• A abertura dos jogos olímpicos

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  • 13/08/2016 12:00

    Inquestionavelmente a abertura dos jogos olímpicos, que estão sendo realizados no Rio, foi um espetáculo exuberante, encantou o mundo. Mostrou o valor dessa gente bronzeada. Como disse Assis Valente na canção “Brasil Pandeiro:” “Há quem sambe diferente noustras terras, outra gente”. Mas, com um jeitinho, a nossa cultura tornou-se peculiar. 

    Diante de uma grave crise política e econômica, conseguimos fazer um belo espetáculo com poucos recursos financeiros, muito trabalho voluntário e criatividade. A nossa Arte recepcionou a todos com o espírito olímpico. A Cidade Maravilhosa, com o Cristo Redentor de braços abertos, acolheu, dentro do possível, as delegações estrangeiras. Algumas cobraram o que não encontram nas suas próprias nações: segurança. Embora isso seja um direito de todos em qualquer parte do mundo. Até o momento, não houve nenhum atentado. Peço a Deus que nos conserve assim.

    Confesso que andava meio desacreditado, achei que a abertura desses jogos seria tão burocrática quanto à abertura da Copa do Mundo de 2014.

    Desculpe a minha sinceridade, é que “eu vim lá do sertão e posso não lhe agradar”. Sigo por este caminho, que nem sempre leva ao senso comum, para dizer que também “sou brasileiro com muito orgulho e muito amor.”

    Patrioticamente fiquei orgulhoso por assistir a esse espetáculo: ouvir o Hino Nacional, na voz de Paulinho da Viola, foi uma delícia. Ouvir o poema de Drummond, “A Flor e a Náusea”, recitado por uma Diva, levanta do divã qualquer pessimista. Ter a imagem da flor rompendo o asfalto faz lembrar a resistência da ternura, pois o amor é insistente, não desiste nunca, alimenta esperança. Ficaram magníficas as concretas linhas de Niemeyer no abstrato.

     A visão “politicamente correta” de chamar a atenção do mundo para a preservação do planeta foi oportuna. Anunciar a paz entre os povos também foi formidável. E, pelos recursos tecnológicos usados, deu para perceber que não trocamos mais ouro por espelhos. Já tem “tv em cores na taba de um índio”. Apesar de programadas para dizer “sim”. Alguns aprendem a dizer “não”. E, neste país tropical, em vez de apreciar a riqueza da fauna e da flora, existem aqueles que preferem procurar Pokémon. 

    O Brasil que eu amo é este da Aquarela, terra de Macunaíma, não made in USA, nem made in China. Prefiro coco a coca; prefiro morar em oca a ter a cabeça oca. Pindorama, meu País.

    Repito: gostei do deslumbrante espetáculo feito no Macaranã, mas lhe confesso que senti saudade da sandália de couro, do vaqueiro, da caatinga. Também não vi as bombachas dos pampas. E o chapéu do personagem Santos-Dumont, achei-o com tendências a cowboy, diferente do que ele usava. Se o pessoal tivesse visitado a Casa dele na rua do Encanto e encontrasse o Santos-Dumont de Petrópolis, levá-lo-ia para dirigir aquele 14 Bis. Este saiu do estádio e passou sobre os Arcos da Lapa muito rápido, deveria ter dado uma sobrevoada ao lado, no Morro da Mangueira, para ver onde nasce o samba na realidade, não na cenografia. 

    – Na passarela do tempo, qual a beleza que persevera: a estética ou a ética? Esse tempo também cadencia a velocidade dos passos dos sambistas, além de colocar mais roupa sobre o corpo das passistas.

    P.s: Caros leitores, vamos torcer pela vitória dos atletas nacionais para que a nossa Bandeira seja erguida no pódio. Mas não vamos esquecer os fatos que acontecem em Brasília, porque depois que essa “banda passar”, a conta pode ficar salgada nas costas do povo. Pensem nos exilados na sua própria Pátria.

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