Entre a Ciência e a política

A vida é dádiva suprema, um bem inviolável. Reza a nossa Constituição no artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Defender a vida, portanto, não é crime, nem ato inconstitucional.

A Ciência, do decorrer da história, tem se aprimorado, propiciando ao homem uma longevidade mais saudável. Para que se tenha uma noção desse processo evolutivo, basta dizer que em 1940, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era de apenas 45,5 anos. Segundo dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, a citada expectativa passou a ser de 76,3. Esse foi um dos fatores que contribuiu para a reforma da previdência, alterando assim o cálculo das aposentadorias.

Quando vejo o mundo científico mobilizado no combate ao novo coronavírus, acende uma esperança de que, em breve, estaremos livres dessa pandemia. Temos que reconhecer que se trata de uma guerra sem fronteiras e sem bandeiras ideológicas. Os soldados que estão na linha de frente são os profissionais da saúde. Muitos deles já morreram nesse combate. As famílias enlutadas merecem receber as bandeiras dobradas como as dos soldados que vão para guerra. Esses heróis também merecem monumentos em praça pública. Lutam em defesa da Pátria e com uma logística precária.

No boletim epidemiológico de 13/04 da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, consta que 377 profissionais dessa área que fizeram o exame para saber se foram contaminados tiveram resultados positivos. Dentro da estatística apresentada no referido Estado, um em cada três infectados trabalha em ambiente hospitalar. Portanto, não se pode desconsiderar a opinião desses profissionais que estão com a vida em risco. Defendem o isolamento social neste período em que não há leitos suficientes nos hospitais para atender a todos infectados. Essa medida, que é para evitar o contágio, foi adota em todos os países afetados, porque segue as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), logo não se trata de algo sem fundamento. Claro que isso trouxe sérias complicações para a economia. Contudo, o que se prioriza, no momento, é a vida.

A politização dessa pandemia chega a ser um ato desumano, porque bloqueia as ajudas humanitárias. A decisão do Presidente dos Estados Unidos de suspender o pagamento das contribuições à Organização Mundial da Saúde, no momento em que se tem registrado mais de dois milhões de casos no mundo, revela a crua prepotência alimentada pela ignorância. O momento é impróprio para as exaltações de egos e vaidades. Mas é oportuno para relembrar o que escreveu John Donne:

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”

Hoje os sinos dobram por nós que estamos vulneráveis, com um sentimento de impotência e vendo a estupidez desafiando a Ciência. Mas não perdemos a esperança, o vírus da solidariedade também tem contaminado muitas pessoas, os gestos de carinho estão se multiplicando. O pão tem sido compartilhado. A Ciência há de vencer a ignorância…