• A função das Artes no desenvolvimento humano – parte 1

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  • 29/07/2020 09:40

    Correndo o dedo pelas páginas do facebook e do Intagram, fiquei surpresa com a quantidade ofertada de vendas de cursos, palestras, livros, videoaulas sobre o ensino de inteligência emocional e social para crianças. Escolas estão criando disciplinas para ensinar felicidade às crianças. Essas mesmas escolas, se pudessem, tirariam o ensino das artes do currículo escolar. Como pode isso?

    Decidi, então, comentar a importância da presença das artes para o desenvolvimento humano, usando como base o conjunto de algumas ciências como a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia, a Pedagogia e a Neurociência. Essas áreas do conhecimento têm caminhado juntas para explicar e entender processos cerebrais, em especial, sobre o aprendizado humano.

    Uma das principais revelações, que confirma o que a Pedagogia tradicional utilizou durante milênios, diz respeito à importância do ensino das artes no desenvolvimento humano tanto na sua dimensão intelectual quanto física e emocional. E quais são as contribuições do ensino de música, canto, dança, artes plásticas, cênicas e outras?

    Começarei pela música, já que vivemos em uma cidade com uma vocação musical incontestável e, infelizmente, pouco valorizada. Por onde andam nossos corais, maestros e músicos?

    A Neurociência distingue as aprendizagens entre aquelas que já estão inscritas no DNA humano, daquelas que são aprendizagens oriundas dos saberes culturais. A musicalidade está no DNA humano. A presença da atividade musical é tão antiga na sociedade humana que os antropólogos não conseguem datar seu aparecimento, localizar o primeiro instrumento externo (as cordas vocais são instrumentos internos de produção musical) e afirmam que está presente em todas as culturas.

    Concluíram que o cérebro humano é musical. Não é necessário estudar música para cantar. Todos cantam. A fala é rítmica com pausa e tons. O estudo é uma forma de aprimoramento. Sendo assim, os neurocientistas buscaram entender o efeito da música no cérebro humano. Constataram que além de atuar diretamente no sistema emocional capaz de alterar o humor, ela também produz o chamado contágio emocional: congrega pessoas de diferentes idiomas ou etnias como se falassem uma linguagem única. A música causa impacto orgânico, produzindo no cérebro substâncias químicas relacionadas ao bem-estar emocional, físico e mental. Altera, inclusive, o sistema imunológico da pessoa, restabelecendo padrões de felicidade e saúde.

    Pessoas com Alzheimer em estágio avançado, quando escutam uma música que está registrada em sua memória, são capazes de cantar e interagir com os outros nesse breve momento. Quem tem Parkinson não perdeu a memória do controle dos movimentos e, ao ouvir música, dança com perfeito controle dos movimentos.

    A música atua e modifica fisicamente o cérebro. Crianças que estudam música ou participam de coral possuem um significativo aumento no corpo caloso do cérebro, responsável pela comunicação entre os lados esquerdo e direito. O aprendizado da fala tem como base a música, a tonalidade, pausas e cadências. A mãe reconhece o choro do bebê pelos tons.

    A simples ação de ouvir música também contribui para a educação da sensibilidade, provocando pausas no tempo. As pequenas pausas permitem que as químicas cerebrais se reorganizem, evitando o estresse, o colapso, pois não há como o cérebro humano aguentar a sobrecarga. A cognição está intimamente relacionada à organização das emoções e sensibilidades. O cérebro humano não as separa. A aprendizagem ocorre pelo caminho da emoção. Para o aluno ter atenção, ele precisa organizar suas emoções e possuir memórias afetivas. As memórias são organizadas pelas emoções e a chamada “cola da memória” é o sono, ou seja, uma pausa.

    O espaço é curto! Até aqui só falei de alguns benefícios da música. Tenho muito para falar sobre a importância das outras Artes no desenvolvimento humano. Por isso, peço a você, leitor, que acompanhe a continuidade do meu raciocínio na próxima publicação.

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