• Heranças autoritárias, no plural I

  • 30/07/2016 12:00

    Tornou-se lugar comum atribuir à colonização portuguesa o legado autoritário que nos fustiga até hoje. A paternidade seria exclusivamente lusitana ou temos outros atores aos quais também cabem cotas de responsabilidade nesse processo? Teria sido essa herança tão negativa quanto se faz crer, pelo menos até 1889, ano até o qual a influência do colonizador foi mais acentuada em nossas instituições? Aparentemente, nossa situação atual relembra a piada que circulava em Moscou nos estertores da URSS: o comunismo é o caminho mais longo entre o capitalismo e o… capitalismo. Senão, vejamos.

    Antes, um pouco de história de Portugal. Ajudará a ver sob outra luz nossas raízes. O surgimento de Portugal como Nação independente, com identi-dade e língua próprias, custou imensos sacrifícios. As três famosas batalhas de Atoleiros, Aljubarrota e Valverde, sob o comando de Dom Nuno Álvares Pereira, o Condestável, merecem nossa reflexão. Sempre numa desproporção de três a cinco espanhóis contra um português, os lusitanos venceram e consolidaram sua independência diante de Castela, que já havia absorvido outros sete reinos. Portanto, batalhas memoráveis de uma guerra defensiva. Em Atoleiros, a infantaria portuguesa conseguiu vencer a cavalaria pesada espanhola, caso talvez único no mundo. Na batalha de Valverde, quase tida como perdida, encontraram Dom Nuno ajoelhado rezando. Ele sai dali, dizem, com o rosto iluminado, e, milagrosamente, conquista a vitória.

    O contra-argumento poderia ser de que isso ocorreu antes mesmo da descoberta do Brasil, no século XIV, em batalhas entre europeus. A verdade, porém, é que ocorreu aqui também. Pouco se fala hoje das duas batalhas dos Guararapes contra os holandeses. Do mesmo modo, a desproporção era brutal de três holandeses para um dos nossos. Este um incluía brancos, negros e índios que, juntos, derrotamos os holandeses. Em uma dessas batalhas, os holandeses estavam no topo do monte dos Guararapes, em posição estrategicamente vantajosa, e perderam. Depois, as posições se inverteram, e, ainda assim, a vitória foi nossa. Novamente, guerra defensiva. Outros episódios se-melhantes ocorreram na história de Portugal em África e nas Índias, onde a bravura lusitana se impôs, sempre em situações de brutal desvantagem.

    Antes que essa linha de argumentação possa parecer o elogio da violência,  

    é bom lembrar que atos de bravura de tal envergadura, ainda hoje, atraem simpatia. David, que tinha tudo a perder, derrota o gigante Golias. Numa época em que vigorava a lei do tacape, não há por que nos envergonharmos de descender de um povo que conseguiu se firmar quando tinha tudo para ser riscado do mapa. E que, de fato, estava se defendendo. Mais: Henrique Dias, comandante das tropas negras contra os holandeses, foi recebido pelo rei Dom João IV, agraciado com título de nobreza, e conseguiu perpetuar seu regimento negro por autorização régia, história que Lula conta pelo avesso em seu habitual desconhecimento da  história pátria.

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