Guedon, herói do amor universal
Guerreiros são imortais. A memória de seus feitos fica impressa na vida que segue atingindo a sociedade que deles guarda a devoção bela da boa lembrança. Cancioneiros e poetas cultivam suas antigas – sempre presentes – imagens e declamam e cantam canções pelas feiras da vida, propagando a saga mágica quanto perpétua de suas façanhas memoráveis. A memória viva dos heróis, nas histórias dos povos, geram a encantadora seara dourada que os sois dos tempos beijam e cultivam. E alimentam pelos séculos, que o tempo vai consumindo, nos ciclos das gerações que necessitam de mitos e parábolas encantadoras no gestar do molho da vida, nem sempre prazeroso, nunca feliz em totalidade. Aos paladinos a vida confere os predicados santos de manutenção da esperança e nas espadas luzentes o escorrer da seiva rubra cinematografa a dor, mesmo na vitória, porém sempre uma derrota quando em luta a cordialidade que deveria imperar na sociedade humana.
Em outra face o amor dos heróis pela humanidade é expressa na palavra de ação consciente do esclarecimento através da eloquência nas tribunas, como no ciciar amável de pares apaixonados, como na escrita vibrante de conceitos de fé, combate, coragem, destemor acima da prudência, diante do mágico pendor do guerreiro pelo terçar das palavras em textos candentes, opinativos, criativos, que alimentam de ideias e reflexões novas os raciocínios engessados de preconceitos e desejos de contendas prejudiciais às sociedades em permanente mutação.
Nós – aqui na serra das flores – tivemos – e temos e mantemos e manteremos – um herói legítimo, senhor da lógica, de textos precisos, pensamentos lúcidos, combatente minuto a minuto pela vida em favor do semelhante humano, buscando – destemido guerreiro -, em seus artigos na imprensa, nas conversas familiares ou nos grupos de trabalho que liderava – a justiça perfeita, a solidariedade pela fé na criatura humana em sociedade.
Nosso amigo nada temia quando incomodava os poderosos e sabia que seu trabalho atingia a quantos estavam desgostosos diante das opções que a vida – na dita democracia – alimentava muito mais os egos imbecis do que a razão coletiva do bem viver e do amor ao próximo.
Deixou-nos Philippe Guedon, o francês-brasileiro, agitado combatente e tranquilo conversador, de ação direta e decisiva e que, já idoso, mantinha seus artigos em nossa imprensa, em especial, na Tribuna de Petrópolis, sempre atento aos acontecimentos, sempre de palavra conciliadora e objetivamente repletas de verdades e raciocínios encantadoramente lúcidos, atuais e necessários. Guedon não desistia nunca, sempre em sua trincheira patriótica e comovente vigilante militância pelo bem e a justiça.
Alguém pergunta: – Guedon era francês? Por que tanto lutou pelo nosso país?
Sim, francês e brasileiro; francês pela origem do nascimento e da criação própria dos europeus que amam a história, que enxergam a vida, têm na carne a indignação e olhos de horror diante de tantas cruentas guerras e, até, impressas nas retinas as imagens horrendas de tantos megalomaníacos conflitos bélicos.
E torna-se ele brasileiro e veste o coturno da luta, com suas armas preciosas, as palavras e impressionante ação destemida além de nosso tempo, de tal força humana, que revela, para nós, que abrigamos em nossa história um verdadeiro herói. Imortal. Definitivo. Philippe Guedon.
Seus artigos não estarão mais nessas páginas da Tribuna, junto aos nossos, de mesmas pugnas e objetivos saudáveis em favor da solidariedade. Agora, habita o coração da saudade e no vazio da ausência ficará eternamente a lembrança do herói autêntico, verdadeiro, de comovedor e magnânimo amor universal.