Eleições Municipais
Já conhecemos os nomes acolhidos pelos partidos para compor a lista de candidatos entre os quais poderemos optar em outubro, à exclusão de quaisquer outros. Completaram as siglas assim, o princípio fundamental da Constituição: “Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos (…)” escrevendo “mas só dentre os que indicarem os partidos”.
Aproveitemos estas semanas durante as quais os cidadãos são tratados a pão-de-ló e chamados de queridos eleitores, pois já, já voltaremos a ser vistos como estorvos.
A idade avançada, se confere uma isenção bem-vinda, traz consigo um baita defeito: o acúmulo das campanhas vividas nos impede de acreditar sem mais aquela nas novas promessas que nos serão feitas. Ah! se palavra de candidato, falada ou mesmo escrita, valesse o que dela se esperava! Se assim fosse, Petrópolis contaria com um Instituto Koeler, acolhido de pedra e cal por escrito e renegado a seguir sem maiores explicações; e tantas promessas mais que ouvimos e lemos, e que trazem à lembrança a canção juvenil: “o anel que tu me destes, era vidro e se quebrou…”. Esta dupla personalidade do ser político surpreende e cansa: falam do respeito à Lei Orgânica com devoção para, mais adiante, esclarecer que os dispositivos da mesma podem ser imperativos aqui e dispensáveis acolá; os tributos previstos são obrigatórios, mas a exigência da eleição do ouvidor do povo deve ser entendida como uma vaga sugestão que pode ser substituída, com vantagens, pela TV filmando vereadores. O princípio da publicidade, detalhado pela LOM, é outro que deve ser visto com moderação; quem quiser que vá até a Câmara ler o texto integral do ato na ponta do balcão… E lá vai o cidadão no seu movimento pendular entre a nobreza de seu fugaz status de eleitor e a inconveniência perene de ser estorvo, ouvindo ali o canto da sereia que se calará na volta à rotina.
O ciclo recomeça a cada quatro anos com novas Convenções, fechadas nas sedes ou cheias de cabos e sargentos eleitorais em algum clube, enfeitadas por faixas e sonorizadas por bumbos e cornetas, onde se votarão as chapas aprovadas por dirigentes do Rio ou Brasília, sem direito à ressalva ou sugestão diversa.
E teremos a campanha, os abraços nos eleitores e beijos nos nenéns de colo, a anotação e entrega a um assessor de mil pedidos e sugestões que merecerão o sumiço logo ali depois da esquina. Os candidatos suspirarão pela bendita hora em que, já mandatários, representantes “do povo”, poderão devolver os eleitores para o seu lugar de estorvos descartáveis. Aí, será hora do bem-bom, e que não os venham perturbar com as promessas de campanha que a conjuntura tornou inviáveis. Razoável, não?
Seria ótimo de contássemos com uns cinco vereadores desejosos de marcar a sua passagem pela Câmara com um mandato de verdade, concedido pelo povo de Petrópolis.
Eu nem mais ouso sonhar com um candidato a Prefeito que prometa criar o Instituto Koeler, chave para o futuro de Petrópolis. Vá, em verdade reconheço que minto: sonho, sim. Um dia, quem prometer há de cumprir, e desfrutar será menos importante que servir.