• A linguagem da educação online

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  • 14/05/2020 11:00

    Em tempos de pandemia a Educação está se reinventando no Brasil. Com atraso! Em 1989, na USP, foi fundada a “Escola do Futuro”, sob a coordenação científica do Prof. Frederic Michael Lito, a quem tive o prazer de conhecer no Congresso Internacional de Educação, em 1996, no Rio de Janeiro e onde apresentei um trabalho. O que há de diferente nessa escola?

    Desde a sua fundação, o trabalho é realizado com base nos sistemas de tecnologias da informação e comunicação – TICs, vinculados ao Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes. Todas as suas atividades estão voltadas para a pesquisa científica acerca das tecnologias e suas diferentes linguagens aplicadas à Educação. Onde quero chegar?

    Não é escola para adultos, é para crianças. Crianças iguais às que frequentam as nossas escolas públicas e/ou particulares. A diferença está no tratamento dado à Educação. Seus professores são altamente qualificados, com formação continuada e permanente; os equipamentos e ferramentas de ensino são de primeira geração aos quais todas as crianças têm acesso; e, a linguagem utilizada nas atividades é adequada ao veiculo adotado pelo professor.

    Uma atividade no papel, no caderno, ou no livro tem uma linguagem distinta daquela aplicada em uma atividade no ambiente virtual. Elementar, meu caro Watson! Infelizmente, não é assim no restante do país. Hoje, muitas escolas se viram obrigadas a produzir aulas online, porém seus professores não foram devidamente qualificados para isso. REALIDADE!

    Uma amiga tem três filhos em idades diferentes: 11, 9 e 6 anos. Os três são nativos digitais, isto é, já nasceram na Era digital. Eles têm expertise no uso das tecnologias e são excelentes alunos na escola. Estão sofrendo com as aulas online. Qual o problema? A linguagem!

    A linguagem do hipertexto é outra. Lembram-se do famoso “internetês” usado pelos jovens em ambiente virtual? Pois é! Para cada ambiente há uma linguagem própria, específica, adequada e necessária. Assim como há um tipo de vestimenta para cada ocasião. E tem mais: para cada faixa etária esta linguagem deve mudar.

    Uma criança de 6 anos ainda não é totalmente “alfabetizada” e autônoma na realização de suas tarefas. Seu desenvolvimento cognitivo (maturidade intelectual biológica) está na fase pré-operatória, ou seja, seu cérebro ainda processa as informações a partir de si mesmo (egocêntrica), o mundo existe para uso próprio. Já é capaz de reconhecer a existência do outro e de usar uma linguagem mais simbólica, porém seu pensamento funciona por analogia.

    Minha explicação está bastante resumida, entendam.

    O funcionamento do cérebro de uma criança de 9 anos é diferente, em outra fase. O de 11 já está em outra etapa da sua maturação cognitiva. Digo isso porque o problema de aprendizagem não é o veículo, o instrumento usado, internet ou papel. O problema, repito, é a linguagem.

    O exercício que seria feito no papel não deve migrar para o virtual. Ele precisa ser totalmente adaptado, repensado, reestruturado. O livro de papel não pode ser o livro do ambiente virtual. São técnicas de comunicação diferentes e exigem estruturas de pensamento diferenciadas. Não há aprendizagem se não há compreensão do objeto de estudo.

    O raciocínio dessas três crianças, e de tantas outras, não está conseguindo acompanhar e realizar a maior parte das atividades propostas pelas escolas. Culpa das crianças? Dos Pais? Não. Culpa da linguagem utilizada, culpa do atraso no sistema educacional, culpa da negligência com a formação dos professores e dos alunos e culpa também do péssimo entendimento coletivo acerca do papel da Educação formal para a sociedade. Educar/ ensinar não é para amadores!

    Continuarei meu raciocínio no próximo artigo.

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