, que poderiam ser resumidas em uma, quem sabe, se não tivessem todos esses problemas, são de afetar a saúde física e mental de qualquer um. No trabalho os colegas já até brincam, e sabem que se estiverem doentes o melhor é ficar longe de mim. Caso contrário é quase certo de eu adoecer junto com eles.
Como consequência o rendimento no trabalho cai. A concentração fica deficiente, e a “inspiração” para escrever por vezes não vem. Quando isso acontece, a frustração toma conta, afinal quem ama o que faz, quer sempre fazê-lo bem feito.
Feriados e Acidentes
Se você acha que gastar quatro horas por dia no trânsito é algo surreal, tente acrescentar mais alguns bons minutos nesse trajeto quando se trata de véspera de feriado, e claro, acidentes. Petrópolis é uma cidade turística e obviamente quando há feriado prolongado, ou eventos como a Bauernfest, o trânsito que já não é bom, tende a piorar. Para os que estão a passeio, são apenas algumas horas a mais, em um dia calmo e divertido na famosa Petrópolis. Mas para quem vive, ou trabalha nela todos os dias, enfrentar esse tumulto é bastante estressante, e principalmente cansativo.
Os acidentes então já não são novidade, mas continuam sendo um grave problema para os envolvidos, e também para quem deseja continuar a viagem. Esse número é impressionante, e muito alarmante! Todos os dias sabemos de colisões, quedas, atropelamentos, veículos dentro dos rios, e infelizmente muitas vítimas. Além dos transtornos que isso causa no trânsito, ainda há o gasto público com todas essas vítimas da Estrada União e Indústria. A precariedade da via se tornou marca registrada de todo percurso, e causa muito sofrimento para quem precisa utilizar esse caminho diariamente.
Falta fiscalização
Mesmo diante de cobranças, relatos nas redes sociais, e reclamações diretamente nas empresas de ônibus, assim como na CPTrans, nada muda. Nem mesmo a impunidade das empresas, que no fim, prevalece. Quando questionamos a CPTrans, coisa que já fiz em várias ocasiões, é dito que a empresa foi notificada, em resumo, que nada foi feito. Nas empresas e com os fiscais reclamar também é inútil. Quando não se ouve grosserias, por questionar algo que está errado, simplesmente somos aconselhados a deixar para lá. Infelizmente reclamar, fiscalizar, e pedir, não modificam em nada a prática abusiva, e de grande descaso com que as empresas de ônibus, município, e Estado, nos tratam. Continuamos sendo engrenagens fundamentais para a ordem e produtividade, mas sem voz e direitos reais para pleitear e conquistar melhorias de fato.
Enquanto nada é feito, a coragem e a fé viajam junto conosco! E haja fé para enfrentar a localidade da Jucuba, por exemplo, do jeito que ela se encontra. Os perigos são inúmeros, principalmente nos dias de chuva, que por sinal se aproximam. Quem sabe… Quem sabe isso muda algum dia. Ao menos para os que virão é necessário que os responsáveis por essa bagunça, que ganha força todos os dias com a negligência/crime dos órgãos públicos, termine. É preciso ter o mínimo de dignidade e planejamento para que o cenário atual seja modificado! Quem sabe um dia…