Jesus e a Morte
No evangelho (Jo 11, 1-45) Jesus se apresenta como o SENHOR DA VIDA. A doença e a morte do amigo Lázaro constituem ótima oportunidade para uma profissão de fé em Jesus Cristo, que se apresenta como a Ressurreição e a Vida. Entre as ressurreições operadas por Cristo, a de Lázaro tem uma importância fundamental, pois se trata de um morto que está no sepulcro há quatro dias. A resposta dada por Jesus àqueles que Lhe anunciam a doença de Lázaro: “Essa doença não leva à morte; é antes para a glória de Deus” (Jo 11,4): A glória de que fala Cristo, diz Santo Agostinho, “não foi um ganho para Jesus, mas proveito para nós. Portanto, diz Jesus que a doença não é de morte, porque aquela morte não era para morte, mas antes em ordem a um milagre, pelo qual os homens cressem em Cristo e evitassem assim a verdadeira morte.” É encantador o diálogo entre Jesus e Marta: “Disse Marta a Jesus: Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas, mesmo assim eu sei que o que pedires a Deus, Ele te concederá. Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressuscitará. Eu sei, disse Marta, que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia! Disse-lhe Jesus: Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais! Crês isto? Disse ela: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo” (Jo 11, 21-27). Segundo Santo Agostinho, o pedido de Marta é um exemplo de oração confiante e de abandono nas mãos do Senhor que sabe melhor que nós o que nos convém. Por isso, “não Lhe disse: Rogo-Te agora que ressuscites meu irmão (…) Somente disse: Sei que tudo podes e fazes tudo o que queres; mas fazê-lo fica ao Teu juízo, não aos meus desejos.” “Eu sou a Ressurreição e a Vida …” (Jo 11, 25). Estamos diante de uma das definições concisas que o Senhor deu de Si mesmo! É a Ressurreição porque com a Sua Vitória sobre a morte é causa da ressurreição de todos os homens. O milagre que vai realizar com Lázaro é um sinal desse poder vivificador de Cristo. Assim, pela fé em Jesus Cristo que foi o primeiro a ressuscitar de entre os mortos, o cristão está seguro de ressuscitar também um dia, como Cristo (1 Cor 15,23; Col. 1,18). Por isso, para quem tem fé a morte não é o fim, mas a passagem para a vida eterna, uma mudança de morada como diz um dos Prefácios da Liturgia dos defuntos: “Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado nos Céus, um corpo imperecível.” “ E Jesus chorou” (Jo 11, 35). Podemos contemplar a profundidade e delicadeza dos sentimentos de Jesus. Se a morte corporal do amigo arranca lágrimas ao Senhor, que não fará a morte espiritual do pecador, causa da sua condenação eterna? Disse Santo Agostinho: “ Cristo chorou: chore também o homem sobre si mesmo. Por que chorou Cristo senão para ensinar o homem a chorar?” Choremos nós também, mas pelos nossos pecados, para que voltemos à vida da graça pela conversão e pelo arrependimento. Não desprezemos as lágrimas do Senhor, que chora por nós, pecadores. Disse São Josemaria Escrivá: “Jesus é teu amigo. – O Amigo. – Com coração de carne, como o teu. – Com olhos de olhar amabilíssimo, que choraram por Lázaro… E, tanto como a Lázaro, te ama a Ti” (Caminho, nº 422). “Meu Deus, eu Te amo, mas… ensina – me a amar!” (Caminho, 423 ).
A Jesus que diz: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que morra, viverá” ( Jo 11, 25-26 ). Eis a verdadeira novidade, que prorrompe e supera qualquer barreira! Cristo abate o muro da morte, n’Ele habita toda a plenitude de Deus, que é Vida, Vida eterna. Por isso, a morte não teve poder sobre Ele; e a ressurreição de Lázaro é sinal do seu domínio pleno sobre a morte física, que diante de Deus é como um sono ( Jo 11,11 ). Mas há outra morte, que custou a Cristo a luta mais dura, inclusive o preço da Cruz: é a morte espiritual, o pecado, que ameaça arruinar a existência de cada homem. Para vencer esta morte, Cristo morreu, e a sua Ressurreição não é o regresso à vida precedente, mas a abertura de uma Realidade nova, uma “nova Terra”, finalmente reunida com o Céu de Deus. Por isso São Paulo escreve: “ Se o Espírito de Deus, que ressuscitou Jesus dos mortos, habita em vós, Aquele que ressuscitou Cristo dos mortos dará a vida também aos vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que habita em vós” ( Rm 8,11 ).
