• A Bíblia e o caos da corrupção

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 08/07/2017 12:00

     Palavra de Deus, a Bíblia é regra de fé e prática dos cristãos verdadeiros. Mas há quem ria dela como intolerante ou arcaica. Disputam interpretações, leitores que a leem com tesouras, recortando só o que lhes interessa. Isso dá “bíblias” apócrifas, corrompidas, de conveniência a opiniões equivocadas ou heréticas. De dez leitores da Bíblia se terá dez “Bíblias” diferentes. A hermenêutica, pretensa ciência da interpretação, não escapa à subjetividade de quem lê. Tão normal quanto as disputas em torno dos supostos pecados de Capitu. Mas fato é: a Bíblia permanece atual, metendo a ponta da sua faca em nossas chagas mais profundas. Como a da corrupção.

    Passagens da Bíblia gritam verdades contra esses tempos de depressão brasileira. Codificando as leis judaicas, Moisés escreveu, após estabelecer um sistema judicial: “Não torcerás a justiça, nem farás acepção de pessoas. Não tomarás subornos; pois o suborno cega os olhos dos sábios, e perverte as palavras dos justos. Segue a justiça, e só a justiça, para que vivas e possuas a terra que o Senhor teu Deus te dá” (Deuteronômio 16:19-20). O povo hebreu vinha da escravidão no Egito, grande império. Aprenderam: do muito poder vinha vasta corrupção. Assim na Grécia Clássica. Assim em Roma, onde a corrupção da República permitiu a ascensão de César. Então, os judeus do Êxodo estabeleceram metas de pureza. Governos honestos, juízes justos, nação isenta de corrupção. Fracassaram. Isaías, que profetizou 500 anos após Moisés, se dirige duramente ao povo: “Prostituta se fez a cidade que era cheia de retidão! Homicidas tomaram o lugar da justiça. Sua prata virou escória, e o vinho se misturou com água. Os príncipes são rebeldes, companheiros de ladrões; amam subornos, e andam atrás de dinheiro; não fazem justiça ao órfão, e esquecem a causa da viúva.” (Isaías 1:21-23). Lendo Isaías lê-se o Brasil. Estado prostituído e governantes ladrões, nós conhecemos. Justiça subornada, conhecemos. Crianças abandonadas, também. Viúvas e aposentados largados à própria sorte, igualmente. 

    Mas se você é dos que se incomoda com a Bíblia Sagrada, recorro então à “Bíblia do Caos” de Millôr Fernandes, onde o humor traz verdades. “Corrupção: quantos decretos-leis se fazem em teu nome!” – verbete que para os tempos de Lula, Dilma e Temer, diria das medidas provisórias. E ainda: “Os corruptos são encontrados em várias partes do mundo, quase todas no Brasil”, o que bate com a onipresença da corrupção em todos os estados, municípios e esferas de poder, em governos petistas, peemedebistas, tucanos e outros mais. Alternam-se partidos nos palácios, e a corrupção permanece. Millôr esclarece: “Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder”. “Corrompo, logo existo” – adequação de Millôr para um cogito ergo sum tupiniquim. Dele, ainda, a pérola do desânimo brasileiro: “No Brasil quem anda na linha o máximo que consegue é ser apanhado pelo trem”. Que dá concisão à consagrada frase de Rui Barbosa “De tanto ver triunfar as nulidades, prosperar a desonra, e crescer a injustiça; de tando ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. 

    Termino registrando uma saudade. Foi-se um bom, um honesto. Padre Jac, que partiu precocemente. Deixou batina honrada pois não teve vergonha de ser virtuoso exemplo a motivar quantos o conheceram.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

    Últimas