Incêndio destruiu quase 14% da área total da Rebio Araras
Um levantamento feito pela Reserva Biológica Estadual de Araras (Rebio Araras) estima que o incêndio florestal que atingiu a região destruiu cerca de 14% da área total de vegetação da reserva. Nos 43 anos de sua criação, esse foi um dos maiores incêndios florestais ocorridos na unidade. Foram três dias de operação de combate ao incêndio, envolvendo quase 100 pessoas, para frear uma queimada criminosa que destruiu 673 hectares de vegetação.
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A chefe da Rebio Araras, Isabela Bernardes, disse que os danos causados pela queimada são imensuráveis. “A natureza vai levar décadas para se recuperar. O incêndio traz risco para a área no verão, que fica suscetível a escorregamentos, porque o solo está exposto, não tem mais raízes para segurar a terra. No inverno a consequência é a escassez de água, o curso hídrico foi afetado. É um efeito cascata, um dano difícil de mensurar”, disse.
O fogo atingiu cerca de 84% da vegetação dentro da área protegida e 16% de área de amortecimento. A extensão da queimada equivale a 563 campos de futebol dentro da reserva e 110 campos de futebol na área de amortecimento. Em 2014, parte dessa área já tinha sofrido com um incêndio, mas em menor proporção.
“A área vinha se regenerando, todo o esforço da natureza foi perdido. Pode chegar em um ponto em que a natureza não vai conseguir se regenerar, só vai conseguir com a ação intervenção humana. Foi lamentável, uma tragédia”, disse a chefe da Reserva.
Em abril deste ano, a Rebio Araras registrou pela primeira vez o aparecimento de uma onça parda e pouco tempo depois um gato do mato pequeno, espécie ameaçada de extinção. O aparecimento dos animais foi comemorado pela Rebio, segundo Isabela, este era um indicativo de que o ecossistema da reserva esta equilibrado, mas com o incêndio, já não se sabe mais.
As equipes não viram animais mortos durante o combate, mas a chefe da Rebio Araras acredita que eles podem ter sido carbonizados ou os corpos podem ter ficado sob a fuligem. “Ao longo dos dias os combatentes relataram terem visto cerca de 20 gaviões sobrevoando a área. Quando isso acontece é porque estão na espreita para a caça. O que pode indicar que teriam avistado animais fugindo ou procurando abrigo por causa do incêndio. É um indicativo de muita fauna afetada”, disse.
Embora não fosse mata fechada, o fogo se alastrou por uma área muito inclinada e de difícil acesso. As equipes chegaram nestes locais transportados pela aeronave do Corpo de Bombeiros e outras caminharam até 1h30 até chegar ao foco das chamas.
“Tenho que destacar o trabalho louvável dos combatentes. O fogo na proporção que chegou, sem eles, não teria sido contido. A chuva não chegou na área afetada, foram eles que combateram. Na quarta-feira estava chovendo em outros pontos da cidade, mas lá tinha sol e ventava muito, muitos pontos quentes. Tinha risco do fogo sair do controle e eles foram incansáveis, foram vitoriosos, não tenho palavras para agradecer”, disse Isabela.
Agora, o trabalho da Rebio é o de monitorar, fiscalizar e isolar a reserva para que a natureza consiga se regenerar. A Rebio mantém um trabalho de educação ambiental e preservação junto a comunidade no entorno da reserva, para justamente conscientizar a população sobre os riscos e a proibição das queimadas.
Na operação integraram equipes do 15º Grupamento Bombeiro Militar, técnicos e guarda-parques do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), brigadistas do ICMBio, Ibama, Defesa Civil e Guarda Civil Municipal. Foram três dias de operação, com quase 20 viaturas, uma aeronave do Corpo de Bombeiros e apoio de drones.
O responsável pelo incêndio está preso, foi autuado por tentativa de estelionato e por crime de incêndio, e responderá também administrativamente perante o Inea por infração ambiental com base na Lei Estadual 3467/2000, cuja pena é o pagamento de multa e a recuperação da área degradada.