• Número de casos de coronavírus em Petrópolis pode ser bem maior do que o registrado

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  • 04/04/2020 16:25

    A divulgação de dados sobre o número de atendimentos de pessoas com sintomas de Covid-19 nos pontos de apoio deixa claro um problema: sem a testagem de todos os pacientes, é impossível dizer quantos são, de fato, os casos em Petrópolis. O problema não é exclusivo da cidade – o próprio Ministério da Saúde vem orientando a testagem apenas em casos graves. Isso porque não haveria testes em quantidade suficiente para que todos fizessem o exame e acabaria faltando o kit para os casos em que, de fato, o exame fosse indispensável.

    De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, Petrópolis tem hoje 88 pessoas aguardando resultado do exame para confirmar novo coronavírus, mas mais de 900 procuraram atendimento no ponto de apoio. Segundo a Prefeitura, destes, 624 geraram notificações ao Estado como possíveis casos de Covid-19, com orientação de isolamento domiciliar, mas nem todos tiveram o material coletado para o exame. Os números mostram que somente 141 pacientes fizeram o exame, ou seja, poucos mais de 20% do total notificado. 

    Um morador de Itaipava, de 22 anos, procurou o ponto de apoio do Centro quando surgiram os primeiros sintomas, em 23 de março, mas não pode fazer o teste. “A primeira vez que fui até o ponto de apoio estava com febre, tosse e cansaço. Passaram remédio para a febre e disseram que eu deveria ficar em casa por 14 dias e, se piorasse, deveria voltar. Pedi para fazer o exame, mas negaram. Falaram que apenas idosos e graves estavam autorizados a fazer”, contou o rapaz.

    Ele disse que dois dias depois teve que retornar ao ponto de apoio devido à piora no estado de saúde. “A febre não passava e me sentia cada vez mais cansado. A tosse também não parava. Retornei ao ponto de apoio do Centro e novamente não fizeram o teste. O que me falaram era para eu avisar a todos com quem tive contato que eu estava com sintomas e era para eles observarem se iriam sentir alguma coisa”, contou.

    Ainda com muita tosse, o rapaz disse que desde o primeiro dia em que procurou atendimento médico não recebeu nenhuma visita ou telefonema da Vigilância Sanitária e que está em casa, fazendo o isolamento. “Vi que muitos casos confirmados aqui na cidade não são idosos. Minha prima e amigo que tem idades parecidas com a minha estão com os mesmos sintomas e também não foram testados”, lamentou.

    Para o infectologista Antônio Luiz Gonçalves, o ideal seria fazer a testagem em todos, mas ele ressaltou que os exames são importados e que não há material suficiente para testar toda a população. “Seria o mundo ideal, mas infelizmente não é assim, tão fácil. Por isso as medidas de isolamento social devem ser seguidas, para que as pessoas que não sabem que estão infectadas não transmitam o vírus. O próprio ministro da Saúde falou sobre esse problema da subnotificação e das dificuldades enfrentadas neste sentido”, comentou o especialista.

    Questionamentos sobre a quantidade de kits para a testagem dos pacientes fazem parte do documento enviado à Prefeitura pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Os defensores perguntaram quando os kits de testagem rápida iriam chegar e como estavam sendo usados. Em resposta, o governo municipal disse que dependia do Estado e não sabia quando chegariam.

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    “A importância da testagem de casos é determinada pela necessidade de acompanhamento do grau de propagação do vírus na população. Assim, o governo pode tomar as medidas necessárias para o tratamento e solução de problemas relacionados. É igualmente importante para a verificação e implementação das medidas futuras. Sem testagem estamos navegando sem orientação adequada”, disse o defensor público Leonardo Meriguetti.

    O defensor cita ainda a nota técnica do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS) da PUC do Rio de Janeiro, que fala sobre ausência de política de testagem ampla. O documento ressalta que as estatísticas declaradas pelo governo apresentaram dados parciais e não representa a situação real do progresso da doença.

    Em nota a Prefeitura negou que exista subnotificação dos casos na cidade e ressaltou que a quantidade de testes é suficiente para o atendimento de todos os casos que têm surgido. O governo municipal disse ainda que a Secretaria de Saúde realiza o acompanhamento por meio de telefonemas da vigilância epidemiológica, não apenas de pacientes graves, mas em todos que apresentam os principais sintomas compatíveis com a doença.

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