Tempo (não) é dinheiro
O famoso dicionário francês Petit Larousse registra uma série de ditos e provérbios de diversos povos. Dentre eles, tem lá o famoso “Time is money” (“Tempo é dinheiro”) dos ingleses. E faz um comentário que embute boa dose de sabedoria: “Provérbio inglês, máxima de um povo prático, que sabe que o tempo bem empregado dá lucro”. E lucro em inglês deriva do latim, proficere, cujo significado é ser eficiente. Ou seja, lucrar na língua de Shakespeare significa fazer melhor, mais rápido e a custo menor. Nada a ver em passar a perna no próximo para se dar bem. Aquela ideia de lucro que vem de logro.
Definitivamente, não compartilhamos dessa visão prática do mundo com os ingleses, salvo as honrosas exceções de sempre. Poderíamos tomar alguns exemplos para demonstrar nosso caso de amor com a perda de tempo.
Um primeiro exemplo foi a cláusula de barreira, ou de desempenho, como tem sido chamada ultimamente. Partidos que não conseguissem atingir certo percentual mínimo de votos (5%) em pelo menos 15 estados não teriam representação política. Isso não impediria que continuassem a funcionar como agremiações políticas até atingirem o referido percentual para então empossar seus representantes. Partidos sérios, com programas e nitidez ideológica, iriam lutar por 10, 15 ou até 20 anos para chegar lá. A turma do balcão de negócios, que só constitui partidos para se beneficiar do fundo partidário, dificilmente encararia esse desafio. E a Nação ficaria agradecida sem ter a burra assaltada.
Pois bem, às vésperas de ser implantada a então chamada cláusula de barreira, o STF resolve dar um cavalo de pau no que já era tido como certo e conclui, “brilhantemente”, que a referida cláusula era inconstitucional. Bom lembrar que, na época, havia um quase consenso entre analistas e cientistas políticos de que a redução de legendas com representação era benéfica para o País. E ainda o apoio da população. Não é que, só agora, os preclaros ministros estão se dando conta do erro cometido e veem com bons olhos a reintrodução da cláusula de desempenho? E pelo jeito não estão nem aí pelo tempo perdido e custos daí advindos de dinheiro público jogado na fogueira da corrupção. Exemplificando: FHC montou sua base de apoio parlamentar com quatro par-tidos; Lula, com oito; e Dilma precisou de 12. Os conchavos e negociatas daí resultantes são óbvios. E encheram os bolsos das partes interessadas…
Outro triste exemplo são as delongas do processo de impeachment da sra. Dilma Rousseff. As estrofes do samba do crioulo doido são as seguintes: não se julgam crimes de responsabilidade cometidos no mandato anterior /o direito de defesa deve ir além de qualquer prazo razoável / se a votação final do impedimento pode ir para o final de agosto, por que fazê-la antes da Olimpía-da? (efeito Lew(i)andowski) / “eu, Dilma, quero acabar logo com essa agonia, mas não renuncio”. Quer dizer, tudo leva a crer que tempo no Patropi, definitivamente, não é dinheiro, ainda mais ser for de quem paga imposto. Nesse meio tempo, investimentos cruciais para a retomada do crescimento ficam em compasso de espera do término da interinidade do presidente Temer.
Se houve uma reviravolta espetacular em toda essa lerdeza foi a perda de paciência da sociedade civil, que foi às ruas exigir o impeachment. Sem essa reação popular, ministros do STF e políticos, provavelmente, ainda esta-riam discutindo se teria havido crime de responsabilidade que justificasse o impeachment. Cabe aqui, com propriedade, o dito célebre do ilustre San Thiago Dantas: “No Brasil, o povo, enquanto povo, é melhor do que as elites, enquanto elites”. Ele só se esqueceu de acrescentar a palavra republicanas após elites. Afinal, até 1889, teria sido possível defenestrar a Dilma, em 24 horas, com um simples voto de desconfiança no regime parlamentarista então vigente. Infelizmente, como aqui no Patropi vigora a desconfiança dos representados em seus representantes, a perda de tempo é inerente ao sistema. Mas tem jeito.