Uma conta que não fecha
Aprendemos desde cedo que o preço cai se o custo da matéria-prima utilizada para fazer o produto cai. Não é isso? Então, por que quando o preço do barril de petróleo cai no mercado internacional o preço da gasolina no Brasil não cai e até aumenta? O barril de petróleo chegou a valer mais de US$115,00 em 2014, está com o barril cotado abaixo dos US$30,00 dólares em janeiro de 2016 — e é possível que caia até US$20,00 antes de voltar a subir.
Por conta disso nos Estados Unidos, os preços dos combustíveis, com base em janeiro de 2016, estão caindo a mais de 100 dias consecutivos, e chegaram a US$1,99/galão. Nos moldes brasileiros isso equivale a US$0,53 ou cerca de R$2,11, considerando o dólar como R$4,00.
Por que isso ocorre? Por que o Brasil está contra a corrente? Eu posso explicar. Existe uma base histórica para isso. Mas não é por que fomos colonizados por portugueses. Sempre tem alguém que fala isso, não é mesmo?
Começou assim: o petróleo é nosso. Depois veio o Brasil autossuficiente de petróleo em 2006. Só que não explicaram na época que era uma autossuficiência relativa: nossa produção recorde era de óleo pesado, que não serve para produzir diesel e gasolina. Para isso a Petrobras importa óleo leve. Nessa época, como a exportação do óleo pesado era igual à importação do óleo leve, a balança comercial se equilibrava e até dava para dizer que éramos autossuficientes. O problema começou mesmo quando passamos a importar mais óleo leve a partir de 2010. Quando chegamos em 2014 o preço do barril de petróleo começou a subir devido aos conflitos no Iraque e chegou a US$115,00 em junho daquele ano.
Mas em vez de reajustar os preços dos combustíveis, a Petrobras, por motivos políticos, segurou os preços para conter a inflação, pois como todos sabemos os combustíveis têm um peso importante no índice devido ao transporte rodoviário predominante no país. Desta forma a “nossa” Petrobras começou a ter lucros menores. E, agora, ela deseja recuperar as perdas desse período.
Está aproveitando o momento para aumentar seus lucros e assim diminuir o prejuízo acumulado durante o não repasse aos preços. Com isso, a Petrobras está ganhando cerca de R$3 bilhões por mês com a queda do petróleo.
Mas não é só isso que impede a diminuição do preço dos combustíveis. Somente os impostos correspondem a 53% do preço final da gasolina e 41% do diesel, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
Um item mais polêmico é o custo de operação dos postos de combustíveis, pois implica em desemprego. Além do aumento de mais de 50% na energia elétrica, os postos são obrigados a contratar frentistas por força de lei, que proíbe a operação de máquinas de autoatendimento no Brasil. Com isso se preserva o emprego de cerca de 500.000 frentistas. A contratação de um frentista implica em cerca de 68,17% de encargos trabalhistas sobre o salário, mais benefícios como vale-alimentação, vale-transporte e adicional de 30% por periculosidade.
Logo podemos perceber que essa é uma história que apesar de ter uma explicação, está longe de ser razoável, pois agrega uma série de “politicagens” e decisões tomadas historicamente para que alguém ficasse bem na foto em alguma época. E, como sempre, infelizmente, isso estoura na ponta mais fraca: nós, pobres mortais.
mairom.duarte@csalgueiro.com.br