A realidade paralela de Dilma
O perfil atoleimado de Dilma Rousseff no exercício do cargo máximo da nação — que enterrou alcunhas míticas como “gerentona” e “grande executora de projetos” — não é reflexo da crise política, econômica e social ou dos rombos bilionários promovidos pela corrupção generalizada, tampouco culpa da Operação Lava-Jato ou das muitas bobagens bêbedas e ininteligíveis ditas em discursos oficiais. Na verdade, tudo isso é a consequência imediata da baixíssima qualificação e má-fé dos seres que Dilma escolheu para habitar suas cercanias.
Extraordinários exemplos deste dolo na função de assessorar a “madama” do Palácio do Planalto abundaram sua antessala na última semana, reduzindo ao escárnio a Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República. Não bastasse a bizarrice de transformar em “pixuleco” do PMDB o órgão responsável por gerir toda melindrosa infraestrutura aeroviária brasileira, a assessoria planaltina decidiu vandalizar dados oficiais e vender às mídias regionais uma colorida realidade paralela que em nada condiz com a degradação, com o desmonte, com a esculhambação que assola o Brasil neste momento histórico.
Na última quinta-feira, 28 de janeiro de 2016, a Secretaria de Aviação Civil divulgou os resultados da Pesquisa Permanente de Satisfação dos Passageiros, relativos ao 4º trimestre do ano passado, com mais de 13 mil entrevistados entre outubro e dezembro, avaliando os serviços, o atendimento, a infraestrutura e diversos itens de gestão dos nossos 15 principais aeroportos.
O documento completo está disponível no portal da Secretaria de Aviação Civil. No entanto, num minucioso trabalho de vilipêndio à realidade, a assessoria de imprensa da pasta fez uso da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República para entregar pacotes fechados aos jornalistas e mídias regionais, ocultando a vastidão de números ruins e exaltando apenas o item de melhor avaliação do aeroporto de referência daquele público-alvo.
O caso mais emblemático é o da pista de pouso de Cuiabá — misteriosamente chamada de Aeroporto Internacional Marechal Rondon, uma vez que aeroporto aquilo não é, quiçá internacional! —, que terminou a pesquisa em último lugar, com a pior avaliação em praticamente todos os 48 quesitos. Quem já teve a oportunidade de pousar na capital de Mato Grosso sabe que o aeroporto é minúsculo, possui apenas duas esteiras de bagagem, para embarcar ou desembarcar o passageiro é obrigado a caminhar até as aeronaves — nos habituais dias de chuva, o banho é garantido! — e, no período da pesquisa, todo sistema de ar condicionado estava pifado, justo na capital mais quente, conhecida como “Cuiabrasa”. No entanto, a assessoria palaciana enviou um release oficial para a imprensa mato-grossense com o seguinte título: “Aeroporto de Cuiabá tem check-in e embarque mais rápidos do país”.
Já a imprensa amazonense recebeu o seguinte briefing: “Satisfação dos passageiros é recorde em Manaus”, destacando que o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes obteve uma “evolução histórica”. Mas, os números da pesquisa colocam o aeroporto manauara entre os sete piores do Brasil. O mesmo acontece com Brasília (“Aeroporto se mantém acima da meta nacional de satisfação dos passageiros”; é o 6º pior), Rio de Janeiro (“Passageiros estão mais satisfeitos com aeroportos do Rio”; Galeão é o 3º pior e Santos Dumont o 5º) e Salvador (“Atendimento no aeroporto de Salvador é o mais cordial do país”; figura no ranking geral com o 2º pior).
Noutras palavras, ao invés de trabalhar com dados reais e empenhar esforços na busca de soluções para as muitas mazelas reveladas pela pesquisa da Secretaria de Aviação Civil, a assessoria de Dilma Rousseff prefere pinçar números e criar uma realidade paralela, falaciosa e com enorme potencial de dano à gestão da nação. Por essas e outras, enquanto estoca vento, beatifica milho e santifica mandioca, a presidente da República parece viver noutro planeta, vociferando desinformações e exibindo profundo desconhecimento do país que (des)governa.
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