A festa de Ibeji, Erê ou Cosme e Damião
No dia 27 de setembro se celebra em muitas partes do Brasil uma festa religiosa bastante popular, que se formou no entrecruzamento de diversas tradições religiosas. Ela é conhecida por diversos nomes, dependendo da origem religiosa. Assim, advindo do Candomblé, o nome mais usado é festa de Ibeji, da tradição da Umbanda vem o uso do nome Erê e da tradição cristã o nome de Cosme e Damião. Mas é comum que se use qualquer um destes nomes, independente da tradição, como também é fato que a festa ultrapassou o âmbito destas instituições religiosas para se tornar uma festa popular, principalmente no Nordeste e Sudeste. É uma festa dedicada às crianças. No Nordeste – especialmente na Bahia – se costuma fazer neste dia um prato típico chamado de Caruru dos Meninos ou Caruru dos Santos. Este prato é servido gratuitamente para as crianças. No Sudeste – mormente no Rio de Janeiro – há o costume de se distribuir gratuitamente pipoca, balas e doces para as crianças. Estas passam boa parte do dia em certos lugares da cidade, onde estas guloseimas são distribuídas. Há – por parte de quem distribui estes doces – um certo sentimento de gratidão pelas coisas boas ocorridas e pedidos de que a vida continue transcorrendo bem. Muitas destas distribuições de pipoca, doces e balas são fruto inclusive de pagamento de promessas feitas. Na tradição religiosa, Ibejis são os orixás gêmeos no Candomblé, cujo ritual está ligado especialmente à proteção das crianças; Erês são as entidades-crianças na Umbanda; e Cosme e Damião são santos-gêmeos que teriam sido médicos em suas vidas e cuidado especialmente de crianças. Assim, há nesta festa uma confluência de tradições diversas em torno da alegria e cuidado para com as crianças. Ela também tem uma função de socialização religiosa, pois neste dia as crianças costumam circular por diversos ambientes religiosos, promovendo um sentimento de integração. Há um outro elemento presente nesta festa, mais destacado na iconografia, que é a relação religiosa com os gêmeos. Muitos povos e culturas veem no fenômeno do nascimento de gêmeos algo sagrado a ser reverenciado. Há por exemplo, os Dióscuros na cultura grega, Castor e Polux na mitologia greco-romana, os gêmeos míticos Rômulo e Remo que fundaram a cidade de Roma, Cosme e Damião na tradição cristã, Ibeji na tradição africana dos ioruba, etc. Este dado antropológico é também um elemento de confluência na origem desta celebração. O desenvolvimento e a popularização deste costume no Brasil é um exemplo interessante de que uma festa também pode ser um espaço de confluência e diálogo inter-religioso. Muitas das críticas que se fazem a esta festa são resultado apenas da falta de conhecimento da nossa cultura.