• A face negligenciada no tratamento da covid-19

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  • 23/12/2020 12:00

     

     

    Por Jaqueline Deister*

     

    Humanização. Nos últimos dias essa palavra tem permeado meu pensamento. Meu pai foi um dos 188 mil brasileiros e brasileiras vítima da covid-19. Por trás dessas milhares de pessoas, há famílias – filhos, filhas, pais, companheiros e companheiras – que sofrem e adoecem juntamente com a imposição dolorosa de um tratamento solitário que obriga a cortar vínculos e afeto para com aqueles que amamos. A covid-19 tem muitas faces e uma das que ainda falta atenção e cuidado é justamente para com as famílias.

     

    Para tanto, é fundamental que os hospitais especializados em atender pacientes com covid-19 tenham uma equipe de assistência social para lidar com os familiares, para passar informações e promover o mínimo de suporte e acolhimento necessários para quem está do lado de fora.

     

    A comunicação jamais deve ser negligenciada na estrutura montada na rede de saúde pública e privada para lidar com a covid-19.

     

    Em Petrópolis, o que observei, enquanto experiência pessoal, foi um descuido e descaso com quem está do lado de fora implorando por informação e notícia. Ligar, ligar e ligar até desocupar a linha, até a recepcionista atender o telefone, até o médico estar liberado para falar. Não há uma estrutura destinada para as famílias no Hospital Nossa Senhora Aparecida (HNSA), antiga Casa da Providência, e que tem sido usado pela prefeitura para atender pacientes de covid-19.

     

    Isso precisa ser denunciado, pois muitas famílias, no atual momento, estão tendo as suas dores intensificadas pelo descuido de uma administração hospitalar que negligencia quem está do outro lado. Médicos estão sobrecarregados com rotinas extenuantes de trabalho e ainda cabe a esses profissionais o único contato com as famílias.

     

    A saúde precisa ser entendida para além da tecnologia e medicação, principalmente diante de uma doença tão avassaladora como a covid-19, que em sua invisibilidade e solitude é capaz de provocar sérios danos psicológicos para quem, também, está fora das paredes hospitalares.

     

    Sabemos de toda a luta atual dos profissionais da saúde para enfrentar à covid-19. A dedicação integral. Por isso, também reivindico a humanização e uma mínima gestão hospitalar que saiba gerir com competência uma estrutura que envolve profissionais, pacientes e família.

     

    O atendimento humanizado está ligado à integralidade do cuidado do paciente, da família e da equipe, a união da tecnologia com a comunicação interpessoal, entendendo todos os envolvidos como sujeitos do processo terapêutico que necessitam de solidariedade, acolhimento e respeito.

     

    *Jornalista e filha de Sebastião Augusto Moraes, vítima da covid-19 no município de Petrópolis.

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