• A eternidade é aqui

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  • 17/07/2017 12:00

    Cresce o sentimento de insegurança sempre que nos deparamos com notícias sobre a morte de alguém por meio das chamadas “balas perdidas”. Não importa o lado de onde vem o disparo, a sociedade fica neste clima de vulnerabilidade. Pela frequência desses fatos, aumenta a falta de confiança da população em relação aos órgãos responsáveis pela segurança pública. Só que essa falta de confiança cria uma instabilidade emocional, porque o medo está na raiz do pânico. É visível o crescimento do número de pessoas que andam sobressaltadas. A síndrome do pânico já é diagnosticada até em adolescentes.  Viver tornou-se mais perigoso… 

     Diante de tanta violência parece que a vida perdeu o valor. A morte é banalizada. As estatísticas aumentam e o povo fica assim: vulnerável. 

    Toda vez que toco nesse assunto, lembro-me dos versos de Carlos Drummond: “os homens não melhoram e matam-se como percevejos.”

    “O tempo passa, o tempo voa” e as pessoas continuam perdendo a vida à toa, sem sentido algum. Entre as causas da violência urbana, encontramos o tráfico de drogas e a ganância por bens materiais. 

    Os crimes de colarinho branco também são letais, perversos, dissimulados. Os criminosos se apresentam como pessoas de bem em defesa do povo, porém só legislam em causa própria. Existem “canetadas” que são como uma bomba, deixam o povo sem escola, sem hospitais, sem estradas, sem remédios, sem merenda escolar, além de saquearem os cofres públicos. A propinocracia lesa a Pátria, deveria, portanto, ser considerada como crime hediondo.

    No campo, a posse irregular da terra tem sido causa de vários assassinatos não elucidados, por isso permanecem impunes. O coronelismo ainda prevalece, a exploração da mão de obra em trabalho escravo continua.

    Quando leio as notícias sobre os conflitos entre as torcidas organizadas, vem à mente, o diálogo entre Brás Cubas e Quincas Borba, personagens de Machado de Assis:

    “Quincas Borba fez-me parar e observar os cães. Eram dois. Notou que ao pé deles estava um osso, motivo da guerra, e não deixou de chamar a minha atenção para a circunstância de que o osso não tinha carne. Um simples osso nu. Os cães mordiam-se, rosnavam, com o furor nos olhos… (…)

    Quis arrancá-lo dali, mas não pude; ele estava arraigado ao chão, e só continuou a andar, quando a briga cessou inteiramente, e um dos cães, mordido e vencido, foi levar a sua fome a outra parte. Notei que ficara sinceramente alegre, posto contivesse a alegria, segundo convinha a um grande filósofo. Fez-me observar a beleza do espetáculo, relembrou o objeto da luta, concluiu que os cães tinham fome; mas a privação do alimento era nada para os efeitos gerais da filosofia. Nem deixou de recordar que em algumas partes do globo o espetáculo é mais grandioso: as criaturas humanas é que disputam aos cães os ossos e outros manjares menos apetecíveis; luta que se complica muito, porque entra em ação a inteligência do homem, com todo o acúmulo de sagacidade que lhe deram os séculos, etc.”

    Pelas ironias machadianas, encontramos o homem com atitudes inferiores aos outros animais. A estupidez insana me entristece. Não nascemos para morrer sem sentido algum. Há uma razão para estar no mundo: servir ao próximo. E dessa forma, consolida-se a eternidade pelos nossos atos. Quem acredita na justiça divina sabe que existe o perdão, mas também tem consciência de que os atos nocivos não são impunes.

    P.S: A Academia Petropolitana de Educação externa aqui o sentimento de tristeza pelo falecimento das professoras Maria José Trindade Negrão e Albertina Cunha.


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