Ao aproximar-se a Páscoa, o relato da ressurreição de Lázaro é uma exortação para que nos libertemos, cada vez mais, do pecado, confiando no poder vivificador de Cristo que quer tornar os homens participantes de Sua própria ressurreição. Santo Agostinho vê na ressurreição de Lázaro uma figura do Sacramento da Penitência (Confissão): como Lázaro do túmulo, “sais tu quando te confessas. Pois, que quer dizer sair senão manifestar-se como vindo de um lugar oculto? Mas para que te confesses, Deus dá um grande grito, chama-te com uma graça extraordinária. E assim como o defunto saiu ainda atado, também o que se vai confessar ainda é réu. Para que fique desatado dos seus pecados disse Senhor aos ministros: Desatai-o e deixai-o andar. Que quer dizer desatai-o e deixai-o andar? O que desligares na terra, será desligado no céu”. Podemos aplicar esse fato à ressurreição espiritual da alma em pecado que recobre a graça. Deus quer a nossa salvação (1 Tm 2,4), portanto, jamais havemos de desanimar no nosso afã e esperança por alcançar essa meta: “Nunca desesperes. Morto e corrompido estava Lázaro: já fede, porque há quatro dias que está enterrado (Jo 11, 3-9), diz Marta a Jesus. “Se ouvires a inspiração de Deus e a seguires (Lázaro vem para fora!), voltarás à Vida” (Caminho, nº 719). Pela fé em Jesus Cristo, Vida e Ressurreição, resolve-se a questão mais fundamental do homem: a vida. Jesus nos garante: “ Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que morra, viverá. Que a Quaresma nos ajude na conversâo ruma à Páscoa! Como discípulos missionários ajudemos os muitos Lázaros que estão no sepulcro, esperando por quem grite: “Lázaro, vem para fora!”
Na realidade, esta página do Evangelho mostra Jesus como verdadeiro Homem e verdadeiro Deus. Em primeiro lugar, o evangelista João insiste sobre a sua amizade com Lázaro e com as irmãs Maria e Marta. Ele ressalta o fato de que “Jesus era muito amigo” deles ( Jo11, 5 ), e por isso quis realizar o grande prodígio. “O nosso amigo Lázaro dorme, mas Eu vou acordá-lo” ( Jo11,11 ) – assim disse aos discípulos, expressando com a metáfora do sono o ponto de vista de Deus sobre a morte física: Deus vê-a precisamente como um sono, do qual nos pode despertar. Jesus demonstrou um poder absoluto em relação a esta morte: vê-se isto, quando restitui a vida ao filho da viúva de Nain ( Lc 7, 11-17 ) e à menina de doze anos ( Mc 5, 35-43 ). Precisamente dela, disse: “A menina não morreu, ela dorme” ( Mc 5, 39 ), atraindo sobre si o escárnio dos presentes. Mas, na verdade é exatamente assim: a morte do corpo é um sono do qual Deus pode acordar-nos em qualquer momento.
Este senhorio sobre a morte não impediu que Jesus sentisse compaixão pela dor da separação. Ao ver Marta e Maria chorando e quantos tinham vindo para as consolar, também Jesus “suspirou profundamente e comoveu-se” ( Jo 11, 33.35 ). O Coração de Cristo é divino-humano: nele, Deus e Homem encontraram-se perfeitamente, sem separação nem confusão. Ele é a imagem, aliás, a Encarnação do Deus que é amor, misericórdia e ternura paterna e materna, do Deus que é Vida. Por isso, declarou solenemente a Marta: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá para sempre” Depois, acrescentou: “Crês nisto?” ( Jo11, 25-26 ). É uma pergunta que Jesus dirige a cada um de nós; uma interrogação que certamente supera, ultrapassa a nossa capacidade de compreender e exige que confiemos n’Ele, como Ele se confiou ao Pai. A resposta de Marta é exemplar: “Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo” ( Jo 11, 27 ). Sim, ó Senhor! Também nós acreditamos, não obstante as nossas dúvidas e as nossas obscuridades; cremos em Ti, porque Tu tens palavras de vida eterna; desejamos acreditar em Ti, que nos infundes uma confiável esperança de vida para além da vida,
Dirijamo-nos à Virgem Maria, que já participa desta Ressurreição, para que nos ajude a dizer com fé: “Sim, ó Senhor, eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus” ( Jo11, 27 ), a descobrir verdadeiramente que Ele é a nossa salvação. Possa a sua intercessão revigorar a nossa fé e a nossa esperança em Jesus, especialmente nos momentos de maior provação e dificuldade.