O preço da liberdade
O tempo carrega consigo lições de vida. É preciso aprender com o passado para evitar os erros no presente. E assim, não padecer no futuro. Geralmente quem afirma que a história se repete fundamenta-se em erros cíclicos. Ver o ontem nos passos do hoje realmente entristece, porque o amanhã torna-se previsível, pincipalmente quando o trágico acena pelas vias da intransigência. Sem um contínuo processo de aprendizagem, as chances das repetições dos erros são maiores, porque estes refletem a cristalização da ignorância. Não há mudança sem educação.
A natureza humana é falha, por isso que o exercício da aprendizagem deve ser constante, até mesmo por uma questão de aprimoramento e consolidação de habilidades. Diante desse fato, a humildade é imprescindível para quem pretende tornar-se um “eterno aprendiz”.
Viver, aprender, edificar-se. Não podemos perder a oportunidade de crescer em virtudes, uma vez que, por esse caminho, sedimenta-se o caráter na formação de um perfil ético.
A desestruturação política que desencadeia as crises geradas na gestão pública no Brasil tem as suas raízes fincadas na conduta ética. Basta olhar para o Rio de Janeiro e ver os atos ilícitos, há anos, praticados na administração do Estado.
Não é a ocasião que faz o ladrão. Há inúmeras pessoas que já tiveram oportunidades de roubar, mas preferiram zelar pela honestidade, mantendo a consciência e as mãos limpas, merecedoras da digna confiança. Essa conduta vem da formação de uma índole em que o ser honesto tem um valor imensurável.
Sabemos que muitas pessoas procuram se enfronhar no meio político com o propósito de obter vantagens, além de participar do tráfico de influência. A ascensão social calcada em falcatruas é inconsistente. Quando os ventos da justiça batem, desmorona o castelo de cartas marcadas.
A desmoralização, o constrangimento, as decepções trazem consequências indeléveis. O desmoronamento do falso perfil ético ostentado perante a sociedade reverbera negativamente entre familiares e amigos. O pai, a mãe, o irmão, o filho, toda a família sofre, porque há um julgamento fora dos tribunais. A sociedade tem um senso de justiça e não aceita covardias, nem as fraudes que lesam a população vulnerável.
Pessoas então consideradas íntegras, dignas, com status de autoridades, de repente, são algemadas e levadas para a cadeia por crimes contra o patrimônio público ou porque estavam envolvidas em falcatruas que as enriqueceram ilicitamente. Esse é o momento em que se tem a oportunidade de chegar à conclusão de que o crime não compensa.
Em um presídio por práticas ilícitas, depara-se com a solidão que pode levar a um exame de consciência capaz de expor a dimensão do caminho por onde a vida foi conduzida. Tem-se a chance de refletir: – valeu a pena?…
Honoré de Balzac em “Código dos Homens Honestos”, afirmara: “que horror que é apoderar-se do bem alheio, só o que vem de nós nos pertence, eis a grande astúcia.” Nessa linha de raciocínio, segue a canção de Jorge Ben Jor “Caramba… Galileu da Galileia”: “Disseram que ele não vinha, olha ele aí (…)/ E como já dizia Galileu na Galileia/ malandro que é malandro não bobeia/ se malandro soubesse como é bom ser honesto/ Seria honesto só por malandragem, caramba/ (…) Diziam também que a terra era quadrada/ Mas ficou provada que a terra é redonda, caramba…”
Pendurei as minhas utopias lá na pontinha da minha fé para continuar tendo esperança e não perder o foco de luz que há no fim do túnel. Como cristão, não me dou o direito de ser niilista. Porém, é preciso ter coragem para encarar a distopia neste período pandêmico.
Condenar é mais fácil do que perdoar. Contudo, para mim, o mais difícil é encarar o cinismo da teatralização do fingimento da inocência, tentando esconder a verdade já explicitada em provas. Não atiro pedras. Admiro quem assume os erros e estende a mão à palmatória da justiça. O arrependimento é um ato de reconciliação, amortece o instinto de vingança e busca o perdão. Perdoar é um ato hercúleo. Pedir perdão requer uma força maior, porque é preciso vencer o orgulho.