E agora Dilma?

Ao juiz Sérgio Moro, o marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, confessaram que receberam US$ 4,5 milhões via caixa dois, como pagamento de serviços prestados à campanha de Dilma Rousseff. Tentaram negar, mas foram obrigados a revelar a verdade, após depoimento do lobista Zwi Skornicki, que apresentou provas de depósitos feitos em conta do casal na Suíça, com recursos oriundos de pesados esquemas de corrupção na Petrobras.

Santana também disse ao magistrado que é preciso “rasgar o véu de hipocrisia” que mascara as campanhas no Brasil. Em português claro, ou entra no jogo, submetendo-se ao caixa dois, ou não joga, e deixa de faturar milhões de reais. Admite a prática do crime, mas procura sofismar, ao sustentar que não considera sujo o dinheiro que irrigou as campanhas sem escrituração legal, pois seria fruto de negociação política. Assim, alimenta a esperança de escapar das sanções penais que lhe poderão ser cominadas. Sem nenhum constrangimento, negou que soubesse da origem ilícita das vultosas somas que recebeu do PT ou de terceiros por determinação do partido.

Ambos falaram sobre as razões de terem mentido em declarações prestadas à Polícia Federal a respeito do caixa dois lulopetista. Esconderam os fatos criminosos que prejudicariam Dilma Rousseff, na ocasião já com o impeachment batendo às portas de seu gabinete presidencial. “Eu que ajudei, de certa maneira, a eleição dela, não seria a pessoa que iria destruir a presidente”, observou João Santana, no mesmo sentido do que já havia dito Mônica Moura, protegendo a candidata que os contratara a peso de ouro, numa campanha contaminada pelo mais despudorado estelionato eleitoral.

É incontestável que a hipocrisia marca a ação política no Brasil, a partir do próprio universo de larga dissimulação criado pelos magos da propaganda eleitoral. Na campanha, engana-se o eleitor e plastifica-se o candidato, onde vale tudo menos perder a eleição. Usa-se, sem pejo, de expedientes éticos ou aéticos, morais ou imorais, lícitos ou ilícitos. Tudo é muito falso, vende-se gato por lebre. Promete-se deus e o mundo, acena-se com o paraíso na terra, mesmo tendo-se certeza de que nada será cumprido ou honrado.

A regra é a da enganação política e não há exemplo mais eloquente do que a última campanha de Dilma Rousseff, sob o comando de João Santana. Ela, tatibitate, de expressões confusas, um tormento na formulação do raciocínio mais elementar, distante dos mais modestos padrões de beleza, foi apresentada na tv, no horário eleitoral gratuito, como loquaz, inteligente, competente, sempre muito bem maquiada, uma estampa estética.

Teria que dar no que deu, no naufrágio do governo e na falência da economia. Portanto, inadmissível venha agora João Santana falar em hipocrisia, instrumento maior de seu trabalho. Mesmo depois de eleita, Dilma Rousseff não dispensava os conselhos de seu marqueteiro, e a relação palaciana somente seria interrompida com a prisão de Santana.

Caixa dois é crime, capitulado na legislação, estando ou não sua prática disseminada. A lei existe, vige e  precisa ser aplicada. Todos devem ser punidos. Desde que alcançou o poder federal, sempre algo de malcheiroso e condenável acontece em torno da presidente, envolvendo amigos próximos e assessores diretos. Chegou-se finalmente a João Santana e Mônica Moura, que enganaram o país e falsearam os fatos para não destruir a pupila de Lula. E agora Dilma? paulofigueiredo@uol.com.br