• A função das Artes no desenvolvimento humano – parte 2

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  • 12/08/2020 09:43

     

    No último artigo, iniciei uma reflexão acerca da importância das Artes no desenvolvimento humano. Comecei falando da música, comprovadamente, inscrita no DNA humano. Pretendo concluir minha reflexão falando das outras Artes: literárias, plásticas e cênicas.

    Vou retomar meu raciocínio falando do desenho. O traçado está na genética humana. Traçar começa com um ponto. A neurociência confirma o que a Pedagogia e a Psicologia já acreditavam: toda criança desenha. O traçado está na evolução da espécie tal qual a música. Fazer figuras geométricas planas é um aspecto evolutivo. O desenho é, sem dúvidas, a maior realização do ser humano, pois permitiu desenvolver a linguagem oral e escrita, entre outras ciências como a geometria, a matemática, a arquitetura e a engenharia, entre outras.

    Ler e escrever são habilidades que não estão inscritas na nossa genética, são produtos culturais. Contudo, o cérebro humano reage de modo extremamente positivo à narrativa literária. Nossos neurônios-espelho – responsáveis por imitar o que o outro faz – permitem que, ao ler, vivamos a personagem. Por exemplo: se o protagonista sai para caminhar, nosso cérebro caminha junto, movimentando as áreas motoras. A função mimética é a base para o desenvolvimento da empatia – capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.

    A poesia atinge com elevada eficiência a área de recompensa do cérebro devido à metáfora, exercício fundamental ao nosso desenvolvimento, pois subverte a lógica e cria imagens, obrigando-nos a realizar uma análise, síntese e analogia, por exemplo.

    O que falar das artes cênicas? O corpo é um instrumento de expressão. A construção da persona no jogo teatral contribui para a formação de um sujeito autônomo e equilibrado sócio-emocionalmente, capaz de auxiliar na construção de um coletivo saudável e harmonizado. No jogo dramático, a criança aprende a controlar suas emoções e a compreender que ela não é alvo da ação do outro e nem mesmo o centro do universo. Ela aprende a respeitar o outro, o tempo e a reagir proporcionalmente às ações e fatos cotidianos. É uma aula de inteligência emocional e social.

    Ainda no uso do corpo como instrumento de expressão temos a dança. As áreas desenvolvidas na dança são as mesmas que utilizamos no aprendizado da matemática e da escrita. Os ganhos internos não são visíveis. Para aprender a ler e a escrever com compreensão, o cérebro humano precisa utilizar ativamente 17 áreas, pois não há componente genético para este aprendizado. Caso alguma área falhe, não funcione, não há compreensão. Seremos capazes apenas de sonorizar, isto é, ler sem compreender. Exatamente como tem ocorrido com a maioria dos nossos alunos: leem sem compreender, escrevem sem coerência.

    As escolas deveriam priorizar, principalmente nos anos iniciais de escolaridade, os sistemas expressivos de emoção. As artes são a principal e mais sofisticada técnica social de emoção e de interação entre os humanos. Elas promovem a mais efetiva forma de relação humana. O cérebro humano não diferencia ciência e arte, mas é profundamente movido e modificado pela emoção.

    Tanto se fala em aprendizagem significativa, em metodologias ativas, ensino híbrido…  Todas essas expressões estão em alta, na moda. A pandemia produziu uma reflexão sobre o papel da escola e das tecnologias de informação e comunicação. Só não ouvi, até agora, falarem das artes. Confesso que, nesse período de isolamento, participei como ouvinte de simpósios, seminários e congressos sobre Educação, mais de 51 palestras.

    Ensinar felicidade é ensinar a lidar com as emoções. É aprimorar os instrumentos e técnicas humanas de expressão e comunicação. É atribuir ao ensino das Artes o mesmo valor dado às demais disciplinas. Afinal, sem emoção não há aprendizado!

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