• A memória de Judas Isgorogota

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  • 22/04/2016 11:50

    Judas Isgorogota, cujo nome verdadeiro é Agnelo Rodrigues de Melo, nasceu a 15.09.1898 em Lagoa da Canoa, no sertão de Alagoas, numa região onde se descobrem as caatingas adustas, cuja vegetação agressiva é o híspido xiquexique e o mandacaru. Foi talvez aí que começou a sentir o roçar das asas dos anjos da Poesia. Faleceu em São Paulo em 10.01.1979.

    Iniciou as primeiras tentativas poéticas nos meados da primeira guerra mundial, sendo seus poetas prediletos Bocage, Cesário Verde e Augusto dos Anjos. Estudava-lhes a maneira, o ritmo, as imagens, os pensamentos, mas sempre procurando resistir-lhes à sedução. E justiça lhe seja feita: sua “musa” não tem beleza de empréstimo – é sua, exclusivamente sua.

    Em São Paulo, publicou “Divina Mentira” e “Recompensa”, menção honrosa da Academia Brasileira de Letras. Outras obras: – Desencanto, Fascinação, Pela Mão das Estrelas, Os que vêm de Longe, Abkar e João Camacho. Publicou, no total,  quinze livros de poesias,  uma novela e cinco livros de poesias infantis. Ganhou, além de vários prêmios  da ABL, Jaboti e do Pen Club de SP , homenagens e projeção internacional onde diversas de suas poesias foram levadas para o exterior. 

    Nos dias agitados de 1957, Judas Isgorogota vê o seu nome ser festejado não só no Brasil, mas também no exterior. Diversas de suas poesias já haviam sido traduzidas para o francês, inglês, alemão, espanhol, italiano, húngaro, árabe, tcheco e lituano. Ele, porém, continuou o mesmo homem simples, amável, que sempre foi, tendo de modo invariável, nos lábios,  uma palavra de compreensão e incentivo para os escritores novos. Pedido uma definição de poesia, ele respondeu: “Poesia não se define. Vive-se com humildade, ama-se com enlevo, luta-se com tenacidade, sofre-se com resignação. Sente-se com humildade, com heroísmo e com fé. Então, bafejado pela graça divina, escreve-se com ternura e ,muitas vezes, com lágrimas…”

    O escritor Fernando Jorge, que prefacio seu livro “As amáveis lembranças”, uma coletânea de poemas, de Judas que afirmou: “são momentos de uma vida emocionalmente vivida”  No prefácio, Fernando Jorge esc reveu no início:- “O que é poesia ? – Em nosso conceito ela é acústica, ressonância de nossas emoções. Os poetas são pássaros feridos. Não existe grande poeta que desconheça a dor, pois a sensibilidade é irmã  colaça do sofrimento.” E se penitenciou no poema “Eu errei muitas vezes…” :

    Eu errei muitas vezes… muitas vezes… / E muitas vezes, na ânsia de acertar, / suportei tempestades e reveses, / como uma nau desarvorada, ao mar…

    Sofrendo, assim, perseguições soezes, / golpes cruéis e humilhações sem par, / eu errei muitas vezes… muitas vezes… / Como uma nau desarvorada, ao mar…

    Mas, se tateando no horizonte escuro, / muitas vezes errei, na luta infinda / ainda pude, assim mesmo, conservar,

    bem alto, o coração sereno e puro,/ esta suave esperança e, mais ainda, /este doido desejo de acertar!

    Depois da fúria modernista, como disse Afonso Arinos de Mello Franco, pretendiam substituir os velhos muros, torres e igrejas por amplos e higiênicos arranha-céus de cimento armado, o pensamento brasileiro, em todos os setores foi, insensivelmente, voltado à uma evolução tradicional, dentro dos quadros das legítimas aspirações ou seja, de nossa realidade, sem apelação pueril daquele tempo que constituiu, por assim dizer,  o da nossa “descaracterização”.

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