O fenômeno dos desigrejados
O artigo publicado por Carlos Fernandes na revista “Cristianismo hoje”, de novembro de 2013, não apenas se apresenta com um título provocante, quanto por um conteúdo altamente questionante. Embora o artigo tenha os olhos voltados para as igrejas evangélicas, mormente de cunho pentecostal, não deixa de apontar em outras direções, também na direção da Igreja Católica. É que este fenômeno de pessoas que, sem perder a fé, se desvinculam de sua igreja, não se restringe a esta ou àquela denominação. É um fenômeno que pode ser considerado como “universal”, embora se manifeste de formas diferentes e seja impulsionado por razões diferentes.
É bem verdade que a incoerência em termos de pertença religiosa não é de hoje. Ela sempre existiu e sempre vai existir, pois, de alguma forma, remete para um dado antropológico: todo ser humano corre o risco de se “cansar” e em consequência passa a buscar outros caminhos. O “cansaço” pode provir da dogmatização de algumas igrejas e religiões, na medida em que se voltam sobre si mesmas e se julgam as únicas detentoras da verdade. Esta dogmatização, há muito criticada em relação à Igreja Católica, hoje se apresenta como uma espécie de refrão sempre de novo retomada por ninguém mesmo do que o Papa Francisco. Dogmatização, centralização, burocratização, fazem parte da conhecida lista dos 15 pecados que o Papa atribui à Cúria Romana. Mas é evidente que a Cúria é apenas a expressão mais nítida do que costuma ser repetido em todas as instâncias.
Mas então o que há de surpreendente no fenômeno do crescente número dos que não perdem a fé, nem deixam suas práticas religiosas, mas se afastam de suas instituições de origem. Como entender a crescente migração de uma Igreja para outra, ou mesmo, da formatação de novos grupos que não querem se identificar com igreja nenhuma? Claro que há razões múltiplas para que este fenômeno ganhe força em nossos dias. Ninguém quer se sentir sozinho diante de Deus, mas também todos somos sujeitos a sentir o peso de certas exigências e parâmetros que nada têm a ver com o Evangelho. É evidente que o grande quadro de fundo aponta para o que se chama de pós modernidade, com todos os adjetivos que se devam acrescentar. Mas ao lado deles não podem ser ignorados outros substantivos que de alguma forma justificam esta debandada das igrejas e instituições.
A pergunta que sobra é o que pode ser feito. Não basta constatar fatos: é preciso, antes de mais nada, interpretá-los e buscar as soluções, que não podem ser padronizadas. Uma coisa é certa, todas as igrejas e instituições ou se defrontam com este fenômeno ou serão devoradas por ele. É um problema sério que deve ser enfrentado com coragem e com a ousadia de buscar novos caminhos. Ou se detectam as causas e se buscam soluções, ou então o crescente número dos desigrejados só vai aumentar.