Cerca de 40 mil pessoas deixaram de usar o sistema de transporte coletivo durante a pandemia
A pandemia do Covid-19 trouxe novos hábitos para a população, entre eles a substituição do transporte coletivo por outros meios de locomoção. Saíram os ônibus e entraram as bicicletas, motocicletas, carros e veículos que fazem o transporte por aplicativo. De acordo com dados da Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans), são cerca de 40 mil passageiros a menos no transporte público. Já o Sindicato das Empresas de Transporte (Setranspetro) diz que as empresas fizeram 1,417 milhões de transações a menos (cada vez que a roleta do ônibus roda) entre março e junho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2019.
Segundo a CPTrans, a previsão com a retomada das atividades econômicas a partir de junho, era que 100 mil pessoas passassem a utilizar o sistema público de transporte. No entanto, apenas 60 mil passageiros voltaram a usar os ônibus para ir trabalhar ou sair de casa. De acordo com especialistas, as outras 40 mil pessoas ou ainda estão trabalhando em home office ou substituíram os coletivos por um transporte mais atrativo e seguro.
É o caso do jornalista programador Demétrio do Carmo, de 45 anos. A empresa em que trabalha adotou o sistema remoto (home office). Com isso, as horas perdidas dentro do ônibus no trajeto entre a casa (no Caxambu) e o escritório em Nogueira, foram substituídas pelo trabalho em casa. “Não preciso mais me deslocar, ainda mais com menos ônibus em circulação. Estou economizando com passagens e alimentação; além de ganhar mais tempo porque não fico mais horas no trânsito”, comentou o jornalista.
Já o radialista e fotógrafo, Alan Pacheco trocou o ônibus pela bicicleta para ir trabalhar. A bike já era um meio de locomoção antes da pandemia, mas o medo da contaminação pelo vírus fez com que muitas pessoas passassem a utilizar a “magrela” para se deslocar. “Devido à pandemia e o transporte público lotado, optei em ir bike para o trabalho, assim ajudo a evitar aglomerações e até mesmo um possível contágio de Covid-19″, disse Alan.
Para o médico infectologista Marco Lissere, os ônibus do transporte público representam um alto risco de contágio devido a falta de distanciamento. “É difícil ter segurança em um ambiente onde não há distanciamento, por isso acredito que as pessoas tenham medo e fiquem receosas. O ideal seria haver o espaçamento entre os bancos e nos corredores. Sem isso o risco é alto”, alertou o especialista. “A recomendação para quem precisa usar o transporte público é usar máscara e passar o álcool gel nas mãos antes e depois de entrar no ônibus”, disse.
A substituição do transporte público por outros modais já vinha acontecendo antes da pandemia, mas, agora, devido ao medo de aglomerações, esses meios alternativos vieram para ficar. “As pessoas estão cada dia mais usando carro e moto e isso significa mais congestionamento, poluição e acidentes. Isso também faz com que a tarifa fique cada vez mais alta, porque em cidades como Petrópolis, quem financia o transporte público é o passageiro. Quanto menos pessoas andando de ônibus, mais cara a tarifa”, explicou o pesquisador do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, Vinicius Henter.
Ele explica que, neste momento, a tarefa principal do poder público é aumentar a produtividade do sistema, fazendo com que ônibus façam mais por um custo menor. “É importante que os ônibus não fiquem presos nos congestionamentos, por isso é preciso criar faixas exclusivas para eles”, comentou o pesquisador.
Vinicius ressalta ainda que as cidades têm que ser cada mais atraentes para o transporte público e modelos sustentáveis, como as bicicletas e para quem anda a pé, por exemplo. “A implantação de ciclovias e ciclofaixas, calçadas mais largas e acessíveis para os pedestres, são essenciais. A gente tem que pensar em quem anda a pé, de ônibus e de bike, só que nos acostumados a ver o contrário, em pensar em mobilidade para quem está no carro. O problema é que isso não dá certo”, frisou o pesquisador.
Segundo o Setranspetro, o sistema está transportando apenas 45% da demanda de passageiros, com custo operacional que representa 63% do anterior, fazendo com que as empresas tenham que suportar “prejuízos milionários”. O sindicato acredita que não há previsão para o retorno da demanda registrada antes da pandemia e entende que existe uma tendência irreversível de queda no número de passageiros.
“É absolutamente necessária a discussão de políticas públicas para ajuda emergencial e adoção de medidas permanentes, como por exemplo, isenção de tributos, subsídio para as gratuidades e integração, exclusividade para o pagamento da tarifa por meio eletrônico, criação de corredores exclusivos para a eficiência dos ônibus, criação do fundo municipal dos transportes e permanência de linhas compartilhadas”, disse, em nota, o sindicato.
De acordo com o Setranspetro, o prejuízo financeiro médio mensal neste período de pandemia é de R$ 6.235.949,00, o que, no acumulado, nestes quatro meses de pandemia, chega a quase R$ 25 milhões. Em nota, o sindicato ressaltou ainda que “mesmo em uma situação de desequilíbrio econômico e financeiro, as empresas de ônibus no município continuam atendendo a população. “A operação segue com oferta superior à demanda, seguindo todos os decretos, regulamentações e recomendações municipais estabelecidas pelo Departamento de Vigilância em Saúde, reforçando a higienização e respeitando a ocupação máxima de cada veículo. Entretanto, não é mais possível adiar a discussão a respeito do transporte que, até o momento, conseguiu manter o emprego dos colaboradores”.
Em nota, a CPTrans informou que “estuda algumas ações para otimizar o sistema, com objetivo de aumentar a mobilidade e a fluidez do modal de transporte coletivo, como a criação de corredores exclusivos”.