São Paulo detecta a variante do AM; mutação do vírus avança em Manaus
A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo confirmou nesta terça-feira, 26, os três primeiros casos importados de covid-19 causados pela nova variante brasileira do coronavírus, originária do Amazonas e que vem sendo apontada como uma das razões para a explosão de casos da doença em Manaus desde dezembro.
Uma análise preliminar feita por pesquisadores brasileiros e britânicos, divulgada na segunda-feira, mostra que a cepa, chamada de P.1, pode ter-se tornado predominante na capital amazonense.
A partir do sequenciamento genético do vírus coletado em exames de pacientes infectados na cidade, os cientistas verificaram que, até novembro, não havia registro da cepa P.1 entre as amostras analisadas. No mês de dezembro, 52,2% dos genomas sequenciados eram da nova variante. Em janeiro, esse índice passou para 85,4%.
Embora o número de amostras sequenciadas seja pequeno (142), os cientistas acreditam que os “os dados sugerem um aumento na proporção de casos da variante P.1 em Manaus”, segundo texto publicado na plataforma científica virological.org pelo pesquisador Nuno Faria, um dos integrantes do Centro Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (grupo Cadde), que conta com pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
De Manaus
Os três casos identificados em São Paulo são os primeiros registros da nova variante fora do Amazonas. De acordo com a secretaria paulista, os três pacientes haviam passado por Manaus. A confirmação foi feita por meio de sequenciamento genético do Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz, referência nacional e vinculado à pasta estadual. “O vírus foi sequenciado com base em amostras com resultados positivos de exames processados pelo Centro de Virologia de três pessoas que tiveram covid-19 e passaram por atendimento em serviços da rede pública de saúde em São Paulo, com histórico de viagem ou residência em Manaus”, disse a pasta, em nota.
Para Ester Sabino, integrante do grupo Cadde e professora do Instituto de Medicina Tropical da USP, é possível que a variante já tenha chegado a outros locais do País. “Não é tão simples você achar (amostras positivas na população geral), mas seguramente a cepa já deve estar circulando em outros Estados do Brasil”, disse.
O Estadão entrou em contato com as secretarias de Saúde de 23 Estados e do Distrito Federal para saber se a variante do coronavírus de Manaus já havia sido identificada nas outras unidades da federação. Até o fim da tarde, 14 delas, das cinco regiões do País, deram retorno. Nenhuma delas, no entanto, com exceção de São Paulo, identificou a nova cepa.
Paraíba e Pernambuco ressaltaram que têm encaminhado amostras regularmente a laboratórios, para sequenciamento genético do vírus. Mas até agora não foi constatada a variante brasileira nesses Estados.
Minas Gerais e Rio Grande do Norte demonstraram estar ainda mais vigilantes. As duas unidades da federação informaram que pacientes que estiveram em Manaus têm tido amostras do vírus encaminhadas para análise. Além dos citados, os Estados que responderam foram Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso, Distrito Federal, Roraima, Tocantins, Bahia e Maranhão. O Estadão não conseguiu contato com representantes do Piauí e do Amapá.
Risco
A variante P.1 tem mutações importantes na proteína spike, responsável por permitir a entrada do patógeno nas células humanas. Ela é derivada de uma das variantes predominantes no País, a B.1.1.28. É provável que tenha maior poder de transmissão por causa da mutação N501Y, presente também nas variantes identificadas no Reino Unido e na África do Sul. “Essas mutações poderiam estar associadas a um maior potencial de transmissão, apesar de ainda não haver comprovação científica de que esta variante seja mais virulenta ou transmissível.”
Outra mutação que causa preocupação é a E484K, já associada em estudos a um potencial de escapar de anticorpos, o que pode favorecer reinfecções e até afetar a eficácia de vacinas. Novas pesquisas estão sendo feitas para determinar se a variante brasileira e as demais são mais contagiosas, letais ou se afetariam o desempenho dos imunizantes.
Segundo Adriano Abbud, diretor de Respostas Rápidas do Instituto Adolfo Lutz, uma rede de quatro laboratórios, incluindo o Lutz, foi formada pelo Ministério da Saúde em outubro passado para monitorar novas variantes.
“Estamos sequenciando 80 amostras por mês que fazem parte da rotina de monitoramento e outras 80 de situações específicas, como de viajantes vindos de locais de surto por nova variante”, explicou.
Os sequenciamentos realizados pelo Lutz foram depositados no banco de dados online e mundial Gisaid (Iniciativa Global de Compartilhamento de Todos os Dados sobre Influenza). De acordo com a secretaria, eles têm alta qualidade e confiabilidade, correspondendo a 99,9% do genoma do vírus. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.