• Ações do Carrefour têm queda em meio à indignação por morte de homem negro

  • 24/11/2020 08:57

    As ações do Carrefour sofreram queda de mais de 6% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nessa segunda-feira (24), em meio à onda de indignação pela morte de um homem negro em um supermercado do grupo na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A vítima, João Alberto de Freitas, de 40 anos, foi espancada até a morte na noite da última quinta sexta-feira (19) por pelo menos dois seguranças contratados por uma empresa de segurança que prestava serviço para o supermercado.

    Nessa segunda, por volta das 14h, as ações do grupo francês CRFB3 tiveram queda de 6,18%, embora o índice Ibovespa das principais ações registrava alta de 0,85%, As ações do Carrefour fecharam o dia em queda de 5,35%. Na Bolsa de Paris, as ações do Carrefour registraram queda de 2,21% nessa segunda-feira.

    Era o 1º dia de PM no Carrefour; funcionária também foi afastada

    Preso após matar João Alberto Freitas, de 40 anos, o policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva, de 24 anos, trabalhava pela 1ª vez como segurança terceirizado do Carrefour no dia do crime. Ele foi contratado para suprir a falta de outro vigia, em jornada de 12 horas. Silva e o outro segurança foram filmados durante o espancamento e afastados do Carrefour. A empresa informou nessa segunda-feira ter afastado também a funcionária de blusa branca, que aparece no vídeo com cenas da agressão, e não interfere.

    “Aquele tinha sido o primeiro dia dele (Silva) no mercado e o pior, faltava apenas uma hora para ele ir embora. Na verdade, ele foi contratado por um outro colega, que iria realizar o pagamento do serviço diretamente para ele”, disse o advogado do PM temporário, David Leal.

    Embora seja vedada atuação de PMs no horário de folga, Silva aceitou o serviço para ampliar a renda familiar, afirmou o advogado. “Ele viu que o bico não servia para ele, mas quis complementar a renda. Ficou com receio de aceitar o trabalho, que acaba sendo mal visto. Ele estudava para concurso e tinha o sonho de ser policial rodoviário federal. Foi no primeiro dia que ocorreu aquela grande fatalidade”, disse.

    Ele afirma que Silva não tinha vínculo empregatício com o Grupo Vector, empresa responsável pela fiscalização na unidade do Carrefour. Já o Grupo Vector disse que ele havia sido contratado no dia 19, estava devidamente registrado e teve o vínculo rescindido no dia seguinte ao assassinato.

    Leal diz que o caso é uma “fatalidade” e diverge da prisão em flagrante. Os dois seguranças vão responder por homicídio triplamente qualificado – por motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Na noite de quinta, eles ficaram em silêncio durante a detenção. “Houve homicídio culposo, provavelmente, pela pressão exercida quando ele foi imobilizado. Meu cliente atuou para conter a agressão. Não teve nenhum cunho racial.”

    A reportagem não conseguiu contato com a defesa do outro vigia, Magno Braz Borges. O Carrefour não informou a identidade da outra funcionária afastada. A Polícia Civil já havia dito que pode investigar as outras pessoas vistas na cena do crime por omissão de socorro.

    “Já ouvimos mais de vinte pessoas no inquérito e vamos seguir realizando as diligências. “, disse Roberta Bertoldo, a delegada responsável pelo caso. A investigação tem prazo de 10 dias para concluir o inquérito a partir da instauração. Caso contrário, os trabalhos podem ser estendidos por mais 15 dias.

    Reabertura

    A loja do Carrefour onde João Alberto foi morto reabriu nessa segunda-feira em Porto Alegre, após três dias fechada. No local, era possível ver rastros da manifestação de sexta, em que houve invasão e depredação do estabelecimento. Lojistas e frequentadores do supermercado relatam que já flagraram excessos dos vigilantes.

    Pichações, cartazes e flores em homenagem à vítima eram visíveis nas grades do Carrefour. Na parte interna, o clima era de tensão; funcionários com semblante preocupado trocavam poucas palavras e o movimento era bastante abaixo do normal. Ênio Dagoberto de Lima, de 67, é ambulante e monta sua barraca com chapéus e camisetas na parte externa da loja. Segundo ele, o comportamento agressivo dos seguranças já era perceptível. “Sempre tinha umas mulheres que vendiam macela (planta). Eu vi vezes em que esses dois seguranças colocaram elas para rua com as crianças e tudo”, diz.

    Em nota, o Carrefour disse dar assistência aos lojistas. Para as lojas com avarias, disse estar em contato com os responsáveis para avaliar medidas.

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