Amigos de mulher que morreu com sintomas da Covid-19 lamentam despedida solitária: ‘ela falou que precisava de um abraço’
“Ela era só qualidades. Tudo o que imaginar de uma pessoa bondosa, carinhosa, palhaça. Fazia a gente rir muito nos bazares da vida”. Assim Magna de Cassia de Mello Martins Souza, de 55 anos, define a amiga Maria das Graças Barroso Espenchidt, que morreu nesta terça-feira (19), aos 70 anos, com sintomas da Covid-19. Maria das Graças trabalhou por quase 10 anos como voluntária na Associação Petropolitana de Pacientes Oncológicos (APPO) e estava internada no Hospital Nossa Senhora Aparecida (antiga Casa Providência). Apesar dos sintomas, ainda não há confirmação da doença pela Vigilância Epidemiológica.
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“Conheci a Graça trabalhando na Rua Teresa. Tínhamos uma amiga em comum, a Olga, que todo mês dava dinheiro para comprar coisas para a APPO. Ela conseguia dinheiro com vários amigos e uma delas era a Graça. Uma vez faltou só a Graça para dar o dinheiro e eu fui buscar pessoalmente na loja onde ela trabalhava. Assim, comecei a sempre pegar o dinheiro diretamente com ela. Depois, ela saiu da loja e foi trabalhar em outro lugar. Foi quando me disse que queria trabalhar contigo. E assim foi, sempre comigo. Conseguia doações para a Páscoa, para o Natal. E assim nos tornamos amigas”, contou Magna, que tem 55 anos e também é voluntária na associação.
O esposo da Graça, falecido há alguns anos, foi paciente da APPO e, depois que ele faleceu, ela se juntou ao grupo para ações voluntárias. Trabalhou na arrecadação de doações nas inúmeras campanhas e, principalmente, no bazar da Associação.
Perdeu o irmão para a doença
No mês passado, Graça perdeu um irmão para a Covid-19. Eles moravam juntos. Alguns dias depois, ela começou a apresentar os sintomas da doença e deu entrada no Pronto Socorro do Alto da Serra. Depois foi transferida para Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Nossa Senhora Aparecida.
Os amigos contaram que nesta terça-feira receberam uma notícia esperançosa, de que ela estava se recuperando, e poderia sair da UTI até sexta-feira, mas nem duas horas depois receberam a notícia de seu falecimento.
“Foi muito triste e muito rápido. Não dá para esquecer a tristeza dela quando perdeu o irmão. Doeu não poder estar lá. No telefone, ela falou que precisava de um abraço”, contou amiga, lamentando não poder se despedir de Graça. “É muito triste perder uma pessoa muito querida e não poder nem ir no enterro”, disse Magna, explicando que Graça foi sepultada na manhã desta quarta-feira, às 10h30, no cemitério do Centro.
“A Graça era uma pessoa incrível e que, com todo o seu amor, abraçou a APPO. Em sua luta contra o COVID-19, nos mostrou que não podemos desistir nunca da vida. Torço para que ela não se torne apenas um número, uma estatística. Temos que fazer de tudo pra evitar e parar essa doença que vem trazendo tanto sofrimento para as pessoas”, disse Rosane Botelho, vice-presidente da APPO.
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