• O zero na redação

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  • 25/07/2020 00:01

    Neste período que antecede às provas do ENEM, muitos alunos ficam preocupados com a prova de Redação que vale, sozinha, mil pontos. É, sem dúvida, o grande diferencial classificatório. O problema é a tal preocupação ficar restrita à prova, quando ela deveria ser constante na vida de todos nós.

    A avaliação pela Redação tem dois objetivos básicos: compreensão da proposta – habilidade ou capacidade de leitura (compreensão de texto); e a capacidade de argumentar, isto é, de expor com lógica o pensamento, defendendo um ponto de vista – habilidade de produção de um texto autoral e organização do pensamento. Avaliadas também nos exames internacionais.

    Por que eu trouxe este assunto à tona? Simples. Fiquei com vergonha por empatia. Assisti a uma live na semana que passou. O Tema foi apresentado pelo mediador. Os convidados eram professores. Dois tinham o hábito da escrita. O terceiro era coordenador de Curso de Formação de Professores, nível médio.

    O primeiro a se apresentar falou sobre sua dificuldade de redigir textos desde a escola, agravado na universidade com a chegada do Trabalho de Conclusão de Curso, depois com a redação científica na Pós e assim por diante. Contou ter superado à custa de muito esforço e exaustivos erros e repetições. Em seguida, falou a professora de Método de Pesquisa e de Redação Científica narrando suas experiências com o ensino de redação nas séries iniciais como forma de preparar o aluno para a redação técnica/científica. Tudo dentro do roteiro solicitado pelo organizador/ mediador.

    O terceiro participante deveria abordar a formação dos professores das séries iniciais. Deveria demonstrar como eles (os futuros professores) são preparados para trabalhar a organização do pensamento e da escrita para evitar dificuldades futuras. Você falou? Você explicou? Você expos como os professores são preparados para ensinar a redação acadêmica desde as séries iniciais?

    Sinceramente, eu morri de vontade de estar lá para falar. A figura simplesmente abordou outro tema que mal tangenciava a ideia central do debate e o objetivo principal de sua presença ali. Em nenhum segundo mencionou o curso de formação de professores o qual estava representando como coordenador. Bem que o mediador tentou trazê-lo de volta ao tema. Sem sucesso!

    Confesso que senti vergonha. Sou professora, todos vocês já o sabem. Eu me orgulho do que sou, mas não gosto de ver colegas “pagando mico”, dando vexame.

    Fugir ao tema proposto em uma redação, debate, palestra, ou perder o fio da meada é motivo para receber nota zero. É como se eu estivesse falando sobre a conjugação de verbos irregulares e no meio do assunto alguém entrasse com uma famosa receita de miojo. Deu dó! Quais ventos sopraram naquela cabeça? Que descontrole emocional se abateu sobre aquela pessoa? Será que deu branco? Se não havia o que falar sobre o tema, por que aceitara o convite? Se houvesse uma nota para aquele momento, esta nota seria o zero.

    Esse erro comum, fugir ao tema, é um dos itens que mais provocam o zero na redação de qualquer concurso público. A escala resumida da avaliação de redação começa pela tipologia do texto (dissertação, narração, descrição), esse é o primeiro zero; em seguida, a capacidade de abordar e desenvolver o tema; constatado esses dois aspectos e, não zerando, analisa-se a coerência (organização lógica entre as ideias e a argumentação) e a coesão textual (uso dos conectores dessas ideias, clareza e objetividade). Por fim, o avaliador observará questões relacionadas à concordância, à gramática e à ortografia.

    A preocupação primordial é compreender o que é dito para, então, organizar o pensamento e falar ou escrever sobre o assunto proposto, como um diálogo com seu interlocutor. Não pode virar conversa de dar em doido. Interpretar é assunto para outro artigo.

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