Florália e a habilidade de aprender com as flores
Repletas de individualidades, pode ser que, à primeira vista, elas te surpreendam por seu porte, tonalidade ou perfume. Incapazes de proferirem palavras, o tempo evidencia, porém, que as orquídeas surpreendem, sobretudo, por sua habilidade de transformar quem, como na Florália, mais do que entreter, se deixou aprender com as flores.
Eleita, em meados dos anos 90, o maior garden center da América Latina, pode-se dizer que mais até do que flores, a Florália fez crescer o carinho do senhor Luiz Strzalkowski pelas plantas. Um dos primeiros moradores do Samambaia, ele foi não apenas funcionário do empreendimento por 44 anos, como houve uma época em que dele também foi morador.
“Comecei a trabalhar lá aos 14. Fiz o primeiro, o segundo grau e o curso superior trabalhando lá, e depois fui morar dentro da Florália. Minha família nasceu lá dentro”. Aos 72 anos, ‘seu’ Luiz recorda as exposições promovidas pelo espaço e as lições aprendidas junto aos proprietários, Rolf Altenburg e Siegwald Odebrecht, o ‘Zico’.
“Aprendi tudo com eles. Só tenho a agradecer. A Florália tinha 50 mil metros quadrados e era muito visitada. Em época de exposição até controlar o trânsito a polícia precisava”. Abertas por apresentações dos Canarinhos, as exposições exibiam o dinamismo das orquídeas e dos funcionários, que, segundo ‘seu’ Luiz, chegaram a ser mais de 60.
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Fundador do Orquidário Serrano, no Santa Mônica, o ex-gerente da Florália tem, hoje, pelo menos “50 mil plantinhas, em diferentes estágios” dentro do próprio negócio. ‘Plantinhas’ que cultivam nele a paciência e o relembram do caminho percorrido junto da esposa, a senhora Maria José Manso Strzalkowski, de 71 anos.
Os dois se conheceram quando cursavam Economia, se casaram, e das várias décadas que já desfrutaram juntos, pelo menos três delas se passaram dentro da Florália, onde dona Maria, inclusive, administrou a saudosa Casa de Chá do espaço. O antigo e charmoso chalé é até hoje lembrado pelos brownies, café colonial e almoços servidos.
“Além de trabalhar fora, já que sempre fui funcionária pública, eu cuidava da Casa de Chá. Nossa vida foi no meio das plantas, vendo as orquídeas florescerem”. Relendo o “currículo” dos dois, como ela mesma descreve, dona Maria reflete sobre o impacto exercido pela natureza na vida dos dois e da filha, Márcia, que na Florália nasceu e cresceu.
“A natureza sempre educa muito. Até porque educar é mais com exemplos do que com palavras. E lá eu aprendi que a gente vive não só pra gente, mas para os outros”. E talvez tenha sido esse o pensamento que motivou, lá atrás, o senhor Rolf a fundar a Florália: iniciativa que impactou não somente ele próprio, mas a comunidade como um todo.
Registro aéreo cedido pela família do senhor Rolf Altenburg comprova a amplitude do terreno de 50 mil metros quadrados em que funcionou a Florália. Foto: Arquivo pessoal Sandra Altenburg Odebrecht
Neta de Rolf e filha de Siegwald, o ‘Zico’, Sandra Altenburg Odebrecht, de 63 anos, explica que, na verdade, a Florália teve início em Niterói, em meados dos anos 50. E se no começo o negócio era uma parceria entre seu avô e pai – genro e primo de Rolf, a empresa agora é comandada por Sandra e as irmãs Agnes e Maria Helena.
“Meu avô foi o primeiro a fazer reprodução de orquídeas. Era uma pessoa curiosa, autodidata. A gente sente falta da sede de Petrópolis, da vista do Alcobaça, que era linda”. Chegando a contar, no passado, com lojas no Leblon, Rio Sul e Humaitá, a Florália despertou curiosidade e felicidade por onde passou.
O chargista Alexandre Rivero, de 57 anos, recorda, por exemplo, o tempo em que o tio, Nélio Carvalho, trabalhou como jardineiro do negócio. Morador do Alcobacinha, Nélio viveu na Florália um próspero capítulo de sua história. Foi graças ao emprego, aliás, que além de satisfação ele encontrou os meios para construir a casa própria.
“Uma boa fase da vida do meu tio foi trabalhando na Florália. E quem também trabalhou lá foi o avô da minha esposa, o Hans Dürig”. Especialista em reprodução de orquídeas, paisagista e botânico, Alexandre diz que Hans chegou a trabalhar com o também paisagista Burle Marx e que deu grande impulso à Florália.
“Ele trabalhou por muito tempo na Florália e depois montou a própria chácara dele, lá no Quissamã. Era a Chácara do seu João”. Motivo de sorrisos para petropolitanos, o jardim também é lembrado por moradores de outras cidades, como é o caso de Carlos Eduardo Franca, de 58 anos. Carioca, ir à Florália era programa certo dele e de sua família.
“Eu e meus irmãos íamos sempre lá com a minha avó, Elvira, que era petropolitana. Ela ia me dizendo os nomes das flores e eu ficava fascinado, doido pra gravar também”. De amor perfeito a violetas e patas de elefante, o local, ao menos aos olhos de Carlos Eduardo, se assemelhava a um parque de diversões.
“Era essa dinâmica de identificar as flores, as plantas, e depois pedir pro meu pai comprar uma muda para levar para casa. Ficávamos sempre muito contentes em ir lá”. Pautada pela ideia de que uma vez que uma planta cresce, o valor dela também aumenta, a Florália fez crescer o (a)preço pelas flores e pela importância de se aprender com elas.
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