A vírgula! Ah! A vírgula!
Faz pouco tempo, circulou pelas redes sociais o comentário de uma famosa artista de TV em apoio a outra, que fora escolhida recentemente para um cargo público. Em seguida, surgiram piadas brincando com erro cometido pela estrela na colocação da vírgula. A vírgula, essa ingrata, pode mudar completamente o sentido de uma frase.
As frases que circularam foram as seguintes: “eu como mulher…”, da atriz; “vou ali comer gente”, da piadinha. É claro que a celebridade não quis dizer o que ela, infelizmente, escreveu. Ainda que esse fragmento esteja fora do contexto real, o sentido do registro não foi alterado. Sei que ela pretendia dizer “eu, como (na qualidade de) mulher, (…)”, expressão usada entre vírgulas. Contudo, a ausência da pontuação correta provocou o trágico engano.
Nessa construção equivocada em relação à ausência da vírgula, o uso da palavra “como” significando “na qualidade de” foi acertado. É muito comum ouvirmos frases do tipo “eu, enquanto torcedora do flamengo…” Ora, enquanto é conjunção subordinativa temporal, isto é, expressa tempo. Deve ser utilizada com o sentido de “ao longo de”, “no espaço de tempo de”, “ao mesmo tempo em que”. Por exemplo: “Enquanto isso, na sala da justiça…” Usá-la com sentido diferente é modismo, pedantismo, arrogância e falta de conhecimento da língua materna.
O erro apresentado na piadinha que circulou nas redes sociais brincou com o verbo comer e a palavra gente. O certo seria “vou ali comer, gente”. Uma das regras mais divulgadas é a necessidade de vírgula para separar o vocativo. Este é o modo, a palavra usada para chamar alguém. Por outro lado, muitos autores e jornalistas renomados pecam por separarem o sujeito de quem estão falando do seu predicado.
Encontro nos jornais expressões do tipo: “Maria, produziu o evento de artes mais badalado da cidade”. Para quem não entendeu a regra, nesse caso, ao colocar a vírgula, o redator confundiu o leitor, pois o uso da vírgula deu a entender que ele estava falando com a Maria e não sobre a Maria. Percebeu a diferença? E mais, a frase ficou sem sentido já que não houve concordância com o sujeito.
Você pergunta: “qual o certo?” Se eu falo de alguém devo escrever assim: “Maria produziu o evento…” Caso eu estivesse falando com a pessoa, escreveria deste modo: “Maria, você produziu o evento…” E você continua perguntando: “Por que muita gente erra?” É simples. Na escola, você aprendeu que a vírgula é uma pausa respiratória, bem como os demais sinais de pontuação são usados para determinar a entonação e o ritmo do texto. Até aqui tudo bem.
O detalhe esquecido por muitos é que esse uso (respiratório) serve apenas para a leitura do texto, seja ela silenciosa, seja em voz alta. Ao escrever um texto, eu devo usar a pontuação para organizar as ideias dentro dele, para marcar a minha intencionalidade, para dar clareza e objetividade. A vírgula e os outros sinais devem proporcionar uma boa compreensão da mensagem. O papel não respira e as palavras escritas também não.
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