O adeus a uma lenda do cinema
O ator canadense Christopher Plummer morreu na manhã da sexta, 5, aos 91 anos, em sua casa em Connecticut, segundo informou sua mulher Elaine Taylor, com quem era casado havia 53.
Plummer era uma das lendas de Hollywood, atuando em filmes como A Noviça Rebelde, O Homem Que Queria Ser Rei e Elsa & Fred: Um Amor de Paixão. Ele ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante por Toda Forma de Amor (2010), tornando-se o mais velho ator a vencer nesta categoria (estava com 82 anos).
Lou Pitt, seu amigo de longa data e empresário ao longo de 46 anos afirmou: “Chris era um homem extraordinário, que amava profundamente e respeitava sua profissão com humor autodepreciativo e musicalidade nas palavras. Ele era um tesouro nacional, que apreciava profundamente suas raízes canadenses. Por meio de sua arte e humanidade, ele tocou todos os nossos corações e sua vida lendária durará por todas as gerações vindouras. Ele estará para sempre conosco”.
Plummer manteve uma carreira longeva, com 217 créditos em filmes, curtas e programas de televisão. Ele se tornou conhecido ao interpretar o capitão John Von Trapp ao lado de Julie Andrews, que viveu Maria, no filme A Noviça Rebelde, musical de enorme sucesso dirigido por Robert Wise em 1965. Mas, prova de sua importância cênica, foi novamente indicado para o Oscar recentemente, na categoria de ator principal, por Todo o Dinheiro do Mundo (2017), no qual substituiu às pressas Kevin Spacey, afastado por estar envolvido em denúncias de abusos sexuais.
Com o escândalo, o filme precisou ser inteiramente refeito – e em tempo recorde, para evitar um prejuízo. Para sorte do diretor Ridley Scott, Plummer, que encabeçava a lista dos substitutos de Spacey, estava disponível e aceitou o papel. O restante do elenco também aceitou refazer as cenas ao lado de Plummer.
O ator canadense irradiava tranquilidade e um humor de quem se sentia seguro com o caminho escolhido. Ao aceitar o prêmio por Toda Forma de Amor, Plummer brincou com a estatueta: “Você é apenas dois anos mais velha do que eu, querida? Onde você esteve toda a minha vida?”. Foi um justo reconhecimento por seu sensível trabalho como um pai que se apresenta como gay para o filho, no final da vida. Antes ainda, em 2009, tinha recebido outra indicação, novamente como coadjuvante, por A Última Estação, em que interpretou o escritor russo Tolstoi em seus últimos dias.
Nascido em Toronto, no Canadá, em 13 de dezembro de 1929, Christopher Orme Plummer se motivou a seguir a carreira artística depois de assistir ao filme de Laurence Olivier, Henry V, de 1944, que despertou uma paixão por Shakespeare que permaneceria com ele pelo resto de sua vida.
Sua estreia na Broadway aconteceu em 1953 e, seis anos depois, ganhou sua primeira indicação para o Tony pelo drama J.B.. No cinema, ele estreou sob a direção de Sidney Lumet em Quando o Espetáculo Termina (1958), abrindo as portas para uma impressionante série de trabalhos, mas sua carreira realmente explodiu quando viveu, ao lado de Julie Andrews, o papel do rigoroso viúvo austríaco, que tratava militarmente seus filhos, em A Noviça Rebelde.
Refém do sucesso
O musical logo se tornou uma das maiores bilheterias de todos os tempos, mas Plummer sempre nutriu sentimentos confusos sobre seu papel. “Nos filmes, acabei estigmatizado como um ator romântico, mas bastante tenso, quando, na verdade, queria fazer tantas coisas mais interessantes – e era capaz de fazê-las”, disse ele em 2005. “Em vez disso, estava ficando bastante preso a esse perfil. Pelo menos, eu estava ganhando dinheiro. E podia fazer teatro.”
Nos palcos, seu talento foi reconhecido, com os dois prêmios Tony recebidos (pelo musical Cyrano e por Barrymore), além de outras sete indicações – as mais recentes vieram em 2004, por Rei Lear, de Shakespeare, e três anos depois, pelo belo trabalho em Inherit the Wind.
De fato, o talento de Plummer logo se impôs e ele conseguiria participar de filmes variados, desde a ficção científica de Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida (1991) até Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (2011), sem se esquecer de dublar um personagem na animação Up – Altas Aventuras (2009) e de também ceder a voz para um game inspirado na saga Star Trek.
Sua disposição parecia infinita, pois não cessou de trabalhar nos últimos anos. Participou, por exemplo, da ação Entre Facas e Segredos e também de Verdade e Honra, ambos de 2019. E ainda emprestou sua bela e imponente voz para Heroes of Golden Masks, que ainda está em filmagem.
Para Plummer, definitivamente não existia aposentadoria. Ele gostava de dizer que sempre encontrava um papel para sua idade, mesmo com o passar dos anos, o que normalmente empurra os atores para uma aposentadoria forçada. “Acho que um dia, quando não existirem mais peças para mim, estarei salvo, pois sempre haverá Matusalém”, brincou em entrevista ao site Entertainment Weekly, em 2005. “E talvez Deus. E então é isso.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.